segunda-feira, junho 23, 2014

MIL VEZES O SILÊNCIO QUE ESSES SEIS CONSELHOS TERRÍVEIS!

            Dos conselhos dizem que, se fossem bons, não seriam de graça. Na verdade, a maioria das pessoas crê que aconselhar, se não fizer bem, mal também não fará. Não é necessariamente verdade isso. Há orientações gratuitas, dadas com a maior das boas intenções (aquelas que enchem o Inferno o chão ao teto, segundo a sabedoria popular), que têm um potencial destrutivo assombroso e ser uma grande furada, piorando a situação que já está ruim. E nem precisa colocar em prática, basta passar a acreditar em certos clichês e frases de impacto (repetidos geração após geração) ditas pelos amigos e conhecidos.



            O principal objetivo de um conselho, obviamente, é ajudar o aconselhado. Mas é mais desafiador dar uma orientação construtiva (que pode funcionar) do que receber um conselho, afirmam especialistas na área de Relações Humanas. O irônico é que, muitas vezes, a “culpa” é do futuro aconselhado, que chega de repente e diz “O que você faria se estivesse no meu lugar?”. Isso coloca a outra pessoa numa situação difícil em que não há tempo para pensar, e a vontade de ajudar supera o bom senso. Aí, entram em cena os clichês, que não são nem um pouco práticos. Ao lidar com uma grande perda, por exemplo, não é agradável ouvir que "o tempo tem poder para curar todos os males". Isso torna terrível o presente, dando a entender que não há nada que se possa fazer para melhorá-lo.
            Um bom conselho precisa ter toques de mediação, realidade, clareza e até possíveis soluções. Allessandra Ferreira, palestrante e coach da AlleaoLado, não acredita que o conselho é o melhor caminho para ajudar o próximo. Ela prefere o uso de uma opinião bem formada, que estimula o outro a chegar à própria resposta. “Antes de opinar faça perguntas e busque entender melhor a história. Muitas vezes as frustrações surgem por falhas na comunicação. A melhor ajuda é acolher e não tentar apontar o que você acha melhor para ela”, garante a profissional.
            “O maior perigo é aconselhar sem conhecer a realidade do outro. Cada um tem uma forma de viver, por isso, é proibido generalizar. Falar frases bonitas e de impacto tem apenas efeito imediato, mas nada construtivo”, diz o executive coach Robson Nasc.

            Segue uma pequena lista de alguns dos piores conselhos que se pode dar a um(a) amigo(a):


1. Várias cabeças pensam melhor do que uma”

Dois é mais do que um somente na matemática, garante o coach Nasc. No ambiente profissional, colocar duas pessoas que não rendem trabalhando juntas pode ser desastroso. O conselho pode ser ainda pior se aplicado na vida pessoal já que, em grupo, muitos depositam confiança no consenso e não consideram as opiniões individuais, que são as mais importantes.
2. Nunca desista dos seus sonhos. Você vai chegar lá!”
Muitos abandonam a racionalidade na hora de aconselhar alguém. Prometer ao outro que todos os sonhos serão realizados é uma armadilha. Se a amiga falhou ao tentar conquistar algo, ela precisa avaliar as reais chances de conseguir antes de tentar de novo. Às vezes, o caminho é investir em outras metas e buscar a felicidade por outros caminhos. “O aconselhado precisa saber qual é a realidade para ele chegar lá. Uma melhor ajuda é sugerir os passos que ela deve seguir para melhorar o futuro”, defende Nasc.
3.Não se preocupe, tudo dá certo no final!”
A frase tem um tom acolhedor, mas pode gerar uma possível decepção. Muitos usam esse conselho quando não sabem o que falar para o outro. Para Alessandra, antes de despertar esperanças no aconselhado, assuma que considera a situação delicada e que não sabe o que fazer.
“Um caminho é pedir um tempo para refletir melhor sobre o problema. Isso irá mostrar que você terá algum cuidado ao colocar a sua opinião”. E por fim, não tenha vergonha de falar que não se sente confortável para aconselhar.
4. "O tempo cura tudo."
Usar esse conselho significa considerar que todas as pessoas lidam com o tempo da mesma forma. E pode ainda prejudicar uma ação mais rápida para resolver o problema ao promover a ideia de que um fator externo – o tempo – guarda todas as respostas e soluções. Muitas vezes, segundo especialistas, a saída está na transformação interna do indivíduo.
5.Chore e coloque a raiva para fora.”
Os sentimentos negativos não escorrem com as lágrimas. Ao extravasar a tristeza e a raiva, a pessoa ativa uma rede de emoções e ações agressivas e não conquista a calma. Gritar, chorar e explodir pode até trazer uma leveza momentânea, mas Nasc garante que a prática só fortalece seus impulsos agressivos. Um copo com água e um respiração profunda valem mais do que este conselho.
6.Busque um novo amor para curar uma desilusão”
Um clássico conselho que o pode levar a um novo desastre amoroso. Depositar as frustrações e esperanças no novo pretendente poderá sentenciar a relação ao fim. Para os especialistas, a melhor ajuda nos casos de desilusão amorosa é indicar ao amigo programas atraentes que não exijam um companheiro amoroso, mas apenas amizades e gente interessante (que pode vir OU NÃO a ser o próximo envolvimento. O importante é não criar expectativas nem colocar o(a)  amigo(a) num período aberto de “caça”).



            Como se vê, muitas vezes vale mais assumir que não tem condições de ajudar com palavras (indicando alguém que possa ou se dispondo a procurar junto com a pessoa uma solução) do que dizer qualquer coisa, achando que foi útil ou simplesmente descarregando a consciência. Ninguém pode saber tudo, estar sempre preparado, nem ser o Oráculo de Delfos, com suas respostas incisivas (para quem soubesse decifrar o que se dizia ali, é claro). Tem horas que apenas estar ao lado, confortando com a presença, abraçando literal ou figuradamente a pessoa, vale mil vezes mais do que “aconselhar”. Afinal, o que é remédio para um pode ser veneno para os demais.

sexta-feira, junho 13, 2014

Só é feliz quem tem um namorado?



         
Ser feliz é mais que encontrar um amor, ser feliz é encontrar a Vida que está na vida que vivemos todo dia. Mário Quintana diz que ‘Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura.Tendo-os na ponta do nariz!’. Ser feliz é antes de tudo reconhecer o que se tem. Por essa razão não se deve permitir ser roubado. Não se deve permitir não ter alegria no que por si só é alegria no mais puro sentido de ser. É preciso olhar para si mesmo e reconhecer o que se tem de bom. Parar de se lamentar. Ordenar a sua própria alma a olhar para o que se tem. Não se permitir viver como se alegria fosse um néctar mágico. Ela pode ser construída na medida em que é reconhecida a vida recebida com suas belezas, dores, cores e amores. Ser feliz é mais do que ter um relacionamento isolado, é a soma de relações que se formam no decorrer da vida. Ser feliz é ser capaz de estar satisfeito como que se tem. O corpo, mesmo imperfeito, ou morrendo, é o que permite transitar nesse imenso mundo. É o que aguenta a alma por vezes saturada de tanta cobrança. Ser feliz é difícil, sim, porque aprendemos que carecemos ter mais do que de fato precisamos. E neste mundo do espetáculo, dos ídolos, do show, aprendemos que o que é cotidiano é sem graça, é triste. Triste engano no qual caímos. Perdemos a vida que se faz todo dia. 

quarta-feira, junho 04, 2014


 O mito do príncipe encantado ainda sobrevive?


  Certo dia, fui visitar uma senhora com uma amiga e seu avô. A visita coincidiu com o primeiro  aniversário da morte do marido da nossa anfitriã. Ela tinha sido casada por 65 anos. Iniciando os últimos 20 anos do casamento, seu marido adoeceu. Ela cuidou dele. E o que me impressionou é que sua fala era de saudade. Não de alívio por ficar livre de ter que cuidar de um doente. Havia em seus olhos azuis uma dor, que ela mesma definiu como infinita. A lembrança do seu amado era certamente a melhor que ela tinha. Então, resignada, agradecia a Deus por ter tido aquele homem em sua vida. Minha amiga, então, me disse: “É possível um relacionamento dar certo”.
Sim, é possível.    

Mas será que estamos dispostos a investir em uma relação amorosa?
 
O mito do príncipe encantado não está mais na moda entre as mulheres, porém desconfio que elas continuem acreditando nele. Falando numa linguagem psicanalítica, trazem esse mito no inconsciente. 

As mulheres, hoje em dia, querem homens “estudados” (com formação acadêmica), sarados (de preferência com a barriga “tanquinho”), que tenham dinheiro para pagar as contas (um grupo pequeno concorda em dividir, embora praticamente todo nosso discurso seja feminista), que sejam empreendedores, parceiros na cozinha, na arrumação da casa, que sexualmente tenham desempenho cem por cento, que sejam amigos, companheiros, cúmplices e, sobretudo, que sejam capazes que aguentar a TPM (Tendência Para Matar? ou Manipular?)

Você, mulher moderna, espera esse homem. 
Quem não espera?

Mas a vida é feita de realidade.

E, de acordo com Fernando Pessoa, “a realidade é sempre mais ou menos”. Aquela senhora que viveu 65 anos em um relacionamento se deu conta da realidade. E a realidade é que vamos envelhecendo, o mercado não tem espaço para todos, a política econômica afeta nossa vida, a barriga cresce, a celulite aparece, o pinto cai. 

Dizem que depois dos quarenta a vida começa. Eu me pergunto: começa para o que e para quem? O corpo já demonstra sinais do tempo que se impõe tanto quanto a realidade. Dores que nunca sentíamos passamos a sentir, as rugas começam a aparecer. E as mulheres em nossa cultura que o digam, enquanto os homens são mais charmosos aos 50, a sensação que tenho é que as mulheres já estão com suas datas de validade vencidas (meu irmão mais novo sempre me lembra isso, será por quê? Faltam ainda 7 anos para eu chegar aos 50). Você também tem essa impressão?

Mas a realidade é que se impõe. E o príncipe encantado daquela senhora tinha suas limitações. Durante vinte anos ele necessitou ser cuidado. 
De verdade, quem hoje em sã consciência deseja viver uma história de amor assim?

Achamos linda essa história e tantas outras, até suspiramos ao ouvi-las, mas o homem que queremos tem que ter tantas qualidades...e, como diz uma amiga, deveria ter como montar esse homem. O meu ficaria com a inteligência do Leandro Karnal (Historiador, Doutor formado na USP), com a estabilidade de um funcionário público com um salário acima de 10.000 reais, e o corpo do Henry Cavill. E o seu?


Deixa eu voltar para a realidade. 


As pessoas são pessoas. O que quer dizer que nada pode ser perfeito. As pessoas sofrem dores físicas e emocionais, envelhecem, ficam desempregadas.
 A realidade é que lidar com gente é sofrer de alguma maneira; mas, mais do que isso, con-viver com gente é sofrer, com certeza. Talvez por isso escutemos tanto que é melhor cuidar de cães, gatos etc. Com o que eu, enquanto psicóloga, discordo completamente.

Por isso, eis a questão: Você quer mesmo um relacionamento?

 E mais: nesses dias em que o individualismo triunfa, quem quer e quem pode investir em um amor que dure a vida inteira?
Acreditamos que a vida sem compromisso é boa. Por vezes, pessoas casadas suspiram ao ver os solteiros com sua possibilidade de ir e vir; por vezes, os solteiros suspiram por alguém a quem se prender. Eterna insatisfação.

Entretanto, a verdade é que, para construir qualquer relacionamento, é necessário investimento. Significa ajustar agendas, gastar tempo em conhecer o outro, sua família, seus amigos, seu mundo, significa encontrar o caminho da flexibilidade, que não é fazer tudo o que o outro quer, mas é fazer também o que o outro quer; significa centrar-se no que a pessoa tem de valor, não desconsiderando suas dificuldades, sejam elas quais forem, mas olhando-a como pessoa, que como você e eu sofre as dores humanas. E pessoas são sempre problemáticas, em alguma área sempre vão precisar de reforma (Freud já dizia “todos são neuróticos”). Investimento significa abrir mão da idealização para a realidade. Significa ver o outro em sua necessidade. 

Relacionar-se é desenvolver a capacidade de se dar ao outro.

Então, esse papo de que não é necessário deixar de ser você por causa do outro guarda certos limites. Devemos guardar nossa essência e não negociá-la jamais, mas para construir uma história de amor é preciso sacrifício.
Por essas e outras, afirmo: relacionamento dá trabalho. É isso mesmo que você quer?





segunda-feira, junho 02, 2014



PERFECCIONISMO E A ESCOLHA DO PARCEIRO


Hoje quero compartilhar com você um um pouco sobre um dos vilões dos relacionamentos. 
O perfeccionismo. 
Vale considerar que não é apenas das relações amorosas. É vilão da vida, porque é capaz de roubar a tão gostosa alegria.

O perfeccionismo é aquela expectativa de que tudo tem que ser perfeito. Nenhum detalhe, por mais insignificante que seja, pode dar errado. Quem o possui se cobra o tempo todo. Não relaxa nunca. A musculatura da região dos seus ombros e pescoço está sempre tensa; afinal de contas, tenta carregar o mundo em suas costas.



O perfeccionismo é um desejo exacerbado por controle. A pessoa que o possui deseja controlar tudo e de forma tão precisa quanto os ponteiros de um relógio que trabalha bem.

Quem é perfeccionista acredita que para ser aceito tem que fazer tudo certo. Por essa razão, sofre muita ansiedade e angústia, podendo até desenvolver depressão, uma vez que a vida não pode o tempo todo estar com os ponteiros certos.

O perfeccionista não viverá no presente a possibilidade de ser feliz com o que tem, ele está no futuro, seu olhar é para sempre melhor, nada é suficiente, não é bom, nada será completo para ele. Sempre faltará alguma coisa.

O perfeccionista, na verdade, tem um problema sério com a realidade; afinal, quem não consegue avaliar que a vida não pode ser controlada, é porque desenvolveu uma visão deturpada de si mesmo e, consequentemente, da vida. E a realidade ignora e atropela quem a recusa. Ela se impõe de qualquer jeito.

Os teóricos da psicologia afirmam que perfeccionismo é baixa estima. Autoestima às avessas. Os dotados de baixa estima têm uma postura interna contra si mesmos. Isso é perfeitamente perceptível nos perfeccionistas, que não se permitem viver bem, ainda que a vida lhes tenha dado muitas coisas boas. Vive num inferno particular, onde se pune o tempo todo.

Agora, você imagina o que esse infeliz perfeccionismo pode fazer com uma pessoa, em se tratando de relacionamento amoroso?

Se o perfeccionista não tem clareza da realidade e ainda espera o melhor em tudo, quem o satisfará? Quem corresponderá a um padrão criado no mundo da fantasia, onde a realidade não é vista?

O perfeccionista é realmente uma pessoa intragável. Ele tem uma falsa autoimagem. Sofre da síndrome do primeiro lugar, e vive a ilusão de que ocupa um lugar onde nunca esteve.  Acredita ser melhor do que os outros, acima da média, e olha com desprezo (ainda que com os olhos internos) aqueles que não cabem em sua fôrma. Fôrma que não é terrena, acho que é de Marte, e só não tenho certeza porque ainda não fui lá.

Quando encontram um parceiro, logo desanimam. Diz do parceiro encontrado, ele é uma pessoa tão boa, mas (sempre o ''mas'') poderia ter a beleza de Brad Pitt, o dinheiro do sheik dos emirados árabes, a inteligência dos doutores da academia... e tantas outras coisas que só o perfeccionista fantasia.

Desculpem-me o exagero, mas o perfeccionismo é real, quem o tem certamente perderá a vida. Não será capaz de reconhecer as oportunidades quando elas chegarem, e as estragará com a sua régua do impossível. Não poderá ver a beleza de quem está perto. Não saberá quem é, porque está envolvido em ser quem e o que não é.

Sim, devemos ser exigentes na escolha do parceiro, é claro que devemos ter parâmetros para decidir sobre uma área tão importante. O primeiro texto desta série sobre relacionamento fala sobre questões para serem consideradas, mas, se a exigência for fruto do perfeccionismo, revista-se de muito cuidado, você poderá está assinando, no que compete aos relacionamentos, o atestado de óbito da sua felicidade.


Por isso, mais uma vez eu insisto: busque ajuda, se não conseguir se desvencilhar desse mal sozinho. A psicoterapia poderá ser um caminho.

sexta-feira, maio 30, 2014

Qual é o segredo para encontrar um parceiro?

Pergunta difícil. Tenho percebido muita gente reclamando do “atual mercado da paquera”.

As pessoas dizem que existem muitas mulheres para poucos homens e, se viver numa cidade como Goiânia, minha terra natal, onde encontrar mulher bonita é coisa comum, a concorrência fica ainda mais “desleal”.

Os homens não querem nada sério, dizem as mulheres; estranhamente, os homens dizem o mesmo delas. Paradoxo do nosso tempo?

Outro comentário comum é que as mulheres estão “fáceis demais” e que os homens, por essa razão, estão ficando cada vez mais desinteressados do sexo feminino, e que muitos estão procurando outras formas de se relacionar. Será?

Lembrei-me, enquanto escrevia, de uma colega que era sedutora (no bom sentido) e atrair os homens não era coisa complicada para ela. É claro, ela provocava certa inveja, as colegas diziam “mas como? Ela é gorda!” (na verdade, era mesmo, até obesa). Entretanto, ela tinha uma coisa que é mercadoria escassa nestes nossos dias: a tal autoestima.

A autoestima é aquela postura interna, que temos em favor de nós mesmos, é aquela 'certeza' de que somos bonitos ou inteligentes, ou os dois juntos, ainda que não sejamos o modelo imposto pela cultura, é aquela alegria de saber quem somos, o que queremos. É a certeza de sabermos que somos pessoas de valor, não pelo que temos, mas porque trazemos um mundo interessante dentro nós: somos humanos, o que, por si só, já é extraordinário.

E uma grande pergunta é feita em todos os cantos: Como adquirir?
Adquirir? Não, não é mercadoria, ela não está à venda. Ela é uma construção, que ocorre lentamente enquanto vamos nos fazendo como gente. Ela não é responsabilidade apenas dos nossos pais, professores e amigos, antes de tudo ela é a lente em que escolhemos olhar para nós, na medida em que formos nos desenvolvendo; por isso, não há quem culpar. Somos responsáveis pela nossa vida.

Contudo, se você não está satisfeito com você, se sua estima está com saldo negativo, eis alguns caminhos a percorrer:

Procure conhecer você mesmo(a). É preciso saber quem você é, e o que quer da vida. Sem trilhar por essa jornada, não poderemos gostar de nós mesmos. É preciso recuperar a espontaneidade (como bem pontuou Moreno) da criança que somos, desta que trazemos dentro da gente.

Procure compreender os paradigmas do seu tempo. É preciso saber o quanto estamos deixando a cultura nos massacrar com seus padrões de beleza e sucesso. O quanto o espelho nos rouba a alegria. Beleza é um conceito tão particular! Já percebeu que nem sempre as pessoas concordam com sua visão de beleza, por vezes achamos uma pessoa bela e alguém do nosso lado diz, “meu Deus do céu, onde viu beleza?”... Assim também ocorre com você, haverá gente que achará você bonito(a) ou feio(a). Essa é a maravilha do ser humano, somos diferentes, temos gostos completamente diferente, para pessoas, cores, comidas, lugares etc. A pergunta é: a quem você vai dar importância?

Procure construir o SEU conceito de sucesso. Eis aí uma ideia que é capaz de nos fazer perder a vida. Sucesso é ter dinheiro? Carro? Bens? Títulos? Sucesso, para você, é o que, mesmo? Descubra o que você quer realizar. Qual o preço que deseja pagar? Não cobre de você o que você não pode fazer, mas também não aceite viver aquém das suas potencialidades.

Como, então, encontrar parceiros? 

Persiga a autoestima. Não aceite gostar “mais ou menos” de você. Leve-se a sério. Goste do que tem. Lute pelo que acredita. Desenvolva seus talentos. Não sabe quais são? Descubra-os. 

Autoestima é algo que atrai pessoas. Não se lamente, não culpe seus pais, não olhe para trás. A vida é Hoje. Hoje é o tempo de construí-la. Então, pode ser que a vida conspire a favor de você e lhe traga um amor, ou melhor, amores que irão tornar sua vida mais rica do que certamente ela já é.

E se não conseguir fazer isso sozinho, busque ajuda. Faça psicoterapia. Ela pode ser um caminho.


quarta-feira, maio 28, 2014

Conquista: A Psicologia Ajuda?

O dia dos namorados se aproxima. E a psicologia é uma ciência que pode dar diretrizes a quem quiser encontrar um relacionamento. Como não sou especialista sobre o assunto, não me atrevi a escrever, mas pesquisei na internet textos que apontem soluções práticas para quem tem dificuldade de encontrar um parceiro. É claro que nem todo apontamento corresponde a toda realidade, pois, em se tratando de relacionamento a dois, são infinitas as situações que afetam os envolvidos. Porém, estarei postando uma série de textos até o dia dos namorados, e espero que algum(ns) possam ajudar. No primeiro, o pesquisador Ailton Amélio da Silva, professor de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), revela a primeira dificuldade: metade da população brasileira se diz tímida. 

Começo com este link do Globo Repórter.


Diz o poeta que o amor está na essência da alma, mas por que unir as almas gêmeas é tão complicado? Na arte da sedução, gestos valem mais do que palavras. “A pessoa tem que orientar o corpo. Se eu ficar conversando de lado, não é sinal de paquera. Eu tenho que orientar o corpo. Eu tenho que inclinar na direção da pessoa. Ficar para trás é mau. Ficar reto é médio. E ficar pra frente é bom”, ensina o pesquisador. 

Outra lição importante: o toque. 
“Eu começo com um tipo de toque que é permitido na conversa. Mas eu começo a tocar muitas vezes, tocar mais demoradamente ou tocar mais carinhosamente, isso é poderoso para fazer um relacionamento”, explica Ailton. 

Fundamental também é saber o que NÃO fazer para chegar lá. O especialista do amor listou os seis erros mais graves em um início de namoro. 

1 – Mostrar desinteresse. 
2 – Iniciar o romance com alguém que tenha objetivos diferentes do seu. Exemplo: ele quer morar na fazenda; ela, na cidade. 
3 – Se envolver com parceiro comprometido. 
4 – Deixar o romance de lado e se tornar apenas amigo. 
5 – Não valorizar as qualidades do parceiro. 
6 – Se apaixonar por alguém muito diferente. 

Para o pesquisador, opostos não se atraem. “Pelo contrário, os opostos podem dar tremendas encrencas. Por exemplo, se eu caso com uma mulher que quer gastar todo meu dinheiro, eu quero economizar. Ela gosta de viajar, eu gosto de ficar em casa”. 
É uma longa espera para chegar até o dia do “sim”, e as pesquisas comprovam: para casamento, o homem é tão exigente quanto a mulher. Os relacionamentos mais duradouros costumam juntar pessoas que já se conheciam. Do total de namoros, 37% começam no trabalho, estudo ou círculo de amigos. Por isso, preste atenção: o candidato ideal pode estar mais perto do que você imagina. 


sábado, maio 24, 2014

Eu e Você, o Outro


Como ser humano, eu preciso ser amado. E no fundo, desejamos ter a família que está estampada nos potes de margarina Qualy.
Quem não desejou um colo de mãe no dia em que tudo pareceu dar errado?
Quem não desejou um olhar de carinho após um dia duro de trabalho?
Quem não desejou o abraço afetuoso quando a dor se fez mais presente, como no dia em que perdemos alguém que amamos?
Quem não desejou a companhia de alguém, o simples estar ao lado, em um dia em que sabemos que pisamos na bola?
Quem não desejou comer algo feito exclusivamente em sua homenagem?
Quem não desejou receber um sorriso amistoso, quando sentiu que a injustiça fere?
Quem não desejou um ombro para chorar, quando as palavras não foram capazes de expressar o que vai na alma?
Quem não espera encontrar um amor, ou fazer do amor que se tem um amor com ternura, o encontro?
Quem não deseja deixar saudade, quando a partida é inevitável?
Quem não espera palavras de incentivo após ter tido um fracasso?
Quem não deseja sorrisos, danças e gritos de alegria com sua chegada?
Quem não deseja um reconfortante  cafuné quando tudo parece não ter saída?
Talvez você diga “eu não desejo”. Talvez você afirme “eu não preciso”. Talvez você não seja feito do mesmo material que eu.
Então eu afirmo: Eu preciso de tudo isso. Preciso do outro, preciso do seu sorriso, do seu olhar, da sua saudade, do seu abraço, das suas palavras, da sua companhia.
Eu confesso que meu coração dói quando não encontro o outro para partilhar comigo uma refeição.
Mas compreendo: Eu sou eu, você é você.
E a minha necessidade não pode ser uma imposição ao outro. O outro tem seu próprio movimento. Vive o seu tempo, tantas vezes diferente do meu. O outro espontaneamente supre quando vem com o coração aberto e alma desejosa de partilhar afetos.

Por isso, não é bom que se imponha o que quer ao outro. Amor cobrado perde a sua força. O outro deve estar livre para ir e vir quando quiser. Amor é via que não se atropela. 

segunda-feira, maio 19, 2014

A alegoria da caverna e os Pitecos da nossa vida


            A alegoria da caverna é uma referência ao processo de Sócrates em relação à justiça popular de Atenas. Nesta, Sócrates aborda questões relevantes sobre a educação, que tem como objetivo libertar os homens do senso comum. Senso esse que muitas vezes os aprisionam em conceitos que são apenas sombras da reali
dade, e não a realidade em si.
            Para se libertar destas sombras, Sócrates acredita que é necessário o sofrimento. Uma situação na qual a pessoa vai se deparar com algo novo, diferente, espantoso. Contudo, isso é necessário para que se alcance o “Bem”, de onde todas as virtudes derivam. Tal experiência levará o indivíduo a rever seus valores, sua visão da vida.
            Entretanto, vivemos numa sociedade que estimula a busca pela egocêntrica felicidade, e que tem slogans como: “O que importa é você”, “Tudo o que vale é ser feliz a qualquer custo”, “Vivam grandes emoções todo dia”, “Quem pensa muito não faz nada”... E isso tem gerado um horror ao sofrimento: qualquer incômodo interior ou exterior deve ser descartado. Vivemos então uma vida em que fugimos o tempo todo da reflexão, do questionamento (dizem que “pensar dói”).
            Somos cada vez mais levados ao entretenimento, às grandes emoções das propagandas. Passamos o tempo todo fugindo das reflexões e das realidades que nos cercam. E estas estão recheadas de sofrimento. Os conflitos existem em todas as fases da nossa vida. Do feto ao velho, todos experimentam o desagradável, o que incomoda, o que dói. Contudo, estamos mergulhados no sofisma que afirma ser possível ser feliz o tempo todo, e recusamos qualquer dor. E a consequência disso é uma geração alienada, entorpecida, emocionalmente doente. E o que não é tratado, emerge. Fobias, transtornos psíquicos os mais variados e tantas outras coisas vão ficando comuns. Ninguém percebe que o medo exagerado da dor nos tira a beleza de conhecermos a nós mesmos.
            Somos pessoas contraditórias, fazemos tantas projeções, há tanta sombra em nossa vida... porém, somos a imagem e a semelhança do Criador. Há muitos tesouros em nós para serem vistos. Somos como o diamante: ao ser encontrado é uma pedra bruta de grande valor, mas sem beleza, quando lapidado se transforma em uma brilhante e bela jóia.
            A vida sempre vai nos trazer oportunidade de sairmos da nossa caverna interior. Como na história em quadrinhos de Maurício de Sousa, quando Piteco questiona os três personagens, ao não ser compreendido se coloca sobre as sombras que eles veem e atrapalha a visão deles. Irados, os personagens correm atrás dele e se distraem de si mesmos, ao ponto de saírem da caverna e verem um mundo novo, com muita luz.
Os Pitecos da nossa vida, que nos farão sair das nossas cavernas, poderão ser pessoas queridas que nos farão sofrer; pessoas queridas que irão morrer; decepções as mais variadas; dores físicas e emocionais; acidentes; uma aula de filosofia ou de qualquer outra disciplina; um filme; uma conversa sincera com amigos. São tantas as situações que nos farão sofrer, e o sofrimento sempre nos leva a pensar. Podemos brigar contra tudo e todos e nos fecharmos ainda mais ou, ao contrário, vamos nos tornar bisbilhoteiros desse novo mundo que nos apresenta. Vamos aplaudir os nossos Pitecos (o sofrimento), não porque foi bom senti-lo,  mas porque eles nos proporcionam outros caminhos, outra visão, coisas novas.
E viver pode se transformar nessa busca do “Bem”, do “Criador”. Teremos apenas que cuidar para que nessa busca nada mais nos faça prisioneiros, como aconteceu com os três personagens, que saíram de uma caverna para outra.
E que os “Pitecos” da nossa vida nos façam sempre rever nossos conceitos e caminharmos em busca de uma vida mais plena de significado onde, uma vez lapidados, como o diamante, vamos descobrindo a beleza que temos em nós mesmos e ao redor de nós.



terça-feira, maio 06, 2014

Alegria ou Felicidade Permanente?


Embora a academia me oriente a não falar de mim mesma, hoje eu ouso afirmar que por vezes eu acordo com uma disposição interna para olhar para os problemas. Não compreendendo o que está acontecendo, uma sensação de que a vida não vai caminhar como devia me toma por inteiro, e me pergunto: Que sentimento é esse?
Fico a refletir: O que fazer com isso que me invade a alma?
Quero ser feliz, mas, se não é possível ser feliz o tempo todo, o que fazer com esses dias em que a tristeza rouba todo espaço da alegria em nosso coração?
Em minhas próprias lutas, eu descubro que algumas coisas são realmente importantes nessa batalha.
Bom, minhas reflexões são frutos de um busca interna frente a todas as batalhas que a vida me propôs, elas nasceram também do conhecimento de quem sou que adquiri no processo terapêutico pelo qual passei por sete anos, e essas descobertas me fazem, hoje, mais feliz do que fui antes.
Não são receitas mágicas, nem varinha de condão ou o gênio da lâmpada. São verdades que, uma vez cultivadas, produziram em mim frutos de alegria. Prestem atenção: Estou falando de alegria e não de felicidade permanente. E qual a diferença?
        Para mim, a alegria é aquela capacidade que nasce da esperança de que a vida tem propósitos e encantos, enquanto que felicidade permanente é uma invenção de mercado.
Por essa razão, escrevo não com o intuito de oferecer um manual, afinal de contas a psicologia me ensina sobre a complexidade humana, as diversas dimensões em que o sofrimento é vivido, assim como a forma peculiar que é experimentada por cada ser humano. O que me leva a compartilhar com ousadia são as pesquisas científicas que apontam para esses mesmos caminhos que andei.
Primeiro: descubro que a Alegria é a capacidade de reconhecer que, embora não tenhamos tudo que queremos (o que já é uma alegria), temos muito, e a nossa grama é tão verdinha quanto as dos nossos vizinhos. Claro, se a gente cuidar dela. Alegria é também a capacidade de curtir aquele café ou chá ou suco que gostamos, enquanto tantos não têm nada sobre a mesa. Por vezes encontro pessoas próximas me dizendo que os problemas dos outros não amenizam os seus, eu fico pensando, como não? Se a dor dos outros em nada nos provoca empatia, então como seremos felizes, se nossa construção pessoal se faz a partir do outro?
Segundo: a gratidão é motor que move nossos corações ao conforto emocional sempre. Ela nos faz reconhecer o que recebemos de Deus (para quem crer nEle), das pessoas que amamos, ou de pessoas com quem cruzamos no caminho e que, sem nenhum vínculo mais profundo conosco, nos estendem as mãos. A gratidão é o reconhecimento de que só somos o que somos porque um ambiente nos foi disponibilizado. É a capacidade de refletir sobre o que é bom, “de reconhecer os óculos na ponta do nariz”, como diz Mário Quintana.
Por vezes, a dor que enfrentamos é tão grande que tudo se escurece diante de nós, e fica difícil nos mantermos gratos. Então, para esses dias, criei uma lista, onde anoto tudo que sei que é bom pela minha razão, e leio pela manhã e durante o dia, se a escuridão insistir.
Terceiro: é preciso acolher o que se sente e não negar. Durante todo o tempo em que fiz terapia, por causa de uma depressão que vivi por mais de cinco anos, o que mais tive dificuldade foi aceitar que eu, sendo tão otimista como sempre me achei, estava naquele momento deprimida, e lutei contra o sentimento, e nada adiantou. Então aceitei, acolhi esse sentir no sentido de reconhecer que ele está ali, e não existe nenhum problema em ter tristeza, ou angústia, as dores da alma são manifestações do humano. E como disse Públio Terêncio Afro, poeta e dramaturgo romano que viver cerca de 200 anos antes de Cristo, “nada que é humano me é estranho”. Nesses meus 42 anos de vida aprendi que é impossível ser feliz o tempo todo. A felicidade permanente é apenas uma construção do mundo da propaganda, esse mundo capitalista, que nos imprime desejos, enquanto nos rouba a capacidade de realizá-los. E, cá pra nós, quem tem tudo o que quer, ainda que diga que não, acabará ficando com o que é do outro, mas isso é uma reflexão para uma outra hora.
Quarto: aprendi que, quando faço atividade física, a minha sensação de bem-estar aumenta, então caminho.
Quinto: o tempo é dinheiro, que deve ser gasto com o que gostamos. Uma Coca-Cola partilhada, um pão com manteiga Qualy, um bolo de farinha de trigo feito pro lanche da tarde é lucro que não se mensura. O tempo gasto com o que gostamos é investimento que não se adia. Afinal, ouvi do Pastor Ariovaldo Ramos que “quem não sabe quanto tempo tem, tem muito pouco tempo”.


 Gostaria de deixar como sugestão de leitura o livro "Os 100 Segredos das Pessoas Felizes", de David Niven, pela Editora Sextante. Embora esteja erroneamente classificado como autoajuda, trata-se de uma coletânea de máximas e conselhos baseados em uma pesquisa científica séria.

terça-feira, abril 29, 2014

meu primeiro cartão


Escolher é sempre um desafio e este texto que apresento foi escrito durante minha graduação em psicologia e trata sobre as escolhas humanas na visão da Gestalt-terapia. 

Liberdade ou Desespero: A Escolha Sob o Olhar da Gestalt-terapia
Roseli Batista Sousa Barbosa de Araújo
Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Na perspectiva existencialista a escolha é um presente dos deuses aos humanos que tanto pode ser benção quanto maldição, ao carregar em si a liberdade e a responsabilidade diante da qual ninguém pode se evadir, colocando na sorte ou nos outros, a culpa por suas desventuras. E dentro desta ótica, o decidir torna o ser humano responsável pelo que é, e mesmo quando não é aquilo que deseja, sempre é o resultado de suas escolhas (Sartre, 1970; Cardella, 2002: Manniom, 2005).
Angerami (1950) coloca que na percepção dos existencialistas a angustia é o “holo” da existência humana, é companheira eterna e interna de cada ser. E sendo o existir marcado por um emaranhado de situações escabrosas, só poderá se revestir de sentido na medida em o ser humano compreender que é livre para fazer suas escolhas ao mesmo tempo em que é responsável por elas.
Diante da liberdade de escolha o ser humano se angustia, contudo, sendo o detentor da primazia de acordo com a filosofia humanista, é superior aos animais ao se inquietar diante das suas realidades pessoais, ao viver em um constante estado de busca, condição que muitas vezes o leva ao desespero e faz com que almeje sempre superar-se e ir além (Kierkegaard, 1849; Mondin, 1980; Ribeiro, 2007).
Nesta busca da transcendência, a pessoa necessita trilhar pelo caminho das pedras e das belas paisagens que é o seu ser, precisa ter coragem de andar sem sinalização, e voltar-se totalmente para o seu mundo interior cavando de si mesmo, o que é, o que deseja, aonde quer chegar e como quer chegar; (Yontef, 1998; Cardella, 2002; Ribeiro, 2007 Rodrigues, 2009).
A Gestalt-terapia então nasce imbuída de cooperar para que o ser humano se conheça, e se embasa no Existencialismo e no Humanisno, afirmando que a pessoa por mais perdida que esteja em algum momento da sua jornada, possui uma bússola interna capaz de levá-la a rota certa, conduzindo-a por caminhos que a faça encontrar os seus recursos criativos, compreendendo a si mesmo e transcendendo os obstáculos, os sofrimentos, as limitações (Ribeiro, 1985; Zinker, 2001; Cardella, 2002).
Para encontrar seus recursos criativos a pessoa necessita trilhar pelo caminho das pedras e das belas paisagens que é o seu ser, precisa ter coragem de andar sem sinalização, e voltar-se totalmente para o seu mundo interior cavando de si mesmo, o que é, o que deseja, aonde quer chegar e como (Yontef, 1998; Cardella, 2002; Ribeiro, 2007 Rodrigues, 2009).
A Gestalt-terapia, imbuída desta tarefa de cooperar para que o ser humano transcenda, faz uso do enfoque dialógico, que busca compreender que as dificuldades da vida necessitam ser vistas como parte da saga de cada ser, como sinalizações do desequilíbrio das relações humanas, como um convite concreto para o abandono do olhar adoecido pelo egoísmo ao mesmo tempo em que retorna para relação com o outro, certo de que o adoecer é sempre fruto de um diálogo que não ocorreu (Hycner, 1995; Yontef, 1998).
A Gestalt-terapia então caminha de mãos dadas com a abordagem dialógica, que afirma que a existência humana é relacional. E nesta perspectiva duas atitudes são destacadas: o “Eu-Tu” e o “Eu-Isso”. O “Eu-Tu” aponta para um encontro, para o face a face com o outro, onde seguimos confirmando quem somos e descobrindo qual o sentido maior da existência humana. O “Eu-Isso” nos fala da relação utilitarista que é estabelecida com os objetos que podem ser conhecidos de forma objetiva (Buber, 1965; Malaghut, 1995; Cardella, 2002)
Na psicoterapia, o “Eu-Tu” é o conceito de fundamental importância para nortear a busca do terapeuta na disponibilidade para o outro, no contato e na confirmação da humanidade deste cliente que chega mergulhado no desespero que nasceu diante das escolhas que fez e, angustiado frente às escolhas que se apresentam no presente (Buber, 1965; Malaguth, 1995; Cardella, 2002; Yontef, 1998).
A relação terapêutica alicerçada no “Eu-Tu”, fará surgir o amor altruísta por parte do terapeuta, fomentará a cumplicidade, o encontro. De acordo com Petrelli (2001) o diálogo completo, que suscitará a importante confiança no cliente que está vulnerável por causa da sua dor. Levando-o a revelar seus sentimentos na medida em que andam lado a lado. E assim, através da auto escuta, fazendo contato consigo mesmo e com o outro, vivencie o que se apresenta no hoje, escolhendo para si o caminho a seguir (Zinker, 2001; Feldman, 2004; Ribeiro, 2007; Perls, 1997; Polster & Polster, 2001).
Para escolher é necessário considerar o “mundo” o qual o caminho se encontra, e a Gestalt-terapia ao evocar a teoria de campo e a teoria organísmica como parte dos seus pressupostos, torna-se detentora de refletores capazes de trazer luz ao cosmo do cliente, permitindo-o a vivenciar com mais clareza os potenciais e limites políticos, econômicos e sociais do seu contexto, bem como os seus próprios, levando-o a fazer escolhas mais ajustadas (Rodrigues, 2009).
 A Teoria de Campo parte do princípio que para compreender uma pessoa é necessário abarcar tudo que a cerca: seu ambiente, seus objetos, as pessoas que o compõem, assim como suas possibilidades e limitações (Kurt, 1965; Ribeiro, 1985; Yontef, 1998).
A Teoria Organísmica em seus apontamentos diz que a pessoa é uma combinação única e naturalmente organizada, no qual o todo que a compõe detém leis próprias que o regem, e que as partes são compreendidas como integrante do organismo total, não sendo possível jamais compreendê-las pela análise. Reflete também que a pessoa de forma permanente busca atualizar seu potencial que é inerente a sua natureza e, nesta empreitada se desenvolve enquanto ser (Ribeiro, 1985 p.107-108; Fagan & Shepherd, 1971).
A conexão entre estes princípios e a Gestalt-terapia é inegável, ambos defendem que a capacidade de “auto-regulação” é inerente ao ser humano, permitindo-o fazer escolhas que atualizem seus potenciais. Contudo, a confusão frente às escolhas que surge no campo a qual a pessoa está inserida rouba-lhe a ação imobilizando seu potencial na medida em que a desorganiza, e a psicoterapia deve ter como propósito situar o cliente quanto à direção dos seus sentimentos, discernindo qual o nível de energia possui para agir, e aonde quer chegar, o que facilitará certamente suas escolhas (Ribeiro, 1985; Perls, 1997; Rodrigues, 2009).
A ferramenta usada por psicoterapeutas da abordagem gestáltica para aportar o cliente a si situar em seu campo e a partir daí fazer suas escolhas, é o método fenomenológico. Este consiste em apreender a essência do que emerge a partir da descrição do fenômeno para atingir a realidade como ela é, alcançando o significado real do cliente, na medida em que investiga o que, o “como”, no “aqui e agora”, deste ser que é capaz de reconstruir-se a cada momento (Husserl, 2000; Ribeiro, 1985; Rodrigues, 2009; Ribeiro, 2007;).  Rohden (2007) ao apresentar a biografia de Einsteim nos conta que esse gênio afirmava que pensava 99 vezes e nada descobria, e ao deixar de pensar, a verdade se revelava a ele. Essa é a postura fenomenológica exigida para os gestalt-terapeutas. Despidos de qualquer juízo de valor devem trabalhar descrevendo o que se mostra - o fenômeno - se detendo no sentido do comportamento, captando assim todas as informações disponíveis e ajudando a pessoa a perceber seus sentimentos, seu ritmo, pensamentos e emoções, para que na medida em que entrar em contato consigo mesmo, vá se apropriando do poder que possui de gerir, através das suas escolhas, a sua própria história (Rodrigues, 2009; Cardoso, 2002).
De acordo com Fagan & Shepherd (1971) na medida em que uma pessoa “se identifica com os fragmentos alienados, ocorre uma integração” (p.112), pois ao ser o que é de forma plena, a pessoa pode se tornar a pessoa que quer ser.
Para a Gestalt-terapia, portanto, a pessoa só se identificará com seus fragmentos a partir da “awareness”, isto é, quando ela conseguir ter consciência do “aqui e agora”, do óbvio, da realidade que a envolve e do como ela se encontra frente a esse real (Yontef, 1987; Cardella, 2002). Diante desta realidade a “resposta consciente (como orientação e como manipulação) é o instrumento de crescimento no campo” (Perls, Hefferlin & Goodman, 1997, p.45).
O que permitirá a pessoa a vivenciar a “awareness” é a habilidade do terapeuta em levar o cliente a expandir suas fronteiras de contato, isto é, a experimentar e reconhecer suas possibilidades e limitações, a discernir o que é seu e o que é do outro, e a partir daí, escolher o que necessita para se ajustar criativamente. A expansão da “fronteira-de-contato” poderá capacitar o cliente a discernir o ritmo da música que se apresenta em seu campo, no tempo que se chama hoje, dando somente a ele, o poder de acertar seus passos (Perls, Hefferlin &Goodman, 1997; Yontef, 1998; Cardella, 2002).
Para a Gestalt-terapia, o processo terapêutico que permite a expansão da “fronteira-de-contato”, poderá levar o cliente “awareness”, ampliando sua percepção do que tem impedido o fluxo de sua vida e das situações inacabadas, para que fechando gestalts, abra-se para novas possibilidades que se apresentam no “aqui e agora”, deixando o passado no passado, e capacitando-o a fazer escolhas que venham a produzir o equilíbrio do seu campo (Yontef, 1998; Cardella, 2002).

Para os Gestalt-terapeutas o que interessa é a forma como seu cliente interage consigo mesmo e com o mundo a sua volta, o que ele vivencia e não o que fala, porque pressupõem que o seu funcionamento, sua forma de “ser-no-mundo” é que vai determinar o quanto saudável são suas escolhas (Hycner, 1995; Cardoso, 2005; Ginger & Ginger, 1995).