quarta-feira, maio 03, 2017

Foi um prazer conhecer o ceratocone?


Certo dia percebi que meu olhos estavam vendo sem foco, e cada vez mais eu precisava estar bem perto para poder distingui os traços de uma pessoa conhecida, assim como para ler um livro ou assistir um filme legendado. A impressão que eu tinha era que os meus olhos estavam tão borrados como aquela tela em que o artista sem querer derramou tinta. Assustada com a angústia que abraçou a minha alma de forma tão apertada, fui em busca de um oftalmologista que me ajudasse. Descobri que estava com ceratocone, e foi necessário fazer uma cirurgia para colocar o anel de ferrara. 
Após o tratamento, já recuperada, comecei a achar as cores de uma beleza singular. Beleza esta, que ainda não tinha sido vista por mim, embora, as cores, sempre estiveram presente.
Aconteceu comigo, eu acredito, o mesmo que ocorreu com o pássaro que descansava tranquilamente em um galho de uma árvore observando a floresta. Num determinado momento, ele percebeu que uma cobra se aproximava e, teve que voar e pousar em um galho bem mais alto, passando assim a ver todo o vale com sua esplêndida beleza. ( narrei esta estória no dia 02/05/2017). 
Fui levada por uma doença a ver a beleza do vale, como o pássaro foi levado a voar e pousar mais alto por causa de uma cobra. Confesso, que sempre achei bem estranho ter precisado de uma doença para reconhecer a beleza ao meu redor, mas sou grata pela experiência de poder contemplá-la, e ver o que antes era visto, como algo novo
Ainda hoje, após 14 anos que passei por essa cirurgia, me pego celebrando as cores das árvores no caminho, os traços dos que convivo, as luzes da cidade, as letras cursivas e digitadas, os botões das flores que se abrem no meu jardim, o mato que nasce entre o cimento quebrado. 
Aprendi que existe muita coisa bonita ao redor, e sempre me pergunto, 'será que estou vendo mesmo'?