Gosto de acreditar que o que me perturba vem de fora. Por vezes, me vejo na busca de encontrar no outro, a desculpa que me livra de encarar os meus próprios monstros. E como fico irada, quando vejo que o outro, tenta fazer o mesmo comigo.
Aprendi rápido não assumir a culpa que é do outro, mas a que me cabe encarar e confrontar, minha tendência é deixar para amanhã. Meu Deus, como é infinitamente mais fácil me ocupar do erro que chamo do outro.
Mas, já vivi o bastante para saber que para me tornar quem eu quero ser, preciso assumir, em mim, o que me leva para longe, de onde quero chegar. Lutar com as trevas que carrego, com as dores vividas da minha infância, admiti-las, dar nome a elas, é expor feridas e culpas que naturalmente aprendi não acessar.
Feridas e Culpas? Dizem por aí que as culpas nos adoecem. É verdade. Contudo, não é toda verdade. O que acontece é que a vida exige pouca coragem para andar na via que passa pelo reconhecimento da culpa do outro, em minha história. Mas, para reconhecer e lidar com as minhas próprias culpas, a vida exige uma abundância de coragem que nem sempre vejo em mim.
Contudo, eu desejo ver esta coragem jorrar dentro do meu ser. Sei que preciso assumir qual é a tarefa na construção da minha história. Sei que antes de encontrar culpados, preciso assumir a responsabilidade de como vou fazendo minhas escolhas, diante do que estou afirmando que os outros fizeram a mim. Preciso assumir o que me cabe no processo. Não adianta chamar o outro de louco, de histérico, de depravado, de arrogante, e de tantos outros adjetivos ruins, se eu não consigo ser amoroso, prudente, equilibrado, sábio.
Enquanto fui criança foi aceitável que o outro seja culpado. Na adolescência, comecei aprender que meus pais não deram conta de tudo, e nem por isso, eu não tenho que honrá-los. Na vida adulta, sei que me cabe deixar de lado o tempo gasto em encontrar culpados, para gastá-lo na construção de quem eu quero ser.
Olho para mim. Eu quero ser como Jesus. Sei que estou longe. Porém, ‘Ele é o autor e o consumador da minha fé’1. Cravo os olhos nele. Sei que nesta eternidade não irei alcançar a sua estatura. Mas, aprendo com Paulo, o apóstolo, ‘a prosseguir para alcançar este alvo, esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão diante de mim’2.
Sim. Eu escolho assumir o que me cabe, na minha busca de chegar onde quero. Confesso, tenho medo dos muitos desafios da caminhada... Todavia, encontro no Deus Emanuel, força, coragem e consolo.
A Jesus toda glória.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga
Referência:
1. Hebreus 12;2-3
2. Filipenses 3:12-14.