sábado, março 12, 2016

A mulher que não se deixa ver

A mulher que não se deixa ver não é a que está fora do peso, mas aquela que só fala de dieta. 
Quando elogiadas por seus maridos, namorados, parentes e amigos, ela mostra sua barriga, o peito que julga caído, a flacidez da sua pele, as rugas do seu rosto, o cabelo que não está na cor certa, que é muito, que é pouco, que é embaraçado, que é liso demais, que é afro demais, as pernas que estão finas ou grossas, suas celulites, ai as celulites, que pavor! Penso que as mulheres não sabem que homem nenhum ver até que mostre. É mesmo uma angústia desnecessária.

A mulher que não se deixa ver é aquela que teme, uma mulher que acredita ser mais bonita do que ela. Essas, só dão contas das senhoras bem idosas e das meninas bem novas, com as da sua faixa etária, sentem-se ameaçadas, quando não é ela que recebe os olhares por onde passa. 

A mulher que não se deixa ver, vê só os seus defeitos...
Ela murmura de tudo...
Ela está cansada demais para uma noite com fogo e paixão, porque a casa que era pra ser um lar, se tornou um lugar só para limpar, lavar, passar, escovar, cozinhar... E, assim vai ficando esquecido o abraço do marido, fazendo com que o amor eros não resista a solidão, e assim, esse amor vai se despedindo, saindo bem de fininho pela fresta do eterno fazer, fazer, fazer. E o casal antes tão apaixonado vai ficando como irmãos... 

A mulher que não se deixa ver, não tem agenda, a sua agenda é dos outros - mas ela está infeliz em cuidar tanto - quer abraço, ser também cuidada, mas ela morre fazendo, e em silêncio? Não, seu olhar grita cansaço. Ela não aprendeu que a vida é dividir, para que haja tempo pra viver o que se tem na cama, na casa, na janela.

A mulher que não se deixa ver, não é a que está fora do peso, é a que perdeu o valor que o humano não perde, deixando de amar o que de Deus recebeu sem nenhum esforço. 
Amargurada segue, não tinha mesmo outro jeito, o seu olhar se perdeu na feiúra que decidiu ver.

A mulher que não se deixa ver lentamente vai morrendo, mas a morte sempre fere, não importa com que velocidade chegue, e vai deixando suas marcas nas calçadas, nas esquinas e
nas ruas dos corações.