quarta-feira, maio 29, 2019

A importância do pai na saúde emocional – O Pai e a escolha profissional



Existem pessoas que vão para o mundo do trabalho, mas não dão continuidade por acreditar que são incompetentes. Normalmente, essas pessoas sentem que são uma farsa e temem serem descobertas. Outras pessoas são habilidosas e ao entrar no mercado de trabalho logo se dão bem, porém, ao imaginar que poderá ser demitida, pedem demissão antes que aconteça. Outras pessoas são reconhecidas competentes, elogiadas, porém, não crêem no valor do seu trabalho e passam a viver a angustia de não se sentirem adequadas, vivendo muito aquém do que poderiam realizar.
Viver com a sensação de ser incompetente, uma farsa, não ter inteligência o suficiente para realizar uma determinada tarefa, é uma experiência emocional dolorosa, capaz de levar a pessoa a viver uma história de frustração constante na vida profissional.
Normalmente quando investigamos suas vidas, descobrimos que o pai o qual conviveram não foi capaz de lhe ajudar a estruturar a confiança em si mesmo.  Faltou o olhar, a palavra de afirmação, o abraço do estou aqui, os aplausos de quem estava feliz ao ver o progresso. Esses pais podem ter ficado ausente por alguma condição que a vida impôs. Ou presentes, porém, indisponíveis para o relacionamento. Sendo frios, indiferentes, autoritários e sem afetividade.
Para a criança o pai não tem que ser perfeito, tem apenas que ser capaz de dar atenção e de se interessar pelo que ela faz. Mas, quando ele não está disponível, vai faltar-lhe suporte para enfrentar o mundo.
Eu sempre quis escrever, aos 11 anos, meu pai, soube que eu rabiscava meu primeiro romance. Lembro do seu olhar de indiferença e das suas palavras ao me dizer para não perder tempo escrevendo, pois só gente inteligente escrevia livros. Quando tentei meu primeiro concurso público, repetiu novamente que só gente inteligente conseguia passar, e quando lhe falei do meu desejo de ser psicóloga e minha tentativa de vestibular, novamente repetiu seu discurso.
Suas palavras por anos foi cova a sufocar os meus sonhos profissionais. Tentei escrever algumas vezes ao longo do caminho, mas os meus escritos eram por mim sempre abandonados. Por muitos anos carreguei uma ideia fixa de que não seria profissionalmente bem-sucedida e vivi a angustia de ser reconhecida capaz sem me sentir capaz.
Recuperei meus sonhos profissionais só depois de muitos anos fazendo psicoterapia, e fiz a tão sonhada psicologia. No final do curso, fui estimulada por uma professora (a qual eu admirava) a resgatar o sonho de escrever. E quando peguei meu diploma de psicóloga, tão feliz fiquei que prometi a mim mesma que me daria a alegria de ver um livro publicado.
Tive a alegria de escrever já dois livros, o ser crente e ser humano e o preço da perfeição. Atualmente preparo as crônicas da academia. Tenho na escrita e na psicologia as minhas grandes paixões. Porém, muitas vezes me pego olhando para trás e me pergunto: Quantos livros eu teria escrito se não fosse aquelas palavras? Não sei!!! Contudo, agradeço a Deus por ainda ter tempo de escrever livros.
De uma coisa não tenho dúvida, o propósito da existência, passa pelo desenvolvimento das nossas capacidades e a realização dos nossos sonhos. E viver sem acreditar que somos aptos é como entrar numa estrada vazia onde nos revestimos do deixar de ser.
O pai disponível, não o pai perfeito, é tudo que uma criança necessita para enfrentar o mundo.
Roseli de Araújo
Psicóloga clinica




quarta-feira, maio 22, 2019

A importância do pai na saúde emocional – O pai e a realidade



Este é o meu filho Arlen com o seu pai Eliack (in memoriam)

Aos seis meses de vida, enxergamos e ouvimos tão bem como os adultos, e é nesse momento que a presença de estranhos pode trazer angustia 1.
Se o pai já estiver inserido nos cuidados do bebê, tanto quanto a mãe, este terá mais condições de reconhecê-lo como uma pessoa distinta, logo, o contato com outros estranhos ocorrerá de forma mais tranquila.
Corneau 2 nos diz que a presença do pai por si só vai ajudar a criança internalizar a realidade que ela não é o único ser no mundo a receber atenção e amor de sua mãe. Dessa forma, o pai, proporciona a aprendizagem do princípio de realidade e de organização no sistema familiar.
Em minha experiência clínica, um dos grandes problemas que posso perceber em meus pacientes adultos é a falta de uma leitura clara da realidade que o cerca. Normalmente estão dominados pela fantasia, o que os tornam suscetíveis a escolhas erradas no decorrer da vida.
De acordo com a psicanálise, a fantasia é sempre uma construção feita a partir da realidade do sujeito, cujo objetivo é a satisfação do seu desejo 3.
A fantasia é um recurso importante na infância, quando a criança ainda não tem condição para compreender a realidade. Todavia, no decorrer do desenvolvimento humano torna-se necessário que a fantasia seja cada vez mais substituída pela realidade.
Enquanto somos crianças, são os adultos que nos ensinam os limites entre a fantasia e a realidade. Por exemplo, se quisermos colocar um dedo na tomada, nos proíbem, dando-nos o limite para que não venhamos nos machucar.
Na vida adulta é esperado que saibamos o que podemos ou não fazer com os nossos desejos e vontades, contudo, se a fantasia domina em algum aspecto, ela não nos permitirá ver a realidade, logo, não conseguiremos fazer escolhas sensatas, o que poderá trazer muito prejuízo ao longo da vida.
Se o pai esteve presente desde a mais tenra idade de forma afetiva, iremos desenvolver a tão importante afirmação de quem somos, a capacidade de descobrir o mundo e nos proteger. Com esses recursos internos teremos mais chances de tomar decisões acertadas em relação a qual profissão iremos exercer e a quem escolher para compartilhar a vida 4.
Sobre isso falaremos no próximo estudo. 
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica

Referências:
2. Corneau, Guy. Pai ausente filho carente. Editora brasiliense.
4. Artigo: O pai presente: o desvelar da paternidade em uma família contemporânea.


quarta-feira, maio 15, 2019

A Importância do Pai na Saúde Emocional – O Pai é quem nos prepara para o mundo



No ventre da mãe somos tecidos. E a trama de nossa existência segue demandando infinitos cuidados até alcançarmos a nossa independência, seja ela física ou emocional.
Sendo a mãe quem gesta, dar à luz e amamenta o bebê, o vínculo entre eles parece ocorrer naturalmente. Porém, o que faz o vínculo entre mãe e filho se estruturar é o tempo que a mãe se desdobra para atender as necessidades do bebê. Normalmente, é ela quem gasta e se desgasta neste cuidado integral do recém-nascido.
Sabemos que houve mudanças, e hoje, o pai se envolve mais com o nascimento dos filhos. Entretanto, ainda prevalece a ideia do pai como figura secundária no cuidado direto com o recém-nascido, sendo muitas vezes desmotivado pela mulher, família, e pasmem, até por profissionais da área da saúde.
Esta ideia de que o homem nada tem a acrescentar ao bebê em seus primeiros meses de vida, pode fazer com que o vínculo pai – filho ocorra de forma de mais lenta, gradual. Entretanto, quando o pai se envolve com os cuidados do bebê, tais como: trocas de fraldas, banhos e mimos, o bebê aprende a reconhecê-lo. Em contrapartida, o pai, ao ser reconhecido pelo filho, poderá ter mais motivação para desenvolver com ele uma relação mais próxima, mais íntima e mais afetiva.
No sistema familiar, a mãe é sempre a figura da casa, do confortável, do acolhimento, e ao nascer o bebê se vê um com ela. Todavia quando o pai se faz presente, proporciona a criança a oportunidade de conhecer um mundo maior do que o estabelecido entre ela e sua mãe. Quanto mais contato entre pai e filho, mais a criança se organiza do ponto de vista psíquico para interagir com a realidade de que o mundo é muito maior do que o percebido. Assim, a mãe nos mantém em casa, em família, enquanto o pai nos leva para fora, para o social.
Na relação próxima e afetiva com o pai, o recém-nascido tem mais possibilidade de adquirir confiança em si mesmo, permitindo que a transição da casa para o mundo ocorra com menos conflitos internos. Pois, ao sentir-se seguro, terá mais capacidade de explorar o mundo a sua volta e de lidar com outras pessoas. Assim começa o seu preparo para a vida em sociedade.
Também, é na relação com o pai que seremos capacitados a lidar com a realidade, o que nos ajudará fazer as escolhas que nos serão exigidas ao longo da vida.
Mas, falaremos sobre isso na próxima quarta.
Aguardo você.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica e escritora
Referência:

1.   1. Benezik, Eduleine Belline Peroni. Revista Psiopedagogia. Artigo A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Paginas 67 a 75. 2011;
2      2. Siva, Air Vieira da. Artigo O papel do pai na sociedade contemporânea.pg.57-66;
3      3.  Matos, Mariana Gouvêa de Matos; Magalhães, Andrea Seixas; Carneiro, Terezinha Féres; Machado, Rebeca Nonat. Artigo Construindo o vínculo pai-bebê: A experiência dos pais.pg.261-271.
4      4. Gomes, Aguinaldo José da Silva; Resende, Vera da Rocha. Artigo O pai presente: O desvelar da paternidade em uma família contemporânea.pg.119-125.
5      5. Corneau, Guy. Pai ausente filho carente. editora brasiliense
9. Corneau, Guy. Pai ausente filho carente. Editora brasiliense.
10. Artigo: O pai presente: o desvelar da paternidade em uma família contemporânea.




quarta-feira, maio 08, 2019

A importância do Pai na saúde emocional




Brincalhona, ela chegou sorridente. Nem mesmo um olhar atento poderia supor a dor que estava preste a compartilhar em meu consultório.
Confesso. Em muitos momentos no decorrer da sessão tive que lembrar o meu lugar de psicoterapeuta, tão sórdidos eram os detalhes da sua história. Seu relato me parecia pior do que um filme de terror, deixando-me com um terrível mal-estar com a espécie humana.
Em uma cultura onde a mãe é responsável pela educação dos filhos, logo, culpada por seus descaminhos, somos tantas vezes propensos a imaginar que a relação com o pai não produz muitas consequências na vida de uma pessoa, tanto quanto a relação com a mãe. Entretanto, isso não é verdade.
Este bebê é o meu filho Arlen com o seu querido papai Eliack.
Do ponto de vista psicológico, a criança necessita da figura paterna e materna. Eles são nossas primeiras referências. A partir deles nossa personalidade é estruturada e nossa visão de mundo moldada.  E, na jornada chamada vida as importantes escolhas que iremos fazer está intrinsecamente ligada as nossas relações com eles.
Por muitos anos, o pai foi uma figura central da história familiar. Na cultura patriarcal, a mulher e a criança estavam sob sua autoridade e domínio. Em suas mãos estava o poder financeiro e a responsabilidade pela manutenção da família. A função paterna era de educar e disciplinar. As regras eram rígidas. Porém, a interação pai e filho guardava uma distância, principalmente nos primeiros anos de vida, pois à mãe cabia o cuidado.
Na sociedade ocidental, após a segunda guerra, com as mulheres indo para o mundo do trabalho, o pai teve que se envolver mais com o cuidado da criança e a mãe passou a ter a responsabilidade de ajudar na manutenção. O que mudou a configuração familiar.
Contudo, tais mudanças não foram capazes de diminuir o “vazio instalado na rede de relações afetivas”1, o que é fácil de perceber na clínica psicológica. O Pai, figura tão importante quanto a mãe, parece ter perdido o seu lugar no sistema familiar. O que tem gerado muitos prejuízos na criança que repercutirão na sua vida adulta.
Por essa razão, escrevo sobre este tema. Meu objetivo é ajudar na compreensão da importância do Pai em nossa formação.
Sei que para muitos não será fácil revisitar a própria história. É preciso coragem! Todavia, o conhecimento desta verdade poderá trazer compreensão de quem somos e das escolhas que fazemos, o que poderá nos levar a novos caminhos. Acredite!
Aguardo você.
Roseli de Araújo
Psicóloga

Referência:
1.    Benezik, E. B. P.A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Revista Psicopedagogia.2011


quarta-feira, maio 01, 2019

Saúde emocional e os ensinos de Jesus



“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam”....Mateus 7:7-12
Na arte do fazer para o outro, a sociedade não se desenvolveu com a mesma velocidade da tecnologia. Pois o humano sempre desejou ser visto, reconhecido, elogiado, servido, compreendido, perdoado, amado, mais do que esteve disponível a fazer pelo próximo.
Quando somos crianças, necessitamos de um adulto que nos dê atenção para nos alimentar, aconchegar e dar segurança. Porém, na medida em que crescemos, a expectativa é de sermos cada vez mais independentes e prontos para fazer e não receber.
Porém, de forma surpreendente é possível ver adultos a reclamar um olhar, um abraço, segurança. Muitos vivem a cobrar seus pais, filhos, amigos como se eles ainda fossem tão pequenos, fragilizados e desprovidos. Desenvolveram-se do ponto de vista físico, mas agem como bebês. Tantas vezes diante da frustração dão birra como crianças a reclamar o bico.
Na clinica, vemos o adulto crescer saudável emocionalmente, quando não tem ninguém para culpar. Quando abandona a ideia de que alguém lhe deve algo, passando assumir a responsabilidade pela sua própria história.
Ao fazer tal malabarismo emocional, o adulto começa a compreender o quanto é difícil ser humano. Aprende que os pais não são os heróis do cinema, que as pessoas decepcionam e a injustiça está presente. Compreende as dores paralisantes vividas por essas realidades e percebem o quanto elas foram capazes de roubar a sua capacidade (até aquele momento) de fazer da vida uma poesia bonita. Sem poesia a embelezar, a alma se esvazia de ternura, gerando ainda mais dor, angustia e tragédia. Então nasce a vítima que fará nascer o culpado, e o culpado que irá perpetuar a vítima.
Eu creio que neste ensino, Jesus, com sua lógica objetiva e profunda resume numa frase o que é capaz de quebrar esse ciclo de vítima-culpado, dando ao humano um caminho possível para crescer emocionalmente de forma saudável.
Imagine. No trânsito, se todos nós fizermos aos outros o que esperamos que eles nos façam, teríamos o mais educado trânsito do mundo. Em casa, as brigas cessariam, viveríamos a paz tão almejada. No trabalho e na academia não haveria competição, mas cooperação. Na igreja, ninguém se sentiria discriminado, mas amado. Na cidade, iríamos poder sair a pé com os celulares nas mãos, a qualquer hora. Não haveria fome e sede, os ricos dividiriam seus bens. Certamente, em um mundo onde os adultos emocionais reinassem as necessidades de todos (a sua e a minha) seriam supridas.
Que as nossas mãos sejam para o serviço
Agora, voltando para a realidade, o que torna o ensino de Jesus um grande desafio é o fato de vivermos o imperfeito. O egoísmo domina o humano. A criança prevalece na alma dos adultos.
Não tenho dúvida que Jesus era um adulto - adulto emocionalmente, pois só estes podem enxergar as pessoas para servi-las. Do ponto de vista psicológico só iremos fazer para os outros o que desejamos que eles nos façam, na medida em que formos capazes de abandonar as necessidades infantis que muitos de nós carregamos.
Todavia, na fase adulta, eu e você, temos a responsabilidade de fazer o melhor com o que recebemos no decorrer da vida. Isto é, se desejamos ser adultos saudáveis emocionalmente.
Jesus propõe um caminho nada fácil. Estreito. O qual acredito que vale a pena trilhar, e você?
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica