sexta-feira, novembro 29, 2024

Tempos

 

          


Como um adulto que esqueceu por completo sua infância, o tempo não brinca de dá tempo.

Acordamos e o dia parece correr. O final do mês chega. Meu Deus!!! Já é fim de ano. E o tempo corre sem fazer curva, enquanto nós o vivemos dentro do nosso próprio ritmo. Por vezes, um descompasso se instala. Mas, o tempo não negocia paradas.

Neste tempo, que minha mãe partiu, eu estou aqui tentando reorganizar a casa. Descobri que embora ajude a demarcar o novo ciclo, o que eu trago por dentro é o que precisa ser mais uma vez reorganizado. O estranho é que nada é mais como antes, enquanto muita coisa segue do mesmo jeito.  E sem saber dimensionar o tudo que mudou, percebo a presença de sentimentos novos, nesta casa vazia que hoje jorra a saudade dela.

Na minha busca de lidar com o que sinto, faço amizade com o tempo. Descubro que o tempo é o único que lida com dores que só ele pode carregar. E mesmo sendo este adulto que não gosta de brincar, de dar de si, me carrega em sua viagem sem descanso.

E sigo consolada. Alegrando-me na experiência de ser abraçada pelo meu senhor e salvador Jesus.

Sei que ele é o Senhor do tempo. Ele voltará e o seu povo será reunido com ele1. Ele é o que cria o tempo certo para cada propósito2. Ele é o porto no qual estou ancorada.

Embora este tempo, é tempo de lágrimas que correm sem pedir licença, por vezes me incomodando por não conseguir contê-las, bem sei que nenhuma cai sem a viva esperança a bater no meu peito.

E faço como Jeremias diante de uma dor que sangra, trago a memória o que pode me dar esperança3.  E vivo as palavras de João, o apóstolo, que a vitória que vence o mundo, é mesmo a nossa fé em Cristo4.

A Deus toda glória pelo consolo.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Referências bíblicas:

1. Apocalipse 22:

2. Eclesiastes 3:1;

3. Lamentações de Jeremias 3:22

4. IJoão 5:1-4

 

 




  

quinta-feira, junho 27, 2024

o que nos rouba a crítica?




               Dizem que existem críticas construtivas. Eu creio. Mas, não sei você, eu as escuto muito pouco.

O que percebo é a constante presença de críticas pequenas e sutis, como cupim em madeira. Um comentário aqui, outro acolá... E de repente, o que pareci tão bom ficou mais ou menos; o mais ou menos, ruim; e o ruim, sem solução; e a casa cai, relações se desmoronam.

O mais terrível é que as críticas que fazemos, na maioria das vezes, não passam de tempo perdido que gastamos com assuntos, os quais, não movemos nenhum dedo para mudar. E o tempo não brinca, antes corre sem nos esperar.

Confesso. Não sei se a crítica leva a paciência embora, ou se a falta de paciência promove a crítica. Todavia, tenho certeza que se alguma paciência for exigida no caminho, a crítica vai destruí-la, por completo.

O grande problema que nem sempre nos damos conta é que ao criticar podemos revelar que somos como aquela mulher que falava das roupas sujas estendidas no varal da vizinha, esquecendo-se de que não havia lavado suas janelas. Tudo que podemos estar fazendo é falando de nós mesmos: nossa omissão, nossa arrogância, nossa falta de sabedoria. Então, por que seguimos cultivando-a como uma bela rosa no jardim?

Desconfio que a crítica pode ser parte da nossa eterna luta para ser melhor em alguma coisa. Vivemos o medo (creio que na maioria das vezes inconsciente) de sermos muito menos do que poderíamos ser. E a crítica pode ser um caminho fácil e rápido para nos fazer sentir especiais.

Todavia, o pior das críticas é que se perde: o melhor das pessoas. Enquanto, o outro perde o melhor de nós. E como é triste ver relações preciosas ou que poderiam nascer serem totalmente arrasadas.

Mas, não precisamos nos manter neste caminho. Jesus mais uma vez nos deu a direção para nos livrarmos desta sutileza que torna a vida azeda. Ele nos diz para não julgarmos1, deixarmos de lado o que pensamos que estamos vendo, andarmos com outro - muitas vezes em silêncio - para compreendê-lo.

Fazendo assim, a vida segue com a possibilidade de ser vivenciada em seu maior encanto: O encontro com o outro.

Sem as críticas pequenas e sutis que não levam a nada, Jesus nos ensina a construir um mundo onde a vida tem espaço para brotar, crescer e florescer.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Referência:

1. Mateus 7:1-3

 

quinta-feira, junho 06, 2024

O jardim e a insatisfação

Depois que o jardim que plantei floresceu, sempre que possível, sento na garagem para tomar café, curtindo sua beleza. E, nesta semana que passou, numa tarde, encantada com as flores lilás com o miolo branco, fotografei na esperança de registrar a beleza que estava vendo, mas a câmera não captou. Chamando minha atenção a diferença entre as flores que eu via e a foto delas, fiquei ali pensando na vida...

E me dei conta de que, nestes últimos dias, eu estou como aquela câmera que não consegue captar toda a beleza que sei que há em minha vida. Talvez por isso, uma insatisfação sorrateira tem se instalado em meu peito.

Digo em minhas orações: Obrigada Pai, por tudo, mas, na verdade do íntimo, eu pergunto: por que certas respostas nunca chegam? Por que temos que lutar diariamente, por anos, com os mesmos problemas? Por que parece que em algumas áreas não avançamos?

Percebi que é grande a batalha para não deixar a insatisfação instalar quando minhas expectativas são frustradas. E, mais acirrada, se torna quando se reveste de uma espiritualidade superficial, onde resisto a não visitar minha verdade.

Não é fácil lutar com o que está dentro, e sentada frente ao meu jardim, vi minha alma tentada a se dobrar ao peso de não encontrar as respostas.  Assustei-me com o quanto meus olhos podem se tornar maus, levando-me a experimentar as trevas1.  Ansiedade, estresse, depressão pode se tornar uma realidade, se eu não deter esta insatisfação que faz meus olhos não ver a beleza da vida que já recebi.

A verdade é que não ver o belo cansa e amarga a alma.

Cansada, corro o risco de parar e perder o que não para (o movimento de Deus na terra). Amarga, contamino a muitos, desanimando-os pelo caminho. Que tragédia!!!

Na busca de não me afundar em minhas insatisfações, percebi que minha maior tentação é ir em busca de estratégias, métodos, projetos, sonhos sem desfrutar do que já tenho em Cristo.  E descubro que nada é mais miserável do que isso.

Pois, nEle, somente nEle, os rios de águas vivas correm. É nEle que devo permanecer para desfrutar de tudo o que já conquistou para mim. É nEle, que o propósito é certo, e nada pode me tirar deste caminho. E toda vez que fixo meu olhar nEle, minhas insatisfações se dissolvem. 

Naquela tarde, no jardim, eu decidi manter os meus olhos nEle e deixar que a beleza das flores que estava vendo me falasse do seu cuidado já dispensado a mim. Quando me levantei para trabalhar naquele fim de tarde, dei minha última olhada para o jardim, e fiquei ainda mais encantada com a beleza que eu vi.

Roseli de Araújo 

Escritora e Psicóloga

Referência:

1. Mateus 6:22

 

 

sexta-feira, maio 24, 2024

 




Naquela manhã de domingo, no fim da atividade com as crianças, uma menina chegou bem pertinho de mim e baixinho disse: ‘Tia, eu não gosto do meu pai, ele é cachaceiro’. Surpreendida por sua declaração, passei os braços em volta dela e respondi que iria orar para que o papai deixasse de beber. Também, prometi que visitaria a sua casa. Ela assentiu com seus olhos tristes e foi embora.

Meu coração apertado ficou. Nossas crianças estão sofrendo. Os campos brancos para ceifa, estão tão perto de nós como aquela menina esteve de mim.

Mas, parece que não queremos erguer os olhos. Ver pode incomodar. Ver pode nos trazer compaixão. Ver pode nos fazer querer ser a resposta.

Em meio à minha angústia, lembrei de Isaías. Creio que ele viu os campos quando Deus perguntou a quem enviaria. Ele quis ir. Ele entendeu a grandeza da missão. Ele não deu desculpas do tempo, do trabalho, da família, dos projetos pessoais. Ele se dispôs a deixar a sua agenda. Ele quis ser a resposta para sua geração. Ele não tinha toda a revelação que já temos do reino, mas, com o que sabia, compreendeu que valia a pena perder a vida por amor ao seu Senhor.

Hoje, perdemos a noção de quem é o Senhor. Falamos que é Jesus quem manda, contudo, vivemos a vida que queremos, e não a que Ele propôs em sua palavra. E ainda nos enganamos, pensando que Ele aceita que vivamos de cabeça baixa, olhando só para o nosso campo...

A verdade, é que muitas crianças seguem como aquela menina de olhos tristes, esperando que a igreja se levante e leve a única palavra que pode dar esperança. E Jesus, não nos aceitará de mãos vazias.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

 

 

sexta-feira, maio 17, 2024

As pessoas têm inveja de mim?

 


Este é um assunto que não penso muito. Na verdade, gosto da minha vida, porém, sei que ela é muito simples, e não parece fazer sentido que alguém tenha inveja da forma que vivo.

Mas, conheço pessoas que tem receio da inveja. Elas não contam nada para ninguém, por medo que alguém as inveje, e seus planos sejam destruídos. Respeito quem pensa assim, porém, eu não creio nisso.

Diz um grande historiador que a inveja é um pecado envergonhado, logo, ninguém confessa que sente do outro. Na minha observação, nos meios em que convivo, percebo ser uma verdade, pois nunca ouvi alguém admitir que sentiu inveja de alguém. Eu mesma, nunca achei que senti.

Pensando sobre a inveja, cheguei à conclusão que o conceito não era muito claro para mim. Então, fui estudar. Fiquei assombrada com a quantidade de material sobre o assunto. Dentre eles, gostei deste resumo: todas às vezes que nos comparamos com alguém e nos sentimos diminuídos, a inveja ocorre. Também, ela é uma dor que nasce quando olhamos para a nossa vida e sentimos que algo está nos faltando.

Uau! Pensando apenas neste resumo... E lembrando-me de Eva que tinha tudo no Éden e ainda caiu no conto da serpente que algo lhe faltava... Senti um nó na garganta.

Sempre acho difícil avaliar a mim mesma. Dói mais do que avaliar outras pessoas. Contudo, cheguei à conclusão que, com a comparação, não tenho muito problema, já estou numa fase da vida em que sei que só posso me avaliar a partir da minha própria história. Mas, quanto ao que falta, vi que por vezes sinto dor, por não ter condição de fazer o que acho que seria necessário. Fiquei chateada. Que descoberta desagradável! Eu, que pensava não sentir nenhuma inveja.

Buscando direção para saber o que fazer com que descobri, voltei meus olhos novamente para o Gênesis, na busca de entender o que ocorreu com Eva, ao comer do único fruto, não permitido no Jardim.

Fiquei me perguntando como alguém com a vida perfeita e plena de alegria, morando num belo jardim, visitado por Deus no fim do dia e sem problema de relacionamento com Adão, deseja a única coisa que não pode ter? Como não foi capaz de avaliar que em sua vida nada faltava?

Sei que somos guardados por mistérios e só conheceremos como somos conhecidos, no futuro. Todavia, o texto traz uma verdade bem clara. A serpente em sua estratégia levou Eva a tirar os olhos de Deus, e voltar o seu olhar, para si mesma. Neste instante, desejou a única coisa que não tinha (e jamais poderia ter), o ser igual a Deus. E ao desobedecer comendo do fruto, é como se dissesse para Deus que tudo que recebeu não era tão bom assim, e, que tinha o direito de ser igual a Deus. Ao pensar assim, deixou de dar glória a Deus, propósito para o qual foi criada. Neste instante, creio, nasceu a inveja.

Que tragédia!!!

Por alguns momentos, minha alma ficou perturbada... Fui me dando conta que todas às vezes que eu volto os olhos para mim e vejo o que me falta, desejo o que não tenho, e alimento a inveja que já vive dentro de mim. E quando isso ocorre, sem temor, e nem sempre com palavras, falo para Deus que desconsidero o dom da vida, a saúde que tenho, a minha imagem no espelho, os recursos e trabalhos, as pessoas ao meu lado.

Que perigo! A inveja tem raiz profunda.

O escritor de Eclesiastes tem razão, “a inveja é a podridão dos ossos”2, porque me faz focar no que não tenho. Ela tem o poder de tirar os meus olhos de todo o bem recebido. Sem ver o que já tenho, deixo de louvar e agradecer a Deus, tornando-me amarga. E ao carregar o fardo da amargura, cala em mim, toda glória devida a Deus. Neste instante, deixo de cumprir o propósito para o qual fui criada.

Que tragédia!!!

Descubro que dar glória a Deus não é apenas falar algumas palavras de louvor em uma oração. É mais profundo. É uma postura diante da vida. É me dar conta que tenho muito mais que julgo merecer. É crer de verdade que não tenho, diante dEle, nenhum direito para reivindicar.

O caminho não me parece fácil. 

Todavia, percebo que viver sem dar glória a Deus é ficar e manter-me doente em todas as dimensões da vida. Meu coração não encontra âncoras. Sem a clareza do cuidado pleno de Deus em minha vida, sou capaz de mergulhar fundo nas águas da ansiedade e angústia. E até mesmo, o mais leve vento, pode abalar-me.

Então, decido que vale a pena a jornada na certeza que Deus fez tudo certo. Nada está atrasado. Mesmo agora, fora do jardim e vivendo os embates das relações humanas, Deus em Cristo, me abençoa com toda sorte de bênçãos3, e, me permite entrar em Sua Presença, onde pode posso buscar todo suprimento para a falta que o pecado gerou mim4.

Quanta graça. É mesmo um rio de águas vivas, a trazer o jardim de volta, por onde corre dentro de mim.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

Referência bíblicas:

1. Gênesis 3;

2. Provérbios 14:30;

3. Efésios 1:3;

4. Hebreus 4:16.

quarta-feira, maio 08, 2024

É difícil ficar numa rua sem saída

 


Você já conviveu com uma pessoa que te faz sentir que está numa rua sem saída? E ainda que disponha de tudo o que está ao seu alcance, ela nada aceita. Você vê as soluções, mas, ela resiste com toda a força a tudo que pode ajudá-la. E mesmo sofrendo, se apega às suas escolhas, como se fosse a causa de sua vida.

Quem está do lado fica com a sensação que a morte as espreita... Ela parece beber do veneno do suicídio em doses homeopáticas. E como é difícil respeitar, nela, o acelerar a morte... Não é fácil compreender o que as faz resistir, ao que lhes daria alívio.

Por vezes, queremos salvá-las. Logo, descobrimos que a missão é impossível. Sem conseguir, muitas pessoas, desesperam. Outras tantas adoecem junto. Não é fácil não ver luz no fim do túnel.

Por vezes, a raiva brota. A teimosia de quem não quer ajuda, não nos poupa de problemas que poderiam ser evitados ou minimizados. E nos vemos muitas vezes forçados a andar com os pés quebrados. Meu Deus, como dói cada passo.

Fico tentada a pensar que, quando uma pessoa decide por caminhos de morte, o que mais as motiva é o egoísmo na sua dimensão mais profunda. Pergunto: Ela deixou de amar aqueles que estenderam suas mãos na sua direção? Ela não considera tudo o que está sendo feito? Não entendo. O egoísmo tira a visão de quem está do lado. E não ser visto, é não ser amado, e sem amor a vida fica tão sem beleza...

Será que nos resta apenas sentar no meio-fio, nesta rua sem saída, sob o peso do cansaço da impotência?

Não! Graças a Deus, não!

Jesus nos convida, nesta rua sem saída, a olhar para cima (Mateus 6:28,29). Quem olha para cima verá o estilista da esperança. Aquele que veste os lírios dos campos com as mais finas roupas. E das ruas sem saídas, Ele faz seu ateliê, nos tornando, dia a dia, mais parecidos com Jesus. Quanta beleza!

Também, Jesus entende o que é morrer por quem só escolhe o pior. Ele voluntariamente se entregou por mim e você. Ele nos ensina que o peso de tentar entender as pessoas é maior do que o peso de simplesmente amá-las.

Que Ele nos ajude.

Roseli de Araújo 

Escritora e Psicóloga

quarta-feira, maio 01, 2024

Um amigo preso, mas livre. Como?

https://www.jusbrasil.com.br/artigos/voce-ja-foi-a-um-presidio-um-relato-da-minha-primeira-experiencia-em-um-presidio/311734612


Tenho um amigo, que vou chamar de António, nome fictício, que foi preso sem ter cometido o crime o qual foi acusado. Foi absolvido na primeira instância por falta de provas. Porém, o advogado de acusação recorreu, e o seu advogado perdeu o tempo da defesa, e ele foi sentenciado a mais de 9 anos de prisão.

Ao saber vivi um misto de raiva e tristeza pela injustiça. Pois, de todos os ambientes que julgo terrível, presídio me parece um dos mais tenebrosos.

Um dia orando pela sua vida e de sua esposa, senti em meu coração que deveria escrever para ele. E assim fiz. Ele me respondeu por meio da sua esposa. 

Ao ler sua carta fiquei surpreendida e, ao mesmo tempo, envergonhada. Pensei que encontraria alguém amargurado e emocionalmente quebrado. Mas, veja o que ele me respondeu: 

'Como amei sua carta, é como degustar de uma comida refinada que alimenta a alma... E as palavras são como abraços que faz sentir o afeto e o carinho de uma amizade tão sincera que constrange o coração. Poder me comunicar com você e seu marido é um privilégio incomparável. Aqui o deserto de afeto e carinho é tão grande que receber uma carta, uma visita, tem grande significado, que não tenho palavras para expressar. Aqui é Deus que faz a diferença cada dia me fortalecendo para enfrentar o dia a dia e vencer, sem desfalecer na alma. Sei que tudo isso vai passar, e só vai restar o testemunho dos cuidados de Deus. Depois de tudo que vivi com Deus e presenciei, a minha fé está firmada e minha alma convicta que no final é vitória em nome de Jesus Cristo. E todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito. E os propósitos de Deus são sempre para melhor e nunca para pior, ainda que hoje não entendemos, o amanhã vai trazer clareza, e vamos glorificar a Deus´.

Meus queridos amigos, estas são as palavras de um homem preso injustamente.

Ele segue: `As palavras que eu falo não são palavras ao vento, mas que sai do coração. O salmista diz no salmo 45 que de boas palavras transborda o meu coração e a minha língua é a pena de um habilidoso escritor. E a bíblia diz que a boca fala do que o coração está cheio. Minha irmã, em breve estaremos juntos, para glória de Deus.  Que Deus abençoe você e seu marido e continue acrescentando em suas vidas. A única coisa que eu posso falar é gratidão. A minha saúde esta estável e estou passando por um cardiologista que é muito bom, e esta me dando toda atenção. O pior já passou, em nome de Jesus estou caminhando para vitória e reta final`. Ao finalizar a carta me pediu para dar atenção para sua esposa.

Sua esposa me contou que ele não para de pregar no presídio. Lá, tem ganhado muitos homens para Jesus. 

Fico muito impressionada com sua postura. Ele não se sente vítima, mesmo sendo. Ele compreendeu quem é o Senhor da sua vida. Ele creu na soberania divina. E seu coração encontrou descanso em Deus.

Ao terminar de ler sua carta fiquei constrangida. Ela expôs minha fé. No primeiro momento, eu quis acreditar que Deus escolhe gente para ser mais espiritual. Mas, sei que isso não é verdade. A Palavra e o Espírito Santo foram dados a igreja - eu e você - que cremos em Jesus.

Somos nós que não vivemos a radicalidade da nossa fé, porque preferimos viver um evangelho customizado (customizar é fazer com que algo fique do jeito que a gente deseja). Um evangelho que obedecemos só o que nos interessa. Um evangelho de orações onde nossa busca é obter de Deus, o favor. Um evangelho sem cruz, onde não abrimos não de nada para servirmos ao Senhor, e ainda apresentamos nossas desculpas do trabalho, da família, e de tantas outras coisas... Hoje não temos tempo nem para ler a Palavra e a oração sempre pode esperar, (nem mesmo no domingo, nosso dia reservado para o Senhor).

E por isto, quando o sofrimento chega a nós, reclamamos. Ficamos ressentidos com o não de Deus. Falamos que Jesus é o Senhor, mas, por Ele, queremos ser o tempo todo servidos...

E por isto, nossa alma está sobrecarregada, ainda que Ele nos convide a vir até ele, para aprendermos a ter coração manso e humilde, e assim encontrarmos descanso para nossa alma. Nós preferimos carregar o fardo de termos direitos e do orgulho.

Li e reli sua carta. E minha conclusão é que meu amigo que está preso esta muito mais livre que eu e muitos irmãos amargurados e cansados que cruzo pelo caminho.

O meu amigo se rendeu ao Salvador e Senhor da sua vida. Ele desfruta de uma riqueza que riqueza nenhuma pode comprar. Ele tem paz e descanso. Suas cadeias não foram capazes de torná-lo, mais ou menos feliz. Ele descobriu que a paz e alegria não está na sua liberdade, no seu casamento, nos seus filhos, no seu trabalho, nos seus amigos, nos seus estudos. Ele compreendeu que tudo que precisa está tão somente em Deus.

Meu amigo preso esta livre como eu desejo esta.

E você?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

(62) 982385297

quarta-feira, abril 17, 2024

As estradas mudam quando a direção muda.

 

Em 2016, eu e Orlando nos casamos e moramos em Anápolis por 2 meses. Depois, fomos convidados para ir para Missão Vida em Cocalzinho, e lá ficamos por 5 meses. Em fevereiro de 2017, fomos para Goiânia, e lá ficamos por 2 anos e 4 meses. Convidados para ir para a Missão PRONASCE, aceitamos e ficamos por mais ou menos 3 anos. Em agosto deste ano, faz 2 anos que estamos em Querência. Nestes 8 anos de casados, já estamos na quinta cidade.

Destas mudanças, algumas não foram fáceis de fazer, outras, muito desejadas, outras, meu coração não compreendeu, mas o Orlando tinha certeza, então Deus me deu paz.

As estradas novas guardam seus desafios... Deixamos lugares que se tornaram familiares, jardins que cultivamos com carinho, pessoas que gostaríamos de levar, não só no peito. E para os novos lugares a que somos levados, eles se tornam familiares, novos jardins são iniciados com o mesmo carinho e conhecemos pessoas, as quais queremos para toda a vida.

Todavia, a vida tem o seu próprio tempo, e no seu compasso somos convidados a alinhar os passos, na certeza de que o Imutável é quem nos leva a trafegar nas estradas, para cumprirmos seus propósitos.

Nem sempre, as pessoas entendem. Muitos acham que deveríamos escolher um lugar para lá fixar a nossa casa. Às vezes, lá, no fundo, eu fico inclinada a concordar... Mas, quem é que pode mesmo traçar a sua própria agenda?1

O que sei é que não quero estradas que vão levar a tempestades desnecessárias, colocando muitas pessoas em risco. Não quero ser tragada por nenhuma baleia para ser vomitada na cidade que Deus quer me levar. Prefiro ir para Nínive a pegar o navio para Társis2.

Não é fácil quando as estradas mudam. Desmontar a casa, arrumar malas para depois montar de novo e desfazer as malas. É cansativo.

Contudo, há um rio de águas vivas que brota dentro da gente e por onde passamos há paz, há alegria, há novos encontros, há plantas nascendo, há pedras que são roladas, outras lapidadas. Este rio não seca, antes mata a nossa sede e a de todos que vamos encontrando pelo caminho. É algo lindo.

Não sei quando as estradas novamente vão mudar. O que sei é que não há outra vida que eu queira viver.

A Ele, toda gratidão por ter me escolhido.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga online

Referência:
1- Proverbio 20:24

2- Jonas 1-4

quinta-feira, abril 11, 2024

Quando o normal se torna tentação

 
                                                                                https://www.ccibbrasil.com.br/74-tentacao-tres-coisas-sobre-ela/

 Duas situações me incomodam: a primeira é quando vou entregar algo para um necessitado e as pessoas que doaram pedem para tirar foto. Sei que é um meio de transparência. Entendo as razões. A corrupção em nosso país tem raiz profunda. Os dias são maus, e cada vez mais pessoas se beneficiam de causas sociais. Todavia, fico pensando que se eu estivesse no lugar destas pessoas, não gostaria de ser exposta em minha necessidade.

A segunda, é quando sou obrigada a tirar fotos e postar o que faço para servir às pessoas em minhas redes sociais. Acho tudo muito cansativo e perigoso... Mas, o mundo virtual é uma realidade a qual não podemos negar. Temos que nele estar.

Tenho 52 anos, talvez, por ser de uma geração que conheceu a máquina de datilografia, ainda, dentro de mim, não encontrei um lugar confortável para tais práticas...

Porém, tenho certeza de que a maior parte deste desconforto nasce do que já sei de mim. Meu coração é geografia estranha, e nele, não posso confiar1. Ele pode me levar para longe de onde quero estar. E é tênue a linha que dividi a humildade sincera e minha tendência à vaidade. Sim, eu amo ser o centro da atenção, amo os elogios, amo os likes e os emojis que me dizem que sou especial. É claro que não acho errado receber atenção, elogios, likes e emojis. O problema é o que eles podem causar dentro de mim.

Nestes dias, em que a tentação de ser vista ficou alimentada por este mundo virtual, as palavras de Jesus me perturbam. Ele diz que não devo exercer a minha justiça diante dos homens para ser vista por eles, pois não terei galardão junto ao Pai celeste. Jesus também ensina que, ao dar esmola, não devo tocar trombeta como fazem os hipócritas, que buscam ser glorificados pelos homens, porque já terei recebido minha recompensa.  Jesus, ainda sobre este assunto, ensina que a mão esquerda deve ignorar o que faz direita, porque o Pai vê em secreto, e vai recompensar’2.

Sim, eu quero o que Deus me dará no futuro. Porém, agora, sei do desafio que carrego no peito.

O que me consola na minha inquietação, é a certeza de que ‘aquele que começou a boa obra em mim, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus’3.  Até lá, peço a Ele que me ajude a ficar alinhada com o coração do Pai.

Que eu jamais me esqueça de que cooperar no seu reino, só é possível a mim, porque Ele mesmo, em sua imensa graça, me escolheu, me capacita e me supri, para que eu possa servir aqueles a quem Ele ama.

A Ele, tão somente a Ele,  toda glória por nos amarmos tanto assim.

Roseli de Araújo

Escritora e psicóloga clínica online

  Contato: (62) 982385297

Referências: 

1. Jeremias 17:9

2. Mateus 6: 2-5

3. Filipenses 1:6





quinta-feira, abril 04, 2024

Histórias da minha avó Mariana.



Tem pessoas que são diferenciadas. Minha avó Mariana era uma delas. Ela tinha um riso solto e alto. Era maravilhoso vê-la contar a história de uma tia que tudo começa com é. Ela falava mais ou menos assim: émariana, ébom, éboatarde... Sempre que encontrávamos com a avó, eu e meus irmãos, pedíamos para contar esta história. Não sei se queríamos rir da tia, ou gargalhar com a avó.

Para ela, não havia pessoas estranhas. Minha mãe conta que, quando eu era criança, era como ela, mas os anos passaram e fiquei um pouco mais seletiva. Minha avó conservou sua criança viva. E aonde ia fazia amigos e era querida.

Quando se converteu ao evangelho, não perdia oportunidade de falar de Jesus. Desconfio que, até para o vento, pregava. Normalmente, os filhos passavam vergonha ao sair com ela, porque sem nenhuma cerimônia, abordava uma pessoa e logo começa falar um texto decorado (que infelizmente eu me esqueci), mas que falava de Jonas na barriga do peixe por 3 dias, e ele clamou e Deus o tirou, assim Jesus, no getsêmani, chorou lágrimas de sangue, foi crucificado, morrendo na cruz em nosso lugar. E assim que declamava o texto, convidava a pessoa para receber Jesus.

Certa vez, ela veio para Goiânia para consultar com um médico oftalmologista. Fui com ela tirar a guia, e quando chegamos lá, havia um tenente-coronel que dava a autorização. Enquanto esperávamos por ele, ela falou de Jesus para todos que estavam na sala de espera. Uns ouviam de bom grado, outros torciam o rosto, mas a avó continuava, como se nada tivesse acontecido. Quando o tenente veio até a porta chamá-la, todo educado, ela olhou bem para ele, passou a mão em seu rosto e disse: meu filho, como você é lindo (e era mesmo), Jesus te ama. E citou o texto decorado. Vi quando aquele homem, imponente em seu uniforme, não conseguiu conter as lágrimas. Ele a conduzia para sua sala, e depois ela me contou que ele pediu oração e agradeceu.

Eu a achava muito divertida, e creio que a maioria dos netos. Hoje, sei que não perdeu a criança dentro dela.

Certa vez, ‘os discípulos de Jesus perguntaram para ele quem era o maior no reino dos céus, e Jesus, chamando uma criança, a colocou no meio deles, e respondeu: eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome está me recebendo’1.

Minha avó se converteu. Ela se humilhou ao ouvir a voz de Jesus. Ela creu que Ele era o seu salvador. Ela era uma criança linda.

Quando penso nela, lágrimas caem em meu rosto, enquanto meu coração sorri. Quero, como ela, anunciar a Jesus até para o vento.

E por falar... Você quer conhecer a Jesus? Ou, você quer pregar até para o vento?

Roseli de Araújo

Psicóloga e Escritora.

Referência:

1.        Mateus 18:1-4

quarta-feira, março 27, 2024

Um convite de Jesus



 Jesus sempre me convida para observar os pássaros1. Contudo, para isso, é preciso fazer uma pausa na correria do dia e erguer os olhos aos céus. Perguntei a Ele: Como tirar tempo Senhor, em meio a tantos afazeres?

Pensando na agenda da casa, do trabalho, da igreja, da escrita e um cachorro, a missão pareceu impossível.

E o convite de Jesus, que era para acalmar a alma, deixou-me um pouco ansiosa. Percebi que não o obedeço, ainda que eu diga que Ele é o Senhor da minha vida.

Contudo, Ele não desiste. E mais uma vez, pela sua palavra, me manda observar os céus.

Desta vez, dou uma pausa e ergo os olhos, Ele sussurra: os pássaros não semeiam, não colhem e nem ajuntam em celeiros, contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?1

Uau!!! Entendi. Quem olha só para a terra, não pode ver o Deus que a tudo sustenta. Quem olha só para a terra não sabe o valor que tem para Deus. Quem olha só para a terra, não pode ter paz de espírito.

Senhor, perdoe-me e ajude-me a fazer as pausas e a erguer os olhos.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Contato pelo Whatsapp(62)982385297

Referência:

1. Mateus 6:26


sábado, março 23, 2024

Eu queria ter o “lombo grosso”



 

     Tenho pensando que eu queria ter o “lombo grosso”, aguentar as críticas sutis e veladas, as abertas e falsas, as traições, as injustiças, a ingratidão...

    Percebo que embora me esforce, e muitas vezes até consiga deixar de lado o que eu não gosto, um incômodo inconveniente sempre me visita, quando não consigo compreender você.

    Por vezes, ferida, considero me fechar em meu próprio mundo. De muralhas em pé, as pedradas não me acertariam tão fácil. Contudo, sei que as muralhas que me protegeriam das pedras, são as mesmas que me impediria de ver, olhar, tocar e cheirar você, me expondo a uma solidão para a qual, não fui criada. Então, o confortável, desconfortável fica. A verdade é que eu preciso de você.

    Por um instante, sinto que estou numa corda bamba. Sei que posso cair e machucar, como sei que sem caminhar pela corda, não irei ver toda a beleza que só a nossa relação possui. Não há mar, não há flores, nem  um céu estrelado, que sejam tão belo quanto aquele mar, flores e céu que podemos ver juntos.

    Em meio as minhas incertezas se devo me arriscar a estar com você, volto meus olhos para Jesus, e fico admirada. Como ‘Ele sendo Deus, se esvazia de si mesmo, toma forma de servo, fazendo-semelhante ao homens, e achado na forma de homem, humilha a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz1?

    Por um momento, tento me justificar, afinal, era Jesus. Todavia, minha alma se agita, como as folhas, num dia de ventania.

    A verdade é que dói muito estar exposto ao que você pode me dar. É como se uma serra estivesse enfiada em minha carne, e dependendo do movimento, pode cortar e sangrar.  Então, tudo o que desejo é me proteger.

    Mas, ao fitar Jesus, tudo que vejo é Ele se expondo por mim. Fico constrangida com a profundidade que Ele mergulhou por me amar. Sem temer a fragilidade humana, se dispôs a experimentar nossa vulnerabilidade. Voluntariamente desceu para a arena, a qual, eu tantas vezes quero distanciar  Ele veio abrindo mão dos seus direitos, e como um pai que abaixa para conversar com sua criança pequena, se colocou em nossa estatura, para que pudéssemos vê-lo..

    É fantástico! Admirável! De um belo que nada neste universo se iguala.

    Ao ver tanta beleza, um misto de alegria e tristeza me invade. Sinto-me alegre por ser amada, e, triste por ainda estar tão longe de ser como meu Senhor e Salvador.

    Sua presença me faz ver o quanto o meu coração, ainda, não conheceu a sua mansidão e humildade. Meu coração se sobrecarrega quando o outro parece não me amar ou respeitar.

    Contudo, na presença dele, ouço sua voz a dizer: Venha, eu vou ensinar você a amar2.


Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Referência:

1. Filipenses 2:5-8;

2. Mateus 11:28-30

 

 

 

   

quarta-feira, março 13, 2024

Súplicas de um cuidador 3



                                                           Foto do site https://seres.vet/blog/gato-com-raiva/


Não te importa que eu sofra com algo que jamais sofreria, se, simplesmente, você cuidasse de você?

Desculpe-me, mas, quando todos sinalizam que não está bem, que precisa de ajuda e você não reconhece, uma raiva brota. É claro, nunca falo sobre ela.

Não compreendo, quando, por insistência, vai ao médico ou ao psicoterapeuta e se nega a tornar o remédio ou a encarar que precisa falar do que carrega no peito.

Tem dias que fico a pensar: O que fazer para te convencer a fazer o que é melhor para você?

Confesso, vejo minhas forças escapando por todos os poros... Estou cansada de ver e ouvir você dizer não para o que poderia trazer alívio para todos nós.

Como eu gostaria que, em algum momento, conseguisse vislumbrar o que é viver com você, quando decide se trancar no mundo da sua doença.

Gostaria que, por apenas 10 minutos, pudesse se colocar em meu lugar e saber o que é viver lado a lado, com você.

Ultimamente, acordo com o desejo de ir embora. Mas, não consigo. Ainda não... Algo em mim diz que não posso ser tão egoísta como você.

Imagino que já esteja ofendido com minha verdade. Afinal, ao doente toda razão é dada. Mas, só faz isso quem está longe. Para quem está perto, fica a dor do desrespeito sendo vivida.

Sei que deseja ser respeitado. Só você? Não vê o custo que é estar ao lado de quem não busca para si, o melhor?

A casa antes alegre agora cheira a dor. As portas estão fechadas. As janelas nunca abertas. O silêncio que exige reina. E os risos não mais podem ser ouvidos. Você não aguenta mais nada além de você.

Que triste!

Ouvi que a doença tem o molde do doente. Ele é quem decide como vai viver sua doença.

Sim, você insiste em fazer da sua dor, a sua vida. Você se tornou algoz de ti mesmo, e não mais contempla os caminhos de cura.

Eu aprendo que esta estrada do não cuidado é sua.

Quanto a mim, escolho fazer da vida o maior presente. Sim, eu também escolho respeitar que você faz o que dá conta, embora meu coração lamenta.

Quanto à jornada à frente, eu decido não mais viver escrava da sua escolha de amar mais sua doença.

Roseli de Araújo

Psicóloga clínica e escritora