sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Ser Crente, Ser humano


A data do lançamento será marcada assim que o local estiver confirmado. Até lá, estarei compartilhando nos blogs trechos do livro. Para os amigos que me acompanham, vão lá no novo endereço do blog, é um espaço muito mais interativo e logo estarei postando apenas lá :http://asdiversascarasdamente.tumblr.com/ 


Introdução do livro Ser Crente, Ser Humano.

Às vezes, vivemos noites tão escuras que nem a perspectiva do amanhecer parece trazer algum conforto para a alma. O sofrimento é tanto que em vão tentamos descrevê-lo! O corpo dói, o coração fica apertado no peito, como se estivesse seguro por mãos que o esmagassem com força, por vezes um suspiro é arrancado do íntimo e você se assusta com a intensidade dele. Lágrimas surgem espontaneamente; ainda que tentemos não chorar, elas, teimosas, molham o rosto; outras vezes, elas secam e em vão buscamos chorar a angústia que nos oprime, e descobrimos que estamos como nascentes cujas matas ciliares foram destruídas. Percebemos que muita coisa morreu dentro da gente, apesar de estarmos vivos, e a dor que experimentamos nos transforma em outra pessoa, ficando a sensação de desconforto. Agora convivemos com um estranho dentro de nós.

E, mesmo nesse estado dolorido e sem força, percebemos que as pessoas ao lado não suportam o nosso pranto. Temos então o desprazer de descobrir que o choro, tão necessário, pode desequilibrar os que estão por perto, e que estar em uma sociedade que aprendeu a não lidar com o sofrimento pode ser uma experiência muito solitária!
Em casa, queremos poupar a família. Na igreja, quando ousamos compartilhar, tantas vezes escutamos exortações que nos são feitas sem que sequer sejamos ouvidos. Os irmãos nos dizem para termos mais fé, nos lembrando que “tudo coopera para o bem dos que estão em Cristo Jesus1. E mesmo esses preciosos e verdadeiros versículos bíblicos, nesses momentos, podem não fazer nenhum sentido, porque a dor que nos fere pode nos desequilibrar, tornando-nos fragilizados e expostos a uma tentação até ali inimaginável, gerada pelo sofrimento. No que vai contribuir a morte de um filho que tinha toda uma vida pela frente, um filho que se declara homossexual, um divórcio, um marido que escolheu outro homem, a violência de um estupro, uma doença que imobiliza para sempre quem até então andava, a amputação de um membro, o roubo que nos tira o que por anos foi construído com a força do trabalho? Diante dos absurdos que podemos viver neste mundo – que jaz no maligno2 –, a alma grita: como tudo isso vai “cooperar”? É loucura! E nos sentimos ainda mais esmagados, até culpados, porque sabemos: o que nos é dito é a Palavra de Deus.
Porém, nessas noites escuras, a fria citação de versículos como se eles fossem poções mágicas, sem o envolvimento daquele que nos “ouve”, pode produzir em nós uma raiz de amargura que, se alimentada, vai nos “privar da graça de Deus e ainda contaminar muitos”3.
Em relação a Deus, podemos pensar: ‘bem que Ele poderia ter nos livrado daquela situação, não é Ele poderoso e soberano?’... Porém, não ousamos falar! O temor que nos resta diante de um Ser Poderoso sem misericórdia não nos permite verbalizar, e em sociedade seríamos certamente repreendidos.
Passamos então a conviver com uma raiva mantida sob um véu de tule, que na verdade não a oculta – embora seja essa a sensação psicológica – e, na medida em que assim vamos seguindo, desenvolvemos uma indiferença que nos torna tão frios como os túmulos de mármore nos tempos de inverno.  E vamos ficando secos da vida abundante prometida4, porque os rios de águas vivas que correm dentro daqueles que creem em Jesus, como dizem as Escrituras5, estancaram-se em nós “de repente”.
Sonhar? Parece-nos filme de ficção científica. E, cansados, vamos desistindo de muitas coisas ao longo da vida, e quando alguém nos aponta alguma esperança, é com desdém que a olhamos.
 A morte, essa indesejável, torna-se um anseio não confessado. Contudo, o que se revela nas entrelinhas das nossas palavras é que morrer é muito melhor do que viver, e se o Todo-Poderoso nos permitisse, ah... se Ele nos consentisse... que alívio seria!
A igreja, antes tão importante, agora perde o valor, deixamos de ir ou, se continuamos a frequentar os cultos, é por causa do hábito religioso adquirido e por ser o único meio social a que estamos acostumados, porém não queremos comunhão: na verdade, a tememos. É claro que isso também não expressamos, porque certamente escandalizaria muitos.
E adoecidos seguimos, sufocando o choro, a angústia seca de lágrimas e a raiva disfarçada de ironia. Mas, se assim nos encontramos, precisamos de forma urgente – “pra ontem” – buscar ajuda.

Esse livro foi escrito por quem assim já viveu, mas que voltou a beber na fonte das águas vivas. E eu o convido a essa leitura, que não precisa ser sequencial, pois cada capítulo trata de um tema, com o único desejo de que A Vida prometida por Jesus volte à sua vida.
Referências:
1 Romanos 8:28
2 I João 5:19
3 Hebreus 12:15
4 João 10:10
5 João 7:38