quarta-feira, março 13, 2019

Saúde emocional e os ensinos de Jesus - O problema do julgamento


O julgamento precipitado sobre qualquer pessoa e situação é algo que traz prejuízos em pequenas e grandes escalas. Quando Hitler julgou que os alemães eram a melhor raça e conseguiu influenciar tantos ao seu redor, o mundo presenciou uma das maiores barbáries da história. Mas, todos os dias podemos cometer pequenas barbáries ao emitirmos sobre as pessoas e situações nossas opiniões.  Portanto, considere que os nossos julgamentos, embora tantas vezes nos pareçam tão sem maldade ou malícia, eles estão sendo formados, não só pela realidade a qual nos apresenta no aqui e agora e que não temos todo acesso, mas também pela soma de tudo o que trazemos.
Por esta razão, os ensinos de Jesus Cristo sobre o julgamento fazem tanto sentido. Ele diz:
"Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?
Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”
(Mateus 7:1-5).
Neste texto, Jesus descreve com maestria a realidade humana que julga ver o cisco no olho do irmão quando na verdade está com uma trave em seus olhos. Contudo, quem com uma trave - um bastão de madeira nos olhos poderia vê cisco no olho de outra pessoa?
O que Jesus afirma é que não somos capazes de ver a realidade de forma plena. Sempre nos faltarão informações para que os nossos julgamentos sejam imparciais, justos. Para a psicologia isso também é uma verdade, uma vez que nossos olhos nos permiti ver o mundo através das grossas lentes da nossa subjetividade,  a qual Jesus neste texto, chama de trave.
Para a psicologia, nós precisamos compreender que a visão de mundo que carregamos passa pelo viés da nossa bagagem interna, do nosso jeito de ver a vida que foi forjado em nós pelos nossos pais ou cuidadores, pelo momento histórico vivido e os eventos que marcaram nossa vida.
E neste texto Jesus com poucas palavras aponta uma realidade psicológica de que o humano não é capaz de ver o óbvio de si mesmo, por está razão deve não fazer julgamentos.
Do ponto de vista psicológico uma pessoa só fará um julgamento justo quando for capaz de abandonar seu juízo de valor – sua subjetividade, seus preconceitos adquiridos e a influência da sua cultura sobre o seu olhar para o mundo. Tarefa complexa.
Jesus também alertou para a realidade das conseqüências do julgamento ao dizer que quem julga será julgado. Psicologicamente falando, quando uma pessoa é alvo da falta da compreensão do outro, ele sofrerá dores que poderão levá-lo a reproduzir a atitude daquele que o machucou. Morre então o diálogo. Nasce o abismo entre os corações que não se compreendem, iniciando um ciclo doentio nas relações. Na clínica é possível perceber que normalmente as pessoas se relacionam com o que pensa que vê sobre o outro e não com sua realidade de fato.
O julgar devasta as nossas relações. Contudo, Jesus deixa subentendido que precisamos um do outro para enxergamos sem nenhum incômodo, ao dizer para tirarmos a trave dos nossos olhos primeiro para então vermos claramente e assim tirar o cisco do olho do irmão. Ele está dizendo que só quem viu sua trave tem misericórdia para estender as mãos e ajudar seu próximo em seu problema.
Mas, não é fácil reconhecer a trave que está em nossos olhos. É preciso humildade e sinceridade, contudo, este é um caminho que deve ser percorrido para que as relações humanas sejam saudáveis.
Jesus em poucas palavras fala com seus discípulos de uma questão grave, capaz de destruir as pessoas, e aponta uma solução a qual todos nos podemos trilhar.

Roseli de Araújo
Psicóloga clínica