terça-feira, janeiro 16, 2024

O fim do começo

 


Foto do passarinho tombado


Era bem cedinho quando as mulheres foram ao túmulo de Jesus.

Também, era cedo, quando fui para área de serviço buscar uma vassoura, e vi um passarinho tombado na calçada.  Seus olhinhos estavam abertos, mas sem o brilho da vida, aquele ser tão pequenino, me pareceu tão sem beleza.

Eu precisava retirá-lo de onde estava. Fiquei hesitante. Peguei a pá, e algo dentro de mim jorrou pelos olhos.  Não contive. Já aprendi a conversar com o que não entendo.

Sentei no chão, próximo de onde estava. Não queria jogá-lo no lixo. Fiquei imaginando-o minutos antes, voando pelo céu azul. Enfeitando. Se abrigando das chuvas em algum telhado. Espalhando sementes... Depois que entramos na meia idade, o fim se torna um lugar bem perto. E por mais que a cultura nos impõe não falar deste assunto, o fim, se torna concreto.

Pensei nos queridos que foram. Nas boas conversas, em abraços apertados, em mãos dadas, nas mesas compartilhadas, nos sorrisos, no tom das vozes ... E a saudade que chegou sorrateira, se instalou, quase por inteira.

Fiquei ali por alguns minutos, e me lembrei que era cedo quando as mulheres viram o túmulo, vazio, de Jesus.

Que consolo! Que promessa!

Naquela manhã, Ele fez do fim,  o começo. E o passarinho, mesmo tombado, não mais me pareceu tão feio.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga