Era bem cedinho quando as
mulheres foram ao túmulo de Jesus.
Também, era cedo, quando fui para
área de serviço buscar uma vassoura, e vi um passarinho tombado na
calçada. Seus olhinhos estavam abertos,
mas sem o brilho da vida, aquele ser tão pequenino, me pareceu tão sem beleza.
Eu precisava retirá-lo de onde
estava. Fiquei hesitante. Peguei a pá, e algo dentro de mim jorrou pelos
olhos. Não contive. Já aprendi a
conversar com o que não entendo.
Sentei no chão, próximo de onde
estava. Não queria jogá-lo no lixo. Fiquei imaginando-o minutos antes, voando
pelo céu azul. Enfeitando. Se abrigando das chuvas em algum telhado. Espalhando
sementes... Depois que entramos na meia idade, o fim se torna um lugar bem
perto. E por mais que a cultura nos impõe não falar deste assunto, o fim, se torna
concreto.
Pensei nos queridos que foram.
Nas boas conversas, em abraços apertados, em mãos dadas, nas mesas
compartilhadas, nos sorrisos, no tom das vozes ... E a saudade que chegou
sorrateira, se instalou, quase por inteira.
Fiquei ali por alguns minutos, e
me lembrei que era cedo quando as mulheres viram o túmulo, vazio, de Jesus.
Que consolo! Que promessa!
Naquela manhã, Ele fez do fim, o começo. E o passarinho, mesmo tombado, não mais me pareceu tão feio.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga