quinta-feira, junho 05, 2025

O pior de está perdido

 



Tenho aprendido que pior do que estar perdido é não se reconhecer perdido.

O perdido é tantas vezes como o filho pródigo na casa do pai. Deseja um mundo lá fora que não tem nada a oferecer, sem ser capaz de avaliar o quanto recebeu durante toda sua vida. Não consegue ver o quanto está guardado pela autoridade justa e carinhosa do pai, e sai a buscar na liberdade o que ela não pode oferecer.

O perdido despreza o colo da mãe, as brincadeiras com os irmãos, a presença de todos os que lhe servem na casa em que lhe foi permitido nascer. Ignora as festas vividas, o riso na mesa, o teto confortante que o abriga.

O perdido ambiciona encontrar outros que lhe permitam viver tudo que tiver vontade, sem avaliar que os fins de alguns desejos podem esmagar uma alegria sonhada.

O perdido, dos seus lábios, gratidão não jorra e nem é capaz de reconhecer que só vive o que se quer, porque está bancado por aquele que sustenta a vida. 

O perdido rompe com aquele que ama, na ilusão que encontrará outros amores. E ao exigir o que não tem direito, semeia como se a colheita não fosse chegar.

Olhando para o filho pródigo, fico com a certeza que quem está perdido vive como se fosse uma estrada de lama em dia de chuva, onde o perigo se concreta. Pois, o perdido não vê onde está e fica sem perceber que não se encontrou. Não reconhece o não saber a direção e segue na estrada errada, gritando a pleno pulmões que sua escolha é a certa. Sem admitir que o seu saber nada faz na vida que se faz, se torna incapaz de avaliar que a força e os recursos que julga ter são apenas ilusões de uma proteção que o tempo destruirá.

O triste do perdido que não sabe que está perdido é que, por si, nada poderá fazer. Sem se vê, não pode recalcular a rota, nem reconhecer o coração endurecido pela vaidade de se achar onde não está, e de não buscar o Senhor enquanto se pode achar(1).

Olhando para o Filho pródigo, fico a pensar: onde estou perdida? Existe em mim algum olhar que não vê? Qual é o direito que eu julgo ter? Em que tenho deixado o pai para viver o que suponho ser bom? Diante das perguntas que faço, minha alma suspira por uma clareza que me livre de mim.

Confesso: Não quero ter o triste fim de quem não se viu perdido, embora eu saiba que é possível, como foi ao filho pródigo, encontrar o caminho de volta. E, graças a Deus, pela graça que nos permite recomeçar. Mas, o que prefiro é nunca sair da casa do pai que para mim foi conquistada, vivendo como gente que sabe que por Cristo foi encontrada.

(Texto Baseado em Lucas 15)

Escritora e psicóloga

Roseli de Araújo

Referência

1.Isaias 55:6