Se...

 

 

Se em 2024,

Um peso no peito anuncia uma manhã nublada. Mas, o sol nasceu no horizonte. Escolhe se expor aos raios de luz.

Um peso no peito anuncia um dia nada fácil. Mas, sempre há opções sobre como viver. Escolhe plantar a semente.

Um peso no peito anuncia uma indisposição, para as conversas mais amenas. Mas, as pessoas que estão ao lado são joias raras. Escolhe falar com doçura o que preciso for.

Um peso no peito anuncia a espreita de dias tenebrosos. Mas, somos responsáveis para levar ao peito, a leveza. Escolhe respirar com calma, profundamente 1, 2 3... A dobrar os joelhos, buscar um amigo, a fazer terapia.

Um peso no peito anuncia a insistência do cinza. Mas, o amarelo nunca deixa de estar presente. Escolhe crer que o amarelo como seus mais variados tons, estão à disposição da vida.

Um peso no peito anuncia um barco sem porto, a deriva no mar bravio. Mas, a terra firme é vista pelas lentes da fé. Escolhe não tirar os óculos.

Um peso no peito anuncia que o lugar fechado, incômodo, se tornou. Mas, a chuva ainda não começou. Escolhe andar entre as árvores, pisar na grama e molhar os pés.

Um peso no peito anuncia que as palavras podem tirar férias. Mas, saiba que elas são turistas insatisfeitas, a voltar sempre para casa. Escolhe manter o lápis, o papel e o computador na mesa.

Um peso no peito anuncia que não têm controle de nada. Mas, lembre-se, a vida está nas mãos mais poderosas do universo. Escolhe descansar no que já foi feito.

Um peso no peito... Psiu... Preste atenção, a vida está mantida. Escolhe celebrar o dia.

Feliz 2024

Roseli Araújo

Psicóloga e Escritora.

Parecia fácil

Era só colocar o pescoço reto.

Parecia tão fácil...

A fisioterapeuta disse: Corrija a postura.

A filha disse: Pensa na posição que está.

O filho disse: A comida nesta posição cai.

O genro disse: Precisava arrumar a cadeira.

O amigo disse: Use um colete.

O médico disse:  Tome o remédio.

Mas, o pescoço torto, continuou.

Parecia tão fácil...

Até que o fácil sem solução ficou.

Roseli de Araújo

Psicóloga e Escritora

Súplicas de um cuidador 2

 

Não sei bem porquê... Sinto uma tristeza ao despedir de meus pais. 

Na rodoviária, as pessoas desconhecidas me fazem sentir ainda mais sozinha. Quero chorar, mas seguro por estar em ambiente público.

Sem medo, quero apenas compreender o que sinto. Acolho. E percebo a tristeza de saber que um dia não irei vê-los mais. Vejo o futuro, sem querer estar lá. Olhar para futuro me distrai da tarefa do agora.

No hoje, sinto-me frustrada por não conseguir ser paciente o quanto quero ser. Faço o que dou conta, mas não parece suficiente. A culpa emerge quando percebo que ao estar longe, quero ficar perto, se estou perto, quero estar longe.

Estar longe, ajuda a distrair do que precisa ser feito. 

Estar perto, parece exigir carregar um peso que julgo não conseguir.

Tomada sou por uma impaciência sistêmica. E como cansa... A crianças deles a reclamar que supramos suas necessidades. Talvez, eu esteja cansada por ser criança a querer ser o adulto, a decidir o melhor para eles.

Complicado lugar é este de cuidar, quando, sem recursos a conta não fecha. E ser o recurso da conta que não conseguimos e nem sempre queremos pagar, não é fácil.

E assim seguimos, ora distraídos, ora pressionados pela realidade que não permite os braços cruzados.

Lembro de Jesus. O que faria em meus passos?

Ele carregou a sua cruz com olhos na alegria que lhe estava proposta. 

Peço ajuda. Quero seguir os seus passos. Peço forças. Sei que Ele pode aliviar fardo.

Roseli de Araújo

Psicóloga e Escritora

Marta não pode parar

 

Era um dia especial. No entanto, Marta não pode parar.

A roupa tem que ser estendida, o almoço tem que ser servido, a louça tem que ser lavada, os pratos têm que ser colocados na mesa, a mensagem no telefone tem que ser respondida, o e-mail tem que ser visto, o contrato tem que ser assinado, a leitura tem que ser terminada, o pedreiro tem que ter o cimento, o carro tem que ir para o mecânico, o cliente tem que ser atendido, e, e, e...  Cansei.

Era um dia especial.. Que pena Marta. Era Jesus a visitar a sua casa.   

Roseli de Araújo

Psicóloga e Escritora

Súplicas e conclusões de um cuidador

Como eu queria que você aceitasse o que eu tenho para dar. É tudo o que tenho. E aos meus olhos é o melhor. Mas, quem sou eu, para saber qual é o seu melhor? Cabe a cada um a tarefa de viver.

Como eu queria que não corresse tantos perigos, ao ver seu corpo já com as marcas do tempo. Mas, quem sou eu, para preservar em você o seu corpo? Cabe a cada uma a tarefa de saber os seus limites.

Como eu queria que o seu futuro fosse, sem maiores quedas e perdas do que já viveu. Mas, quem sou eu para intervir em sua rotina, por medo do que pode vir a ocorrer, sendo que o presente da sua vida, só pertence a você? Cabe a cada um viver o que lhe traz sentido.

Descubro em mim, uma ansiedade frente ao futuro, querendo forçar no presente, uma vida que você não quer viver. Ela não nasce do desejo de impor o que penso. Ela nasce do meu desejo que seja feliz. Mas, tenho aprendido que a régua da felicidade é como as impressões digitais.

Então, com respeito eu olho para sua vontade. Abro mão do controle do incontrolável. E volto a paz disponível, hoje.

Roseli de Araújo

Psicóloga Clínica e Escritora