domingo, maio 18, 2025

O problema da falta

 

                                   

Eles discorriam sobre o não ter pão. Pareciam esquecidos dos milagres que foram feitos, ontem. E não entenderam nada quando Jesus falou do fermento dos fariseus. Que triste, eles estavam ocupados com a falta.

Será que eu sou assim?

Ele me salvou da morte eterna, do diabo, de mim mesma, e não compreendo ainda?

Ele é a minha rocha, em quem existo e me movo, e não compreendo ainda?

Ele é o caminho que me livra dos atalhos, e não compreendo ainda?

Ele é a verdade que me liberta de todo saber que não me leva a nada, e não compreendo ainda?

Ele é a vida que me livra da aridez da morte, e não compreendo ainda?

Ele é o pão que eu sei que se partiu pelos seus discípulos de todas as gerações, e não compreendo ainda?

Ele é água que me tira toda sede de outras buscas, e não compreendo ainda?

Ele é o descanso nos dias em que o cansaço me rouba as forças, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo que se manifesta na mesa quando a incredulidade me causa angústia e não compreendo ainda?

Ele é aquele que atravessa as paredes dos meus medos, dando-me certeza da sua presença, e não compreendo ainda?

Ele é o bom pastor que não me deixa na solidão dos profundos vales, onde ninguém pode passar comigo, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo sentado ao lado, quando Judas está na mesa, e não compreendo ainda?

Ele é aquele que vem ao meu encontro mesmo sabendo dos meus pecados, e não compreendo ainda?

Ele é quem se fez pecado por me amar, e não compreendo ainda?

Ele é àquele que sempre advoga as minhas causas impossíveis, e não compreendo ainda?

Ele vai voltar como prometeu em sua palavra, e colocará tudo em ordem, e não compreendo ainda?

Por vezes me pego pensando: por que me ocupo da falta do pão? Qual falta sentida que não foi preenchida por aquele que a tudo preenche?

A resposta que ecoa é que estou sem memória de todos os seus milagres feitos, ontem, por mim.  E, sem lembrança, fico a lamentar, mesmo tendo. 

Quão perversa é a incredulidade que carrego no peito.  Percebo que é fácil seguir chorando pelo leite que já tomei, sem considerar a provisão já recebida. Também, é fácil viver sem ver o que Jesus está me mostrando e sem ouvir o que está me dizendo.

Diante desta minha verdade, eu sei que preciso me apropriar de tudo que nele já recebi. E hoje, ao abrir sua palavra, escutei a sua voz mais uma vez a me perguntar: não compreendeu ainda?

Quem sabe nessa sua obstinação, meus olhos se abram e meus ouvidos ouçam. E, eu que estava ocupada pela falta, fique livre da incredulidade, que tem me roubado a aprender dele tudo que deseja ensinar a mim.

E você, qual é a sua falta? E o que tem escutado de Jesus?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga Clínica

(Texto baseado em Marcos 8:14-21)