quinta-feira, dezembro 27, 2018

Solidão – É possível combatê-la



Muitas são as causas da solidão. Cultura capitalista, individualista, competitiva, a desigualdade social, o divórcio, a mudança para um novo local, a morte de alguém que amamos o isolamento físico, dentre outras.
Mas, o maior segredo para vencer a solidão é a tal escassa empatia.
Empatia é aquela atitude deabrir-se para sair de seu mundo e entrar no mundo do outro. É buscar tirar os seus confortáveis óculos e colocar os dos outros para compreender como ele vê. É tentar pensar: E se fosse eu que estivesse vivendo isto?
A empatia não é apenas uma decisão sentimental, mas sobretudo fruto da razão que busca refletir diferente do que já ponderou até aquele instante, na tentativa de compreender o outro.
 A empatia é o que nos leva a sair de casa para ajudar o próximo, que nos faz ir ao hospital para uma visita, que nos faz chorar em silêncio diante do luto do outro, que cala todo julgamento diante do não compreendido.
A empatia é coração que pulsa em favor do outro sem nenhuma artéria obstruída. Tem em si o poder de curar a pessoa que a sente tanto quanto as pessoas que dela é alvo. É remédio sem contraindicação.
O mundo está cheio de solitários...
Há aqueles que nada podem fazer para sair da sua solidão, tal é o sofrimento a que foram submetidos.
Mas, você que ainda não foi esmagado. Você que tem pão, tem cama, tem telhado, tem amigos, tem família, tem trabalho, não espere que ninguém resolva a sua solidão. Vá ao encontro do outro, principalmente daquele que nada pode oferecer a você.
Então, ficará surpreso quando perceber que em seu coração não há mais nenhuma fresta de solidão.
Este é o penúltimo texto desta série. Semana que vem terminamos esta curta viagem.

Roseli de Araújo
Psicóloga clínica

quinta-feira, dezembro 20, 2018

Solidão – No final somos sós ou somos egoístas?

A solidão não é apenas um sentimento subjetivo causado por dores psicológicas ou traumas vividos, mas é também uma experiência produzida por fatores sociais, econômicos e políticos.
Entretanto é na família que os conflitos comparecem e se fazem mais acirrados. Sejam estes de ordem particular, ou seja, questões vividas por cada membro, tais como suas doenças ou suas tragédias pessoais, como por exemplo: a perda de um membro amado. Ou os de ordem macrossocial, como o desemprego, a falta do pão sobre a mesa, o não acesso a saúde e a violência que nos mantém trancados em casa.
Em um país com tanta desigualdade social, nada é mais solitário do que uma criança no farol pedindo esmola para sustentar um adulto. Nada é mais angustiante do que uma criança que não tem acesso à escola, a uma casa digna, a pais que as eduque e ame. Nada é mais solitário do que uma mulher sem estrutura psicológica e financeira, que apanha do marido em silêncio. Nada é mais solitário que uma velhice onde não se tem com quem contar.
A exclusão social ao tornar as pessoas invisíveis as jogam na cova da solidão. E, se você já entrou em um lugar onde foi claramente ignorado, seja por sua cor ou suas roupas, experimentou, ainda que por pouco tempo, que nada é mais solitário do que o não ser visto.
A solidão é uma chaga, uma dor, uma vergonha. Na verdade, nós podemos ser dela vítima, mas também nós a produzimos quando nos calamos diante das realidades desiguais que nos rodeiam. Quando deixamos de fazer pelos nossos pais o que eles precisam, quando não temos tempo para uma visita, quando gastamos com o supérfluo sem ver a necessidade básica dos que estão ao lado.
Jesus conta certa vez, inquirido por um escriba – interprete da lei judaica -, que um homem foi atacado por salteadores e ficou gravemente ferido a beira do caminho. Passando um sacerdote e levita - líderes religiosos judaicos-, eles o viram, mas não pararam, mas um samaritano, que não era considerado religioso para os judeus, ao vê-lo, fez por aquele homem tudo que podia.  Jesus então pergunta: Qual destes três homens foi o “próximo” do homem que caiu nas mãos dos ladrões? O interprete da lei disse acertadamente: Aquele que teve misericórdia dele.
Nesta história Jesus nos ensina que o próximo não é apenas aquele que nos vê, mas é aquele que faz por nós o que precisamos. Assim, também somos próximos do outro, quando fazemos o que ele precisa.
Sem estar próximo do outro, a solidão se faz. Não existe mãe próxima que não alimente seu filho, não existem maridos e esposas próximos que não dão de si mesmo para que o outro seja suprido, não existe amigos sem a disposição de fazer pelo o amigo o que está em seu alcance.
A solidão é a consequência do nosso individualismo, onde só vemos a nós mesmos e o outro por nós é esquecido. Se queremos vencê-la precisamos dar um basta ao nosso egoísmo.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica

quarta-feira, dezembro 12, 2018

Solidão – Eu preciso de você



Muitas teorias afirmam que os seres humanos são sociais. Desde o seu nascimento carece de mãos e olhares, trazendo em sua genética a necessidade de companhia. E não é por acaso que até hoje o maior castigo imposto no sistema carcerário é o isolamento na solitária. Nada mais terrível do que viver o silêncio, não só das palavras, mas do toque, de não ser visto e não ver.
A solidão pode matar aos poucos, nos tornando suscetíveis, principalmente depois dos 50 anos a pressão alta, baixa imunidade, depressão e perda da qualidade do sono.1
Portanto, a solidão a qual vou tratar, não é aquela em que nós escolhemos estar só, seja porque precisamos descansar ou produzir algo. Neste caso, a solidão é apenas a pausa temporária da presença humana, a qual é necessária em muitos momentos. Mas, daquele sentimento de não fazer parte da vida de ninguém e de nenhum lugar, da falta de pertencimento, do falar ao vento, do vazio de não ser aceito e de não acolher o outro. Da dor produzida pela certeza de que não adianta falar porque o outro não vai compreender.
Martin Buber nos fala da importância do encontro. Daquela experiência indescritível que vivenciamos ao estarmos ao lado de alguém, seja conversando ou não, e ter a certeza de que estivemos juntos. Entre nós ocorreu o que não podemos explicar com palavras, mas sabemos que vivenciamos porque os nossos sentidos apreenderam o outro e outro nos capturou.
Quando vivemos e não passamos pela experiência do encontro, entramos e saímos dos lugares sem fazer contato. Porém, o contato é a chave que pode nos levar ou não ao vínculo que precisamos fazer para pertencer. Sem os vínculos perecemos, uma vez que precisamos de relações profundas em que as nossas almas se abracem num abraço que dure.
Sem estar com outro e ele conosco, perdemos nossa identidade e razão de ser. Mas, nem sempre nos damos conta desta realidade. A nós foi vendida a ideia de que ter é mais importante do que ser, portanto, aprendemos a valorizar as coisas mais do que as pessoas. O que é a maior tragédia vivida em nosso tempo.
Então, cuidado. Avalie seus valores. Precisamos das pessoas mais do que qualquer outra coisa. Acredite!
Roseli de Aráujo
Psicóloga clínica
Referência:
1. https://super.abril.com.br/ciencia/solidao-mata/

quarta-feira, dezembro 05, 2018

Solidão – O natal e o seu poder de nos adoecer



Nesta próxima série irei escrever sobre solidão. Este tema foi sugerido por uma querida leitora do blog.



O mês de dezembro, onde comemoramos o festivo e colorido natal, os consultórios médicos ficam lotados, principalmente os psiquiátricos. O que ocorre é que as dores causadas pelas tragédias familiares, a luta que se trava ao lidar com doenças crônicas, a saudade de queridos que partiram, mágoas, casamentos desfeitos, a distância dos amigos ou a falta deles, o cansaço de um ano com muito trabalho, tudo isso confronta com a realidade de que não será possível sentar a mesa com os nossos familiares e amigos em alegria e paz.
Nestes períodos festivos, a solidão pode então encontrar um terreno fértil. Como praga crescer rapidamente no coração, fazendo brotar aquela sensação interna de que não é possível se conectar com outra pessoa, de que ninguém pode compreender o que sinto, da mesma forma em que também não posso compreender o outro.
E nesta insuficiência do oxigênio da identificação, onde não somos vistos e não vemos o outro, corremos risco de morte.
Atualmente, a cada quarenta segundo uma pessoa se suicida em todo o mundo, portanto, em um ano perdemos um milhão de pessoas. Estudos atuais apontam que 50% dos suicídios têm como causa a solidão, o que faz com que este tema seja de importante reflexão1.
Penso que a solidão é o enfarte da empatia, que pode com certeza nos levar a morte se não tratado em tempo hábil. Por esta razão, acredito ser este um bom momento para escrever sobre este tema. Veremos suas possíveis causas e como podemos combatê-la.
Esta série vai ser uma viagem curta, mas espero por você.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
Referência:

1.   1. https://super.abril.com.br/ciencia/solidao-mata/