quinta-feira, dezembro 20, 2018

Solidão – No final somos sós ou somos egoístas?

A solidão não é apenas um sentimento subjetivo causado por dores psicológicas ou traumas vividos, mas é também uma experiência produzida por fatores sociais, econômicos e políticos.
Entretanto é na família que os conflitos comparecem e se fazem mais acirrados. Sejam estes de ordem particular, ou seja, questões vividas por cada membro, tais como suas doenças ou suas tragédias pessoais, como por exemplo: a perda de um membro amado. Ou os de ordem macrossocial, como o desemprego, a falta do pão sobre a mesa, o não acesso a saúde e a violência que nos mantém trancados em casa.
Em um país com tanta desigualdade social, nada é mais solitário do que uma criança no farol pedindo esmola para sustentar um adulto. Nada é mais angustiante do que uma criança que não tem acesso à escola, a uma casa digna, a pais que as eduque e ame. Nada é mais solitário do que uma mulher sem estrutura psicológica e financeira, que apanha do marido em silêncio. Nada é mais solitário que uma velhice onde não se tem com quem contar.
A exclusão social ao tornar as pessoas invisíveis as jogam na cova da solidão. E, se você já entrou em um lugar onde foi claramente ignorado, seja por sua cor ou suas roupas, experimentou, ainda que por pouco tempo, que nada é mais solitário do que o não ser visto.
A solidão é uma chaga, uma dor, uma vergonha. Na verdade, nós podemos ser dela vítima, mas também nós a produzimos quando nos calamos diante das realidades desiguais que nos rodeiam. Quando deixamos de fazer pelos nossos pais o que eles precisam, quando não temos tempo para uma visita, quando gastamos com o supérfluo sem ver a necessidade básica dos que estão ao lado.
Jesus conta certa vez, inquirido por um escriba – interprete da lei judaica -, que um homem foi atacado por salteadores e ficou gravemente ferido a beira do caminho. Passando um sacerdote e levita - líderes religiosos judaicos-, eles o viram, mas não pararam, mas um samaritano, que não era considerado religioso para os judeus, ao vê-lo, fez por aquele homem tudo que podia.  Jesus então pergunta: Qual destes três homens foi o “próximo” do homem que caiu nas mãos dos ladrões? O interprete da lei disse acertadamente: Aquele que teve misericórdia dele.
Nesta história Jesus nos ensina que o próximo não é apenas aquele que nos vê, mas é aquele que faz por nós o que precisamos. Assim, também somos próximos do outro, quando fazemos o que ele precisa.
Sem estar próximo do outro, a solidão se faz. Não existe mãe próxima que não alimente seu filho, não existem maridos e esposas próximos que não dão de si mesmo para que o outro seja suprido, não existe amigos sem a disposição de fazer pelo o amigo o que está em seu alcance.
A solidão é a consequência do nosso individualismo, onde só vemos a nós mesmos e o outro por nós é esquecido. Se queremos vencê-la precisamos dar um basta ao nosso egoísmo.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica