sábado, janeiro 30, 2016

Luto! Luta... dor que pode ser vencida? (Parte I)


Se há algo que dói de forma capaz de nos transformar para sempre, é a dor do luto. Quem já perdeu uma pessoa querida, sabe que o ‘nunca vou te ver novamente’ é capaz de nos transportar para o vazio e nos desestruturar por completo. Muitas vezes pensamos que jamais vamos ver o sol nascer; o sorriso, antes tão fácil, agora se perde em meio à angústia que aperta o coração de tal forma que pensamos ‘nunca mais’ saberemos o que é um coração leve.  O tempo, que antes era um aliado, agora parece não passar, mantendo em nós a sensação de que o desespero é o fim do caminho. As pessoas ao redor, mesmo aquelas que amamos, não perdem a sua beleza, mas não temos mais energia para desfrutar delas. O Luto é mesmo uma dor solitária, porque muitas pessoas, já fragilizadas por suas próprias dores, não suportam a realidade de mais um sofrimento contra o qual parece que nada se pode fazer.
E viver o luto, como todas as demais coisas na vida, exige de nós uma escolha, mas, diante dele, quem força tem? Ele é capaz de nos sugar a profundidade em que por nós mesmos não ousamos mergulhar, desencadeando outras dores, como por exemplo a dolorosa experiência dos sintomas depressão.

Trabalhando como psicóloga, tive que enfrentar esse tema. Eu, até aqui, perdi poucas pessoas. A maior e mais significativa perda foi do pai do meu filho, o Eliack, meu primeiro marido, a quem amei muito, e sei que também fui amada. Nós vivemos entre namoro, noivado e casamento, cinco anos e trinta dias. Então o Senhor da vida permitiu sua partida. Sua morte me levou ao fogo onde todos os meus princípios e valores foram passados. E enquanto escrevo esse texto, a impressão que tenho é que ela forjou em mim uma pessoa que eu não conhecia.
Mas o que tenho aprendido é que o luto é uma dor que pode ser vencida. E trabalhando com o Humano, descubro que a vida interna de uma pessoa, aquilo que carregamos dentro de nós, somado ao que foi implantado pelo Criador em nossas vidas, pode nos levar a transformar esse inimigo invencível, o luto, em um instrumento capaz de nos fazer, nas mãos do Autor da Vida, pessoas que tornarão esse mundo bem mais suportável, porque diante da morte aprendemos o valor da vida. E aprender esse valor é receber o melhor que a vida pode nos oferecer, porque a vida é o nosso bem mais precioso.
Por isso, não se entregue. A dor do luto não é maior do que você, e, ainda que ela aperte de forma arrochada o seu coração, ela já nos aponta uma realidade maravilhosa sobre as muitas possibilidades de vencer o luto, ‘é o grande que abriga o pequeno’. Não é a morte que abriga a vida, é a vida que abriga a morte, e um dia a Vida vencerá.
Por essa razão, lhe convido a caminhar comigo nesses próximos dias, em que falarei dessa dor que nos desafia.


sexta-feira, janeiro 29, 2016

Falsa impressão

Muitas e muitas vezes não compreendi nada, nada, nada. Muitas vezes gritei e pensei que gritava ao vento, 'Deus onde está'? Como leitora diária da Palavra, eu sei que Deus está em todos os lugares, mas, falo da minha percepção e não da realidade de Deus. 
Confesso, hoje é claro, a terrível impressão de que muitas vezes eu pensei que Ele estava dando um gostoso passeio nas galáxias, enquanto eu, aqui,  me debatia com a vida incoerente que se apresentava ao meu olhar.
Não sei você, mas eu dou trabalho para o Espírito Santo. Depois que estudei psicologia, fiquei pasma frente a complexidade da minha alma. Eu não sabia o quanto sou complicadinha. 
Descobri algo muito chato, sofro de retardo para compreender a realidade do reino para o qual fui buscada.
E nesses meus 26 anos de caminhada com o Criador das estrelas, o maior desafio que tenho é, o de compreender, dentro de mim, qual é a sua vontade para minha vida. 
Porém, o Grandão é paciente, mesmo conhecendo a pequenez da gente. 

quinta-feira, janeiro 28, 2016

Essas coisas...


Essas coisas...
Tenho encontrado poucas pessoas contentes com suas vidas. Elas não gostam do seu corpo, do seu rosto, do seu cabelo, do seu cheiro. Se as elogiamos, elas logo nos mostram um defeito, aff!
Coisa chata!
Se perguntamos:  Como vai a vida? Ela responde um ‘tudo bem’ sem recheio. É que suas vidas se esvaziaram por inteiro.
Que coisa pobre!
Se lhe falamos de amor, ela nos fala do perigo da dor.
Que coisa sem graça!
Se ao tocar em seu braço com carinho, ela acredita que o queremos é bem mais que estar apenas lado a lado, juntinho.
Que coisa solitária!
Se lhe mostramos um caminho, ela grita: ‘Ai, que nada, é fim de túnel’.
Que coisa fúnebre!
Se lhe contamos um milagre, ela murmura sua ausência de esperança diante do céu azul.
Que coisa triste!
Eu acredito que essas pessoas não aprenderam que a música da vida já tocada não nos atrapalha de compor um novo enredo.
E você?

Que coisa... 

quarta-feira, janeiro 27, 2016

A mochila nas costas




Meu irmão Sandro, a quem amo demais da conta, sempre dizia que eu andava com uma mochila nas costas. Quando é o Sandro falando algo, temos sempre que buscar qual é o significado que está dando às suas palavras, porque ele tem um dicionário exclusivamente criado por ele. “Mochilas nas costas” significa que eu era uma sonhadora, dona de muitos projetos e ideais que eu procurava realizar. Como líder de jovens e discipuladora, eu estava sempre procurando algo novo para fazer, e naquele tempo eu esbanjava energia, tempo e criatividade. Era “ligadona”.
Mas o tempo, esse que recebeu o poder de ser soberano, passou. E a vida trouxe suas dores, e eu coloquei a mochila dos sonhos no quarto de despensa da minha alma, como a gente coloca tranqueira em quarto de despensa em nossa casa. E lá deixei a mochila por tanto tempo que até quase me desacostumei de sonhar. Contudo, fui ficando cansada... senti que não conseguia mais andar... pensava “Senhor, o que acontece comigo?”. E certa manhã, lendo que Deus nos convida a encontrar descanso Nele, percebi que talvez eu devesse estar com um problema muito sério. Deixa eu explicar: sempre que não consigo viver como a Palavra diz, creio que o problema está comigo ou em outro lugar, mas nunca em Deus. Aprendi que Seu caráter é bom, a despeito do que eu vivo.  Então comecei a orar... ah! esse negócio de orar funciona, mas dói. 
Fui percebendo que muitas das verdades que eu acreditava, não eram verdade na minha vida. Fiquei abalada comigo. Que distância é essa entre o que cremos e o que vivemos? Acho que a lua é mais perto.
Então me rendi, aceitei, é isso que sou, alguém muito longe de viver o que acredita. Mudei minha oração, passei a prestar atenção em Deus, e dizer “estou aqui, não posso descansar, mas eu sei que tudo podes, eu não posso nem ao mesmo sentir o que creio, mas eu sei que o Senhor criou o mundo inteiro e isso é nada para o Senhor fazer”. Sentia-me humilhada no início, com vergonha, como é difícil reconhecer quem somos, é uma dor que não pode ser compartilhada.
E por muito tempo ouvi o silêncio de Deus.
E o tempo seguiu... sem perceber, de um jeito que só o Criador sabe fazer, comecei a sentir Seus braços ternos me envolverem. Ele me trouxe amigos, trouxe-me terapia, trouxe-me textos bíblicos, palestras, Ele me trouxe trabalho, Ele me trouxe os sonhos de novo. E bem devagarzinho a energia para viver voltou, e eu entrei naquele quarto para jogar as tranqueiras fora, e descobri lá minha famosa mochila de sonhos que tanto meu irmão falava. E como uma criança diante de um brinquedo novo, abri correndo os seus bolsos e vi os sonhos escritos, e me sentei no chão desse quarto, com o rosto molhado em lágrimas e me recordei do tempo em que sonhar era um rotina diária. E fiquei ali me perguntando se havia tempo para viver alguns desses sonhos, ou se aquelas palavras antes escritas tinham se perdido no tempo. De repente, me assustei, o que eu estou fazendo aqui, perdendo tempo? 
E tirei os sonhos para fora, os que são possíveis agora, e pus minha mochila nas costas...
E saí... confesso, agora, bem mais feliz.
Dessa mochila, hoje, retirei o meu livro, que está aqui comigo, para ser corrigido e impresso. E em breve vocês pegarão na mão um dos meus sonhos esquecidos.


terça-feira, janeiro 26, 2016

...40 anos... ( Parte II )



Nessa fase, uma sede de vida brotou. Da vida que achei que não vivi, e mansamente me surpreendi que não estou mais contente com a vida que corre lá fora.
Vi-me sem escolha, ou eu me modifico ou vou ficar amarga, como aquelas pessoas que ninguém suporta.
Então me lancei no desafio de fazer minha vida valer a pena.
Mas eu me assombrei com o que vislumbrei...
Vi o abismo que a minha alma se propusera, senti medo de brincar de jogar tudo para cima. Certa vez, minha amiga Eliane Bomtempo me alertou: quem joga tudo para cima, depois tem que sair catando pelos cantos da sala, da varanda, da cozinha, do quintal, do trabalho, do casamento, da amizade e muito mais. Fiquei apavorada – isso pode dar muito trabalho – porque, além de ter que sair catando tudo que jogamos ao vento, ainda temos o risco de quebrar o que não queremos, e depois perder para sempre... confesso que achei tudo isso muito melindroso...
Depois que assim pensei, tive que caminhar ao vento, tomar ar, para assim olhar cuidadosamente os marcos da minha vida que foram estabelecidos, e percebi que estava hesitando removê-los,  mas me assustei com a tremenda responsabilidade de desconstruir tudo que também foi um dia importante.
...40 anos...
Uma coisa aprendi bem pausadamente, que na Vida uma lei da física impera: nada se perde, tudo se transforma.
Ah...  A Vida... não vem destruindo nada!
Meus olhos se arregalaram frente à realidade que se mostrava, de que eu posso querer o novo vinho, colocando-o nos seus odres novos, e mantendo o velho nos seus odres velhos.
Querer o novo não é sinônimo de aniquilar o velho.
Puxa, que alívio!
Então, sentada onde o vento pode tocar minha face, percebi a Presença de alguém que sempre esteve, e que embora nem sempre o veja, Ele sempre me fora colo, porto, pastor e amigo.

E minha aflita alma frente aos 40 anos... descansou. 
Pude ver que como todas as fases, essa é só mais um momento para agradecer a vida que tive, as pessoas que conheci, os pais que me criaram, os relacionamentos que foi possível manter e os que se foram, meu filho que seguirá para sempre comigo, meus amigos forjados no comum da jornada, minha profissão tão amada, meus livros, meu corpo sadio apesar das marcas.

E agradecida me levantei desse momento, apenas e tão somente, para viver meus 40 anos.
E assim eu sigo meus 40 anos...

segunda-feira, janeiro 25, 2016

...40 anos...

Eu aos 7 anos de idade
...40 anos... (Parte I)
Próximo dos quarenta anos, eu percebi que acontecera um fenômeno comigo: comecei a olhar para trás.
Olhei meu filho com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, hoje, 20 anos... meu Deus, como ele cresceu! O tempo, esse que nada respeita, ou que nada considera, soberanamente passou.
O espelho, antes tão querido, passou a me mostrar meu rosto com uma expressão mais marcada; meu olhar, antes tão leve, ficou pesado pelas pálpebras.
Notei que minha alma estava cansada do que não havia vivido, e que os projetos velhos precisavam de um novo alento.
Assustei-me, quando olhei pra mim, numa corda bamba emocional...
E me vi à beira do abismo de romper com tudo que eu considerava importante. E meu coração se agitou frente à ordem bíblica de que não devemos ‘remover os marcos antigos’.
Eu penso, não tenho nenhuma certeza, que isso que me ocorreu porque, além de ser algo da fase do desenvolvimento humano normal dessa faixa etária, foi fruto de uma pergunta filosófica: O que é a vida? Que, para mim, começou a soar assim – O que é a vida e qual meu propósito nela? Essa pergunta começou a despertar em mim uma sensação – mesmo que longe – entranhada – de que a vida é breve, que não sei quanto tempo tenho, por essa razão não posso desperdiçar nenhum segundo do tempo que se faz hoje.

O meu-eu de agora nem quer ganhar o mundo-planeta, deseja mesmo conquistar o mundo-meu-eu que precisa ser conhecido, desvendado, moldado. É que descobri na alma que o nosso mundo muda, ainda que o mundo não mude, se a gente decidir não ser mais vítima da nossa história.

Eu aos 42 anos






Amanhã segue a parte dois do texto. Espero por vocês.






sábado, janeiro 23, 2016

O corpo que eu não vi

O corpo que eu não vi

O corpo que eu não vi foi o da pessoa mais amada, daquele que me trazia flores ainda que tivesse que dar uma pausa para comprá-la.
O corpo que eu não vi foi o que mais abracei com o amor eros, que me ensinou o confortante valor do abraço, foi meu suspiro, meu olhar completo.
O corpo que eu não vi se foi... não teve tempo de se despedir e partiu deixando como última lembrança o “eu te amo” sem nenhuma cobrança.
O corpo que eu não vi partiu cedo, ainda jovem, talvez pra concordar com Renato Russo, que os bons é na juventude que morrem.
O corpo que eu não vi me deixou o meu maior tesouro, meu filho, a quem a vida me trouxe, no tempo em que também fui feliz.
O corpo que eu não vi me trouxe a dor mais pungente, e o silêncio ante o mistério da vida e da morte... e fez surgir em mim uma ferida que só o tempo embalou, e que com o trabalho do Fiel Criador, curou.
O corpo que eu não vi me fez conhecer o mergulho no mar do vazio do nunca, que tem saudade que esmaga o peito, que tem amigos que se afastam, que tem preconceito antes nunca vivido, que tem homens que se aproximam com todas as intenções, que tem grupo que não nos aceita, que tem mulheres que agarram seus maridos com medo da nossa presença... ai, que mar difícil de mergulhar!
O corpo que eu não vi se desfez, mas aguarda aquele dia em que a morte será vencida.

E por isso, apesar de voltar à praia da vida, marcada por esse sofrer, sigo feliz.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

SEU NOME


Seu nome é o que Você tem.
Ele é o que o faz reconhecível pra Você mesmo na multidão, quando alguém, em busca de Você, o grita.
Ele é o que é e foi; seus pais, avós, tios, irmãos, padrinhos, amigos íntimos que escolheram. Ele é uma senha que Você levará por toda vida (isso pra quem não mudá-lo), é uma senha pública, que dá aos outros acesso ao mundo que Você é. E, certamente, muitos outros iguais ao seu Você encontrará.
Talvez ele não seja tudo o que Você gostaria, e até sinta vergonha dele, preferindo seu apelido de infância. Talvez ele seja mesmo feio, talvez tenha que ser mesmo mudado, porque na roda dos amigos, na escola, na igreja, onde quer que vá, ao pronunciá-lo, ele causa impacto por causa da cultura que convencionou achá-lo estranho, vergonhoso, feio, escabroso.

E se quer mudar seu nome, até a lei diz que Você precisa de uma boa razão; se a tem, faça, mas se apenas o repudia por vaidade de querer aquilo que não é seu, lembre-se que nome não é peça de vestuário para ficar sendo trocado.  
O seu nome, embora seu, traz histórias de seres que viveram, amaram e sofreram, e que como você receberam também um nome que não escolheram, e esses seguiram suas histórias, cumprindo a mais bela obra, de produzir pro mundo uma vida diferente de todas as outras que já ocuparam essa terra. E, se de mim discorda, tudo bem, não brigaremos por isso, Você deve ter as suas razões, mas, se não fosse a vida, qual bem mesmo, Você teria?
Aguente-me só mais um pouco, e pense nisso também, que esse nome que Você tem não é maior ou menor do que aquilo que Você pode fazer com ele.
Quem dá cor, tamanho, forma ao seu nome, não é o outro que o escolheu, é Você que o recebeu. 
Por essa razão, a responsabilidade é sua de torná-lo grande ou pequeno, digno ou indigno, amado ou odiado.
Eu termino essa prosa deixando bem claro que eu só falei, epa!, escrevi, o que eu pensava.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

As conchas que as ondas levaram





Eu estava na praia observando o mar com suas ondas quebrando...se jogando...molhando a areia. Meus olhos passaram por todo o cenário inebriando minha alma com uma doce paz. Quando, de repente, as conchas próximas de mim despertaram meu interesse, levantei então daquele momento escasso – porém sublime – na minha vida, em que consegui olhar com tempo para o belo que estava ao redor de mim.
As conchas que me roubaram desse mágico momento me levaram para outro encantado mundo, o da infância, e me ajoelhei com olhar curioso frente às conchas pequenininhas com furinhos, que me permitiram ver um colar já pronto. Saí então atrás de conchas grandes que tivessem também o mesmo formato, e distraída a onda veio, levando minhas conchas já encontradas, molhando minha toalha, minha bolsa, minha sandália. Então ‘acordei’ e vi que o meu tempo gasto fora perdido, porque as ondas as levaram para um outro mundo, desconhecido.
E depois de gargalhar da minha própria distração, sentei-me confortavelmente em minha toalha molhada, a vigiar, novamente, a onda quebrando...se jogando...molhando.
E me ocorreu algo que pareceu brotar do fundo do meu raso coração – seria isso o que fazemos o tempo todo? Andamos atrás das coisas grandes, distraindo-nos das pequenas, tão belas, que já estão perto?
Ah, como é terrível essa mania que temos de achar que nas coisas grandes é que vamos esbarrar na felicidade!



quarta-feira, janeiro 20, 2016

Voe!




Seja um passarinho e voe!
Vá onde quer ir!
Só não fira outros nessa sua viagem que nasceu dentro de você... não deixe pra trás seus companheiros de ninho, não deixe jamais os ternos amigos.
Mas voe!
E nesse céu, que é a sua estrada, voe!
Só tenha cuidado com as suas escalas. Tem viagem em que é preciso ir bem de mansinho pra não assustar a alma da gente e nem a dos parceiros do caminho.
Tem lugares onde, pra chegar, é preciso usar toda a força das asas. Teste seus limites, cansar é possível, mas desistir não aceite. Pois quem não voa para onde quer ir,vive como se estivesse morto por dentro.
Por isso, voe no sonho que traz desde a infância.
Voe... voe... ainda que suas asas tenham sido machucadas. Pare. Recupere-se. Não se deixe vencer pela amargura da parada. O tempo perdido se foi, mas há tempo, aqui e agora.
Voe, não desacredite do inesperado, da surpresa que os céus lhe trarão. Há beleza em toda parte, ainda que a dor não se afaste.
E quando chegar o fim do seu voo, pouse tranquilamente, olhe para trás bem mansamente e chore as lágrimas raras da alegria de quem não deixou de voar na esperança, nesse céu que é a vida.

terça-feira, janeiro 19, 2016

Viajar



Viajar é olhar um mundo antes nunca visto, é se aventurar no novo de encontrar pessoas, mas retornar sempre aos velhos e bons companheiros do comum caminho.
Ver lugares antes nunca vistos, mas voltar sempre às mesmas ruas que os pés conhecem como se fossem as palmas das mãos.
Sentir novos cheiros e gostos, mas sempre sem deixar a saudade dos pratos que compõem a mesa feliz.
Viajar é o que sempre quero, mas voltar ao porto dos olhares queridos é o meu destino.
E se meu mundo é grande ou pequeno, que importa?
O bom é a sensação confortante de voltar pra casa.

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Eu me vejo lá


Como é bom sentar junto àqueles cujas somas dos seus dias é bem maior, hoje, do que a minha.

Eles conversam de mansinho, levando-me a pensar em como falar mais pausadamente, e disso, como eu preciso!

E se vamos passear, para a cidade ver, eles andam sem pressa, e eu aprendo que sem pressa eu também chego lá.

Gosto daquele olhar que me enxerga como alguém para cooperar, e me lembra que viver assim não cansa... E ao voltar para o ringue do trabalho, penso “é bem mais gostoso não rivalizar”.

Seus cabelos brancos me lembram meus próprios fios que começaram a brotar, e percebo que o tempo para mim também passa...

Ah... como o tempo passa... e me vejo lá, sentada (claro, se o Criador me deixar chegar lá), à espera de alguém que, quem sabe, virá me visitar.

Olha como eu me vejo lá.





sábado, janeiro 16, 2016

Na sala de espera




A consulta médica de rotina estava marcada para as dez. Entrei na sala de espera e as filas de cadeiras estavam quase todas ocupadas. Achando desconfortável passar entre as pessoas que estavam espremidas, decidi ficar em pé e me encostei na parede ao fundo. Quase que num gesto automático, abri a bolsa e retirei meu celular na tentativa de fazer algo enquanto esperava. Na pressa, o aparelho caiu das minhas pequenas mãos e o peguei o mais rápido que pude. Fiquei desconcertada quando vi que a bateria havia descarregado por completo.




Vendo-me sem nada para fazer, olhei para as pessoas à minha volta, compenetradas, viajando no infinito mundo virtual. Na sala, o silêncio só não reinava inteiramente porque uns poucos, que pareciam ter mais de 50 anos, conversavam entre si. Sorri na alma ao pensar que naquela sala eu poderia fazer careta que certamente não seria vista. E na minha solidão rodeada, uma inquietação me visitou, seria a viagem do mundo virtual tão melhor do que o real de viver no aqui e agora? Então afastei essa inquietação do pensar que sempre me visita. Certamente isso é coisa boba de psicólogo...