Nessa fase, uma sede de vida brotou. Da vida que achei que não vivi, e mansamente me surpreendi que não estou mais contente com a vida que corre lá fora.
Vi-me sem
escolha, ou eu me modifico ou vou ficar amarga, como aquelas pessoas que
ninguém suporta.
Então me
lancei no desafio de fazer minha vida valer a pena.
Mas eu me
assombrei com o que vislumbrei...
Vi o abismo
que a minha alma se propusera, senti medo de brincar de jogar tudo para cima.
Certa vez, minha amiga Eliane Bomtempo me alertou: quem joga tudo para cima,
depois tem que sair catando pelos cantos da sala, da varanda, da cozinha, do
quintal, do trabalho, do casamento, da amizade e muito mais. Fiquei apavorada –
isso pode dar muito trabalho – porque, além de ter que sair catando tudo que
jogamos ao vento, ainda temos o risco de quebrar o que não queremos, e depois
perder para sempre... confesso que achei tudo isso muito melindroso...
Depois que
assim pensei, tive que caminhar ao vento, tomar ar, para assim olhar
cuidadosamente os marcos da minha vida que foram estabelecidos, e percebi que
estava hesitando removê-los, mas me
assustei com a tremenda responsabilidade de desconstruir tudo que também foi um
dia importante.
...40 anos...
Uma coisa aprendi
bem pausadamente, que na Vida uma lei da física impera: nada se perde, tudo se
transforma.
Ah... A Vida... não vem destruindo nada!
Meus olhos
se arregalaram frente à realidade que se mostrava, de que eu posso querer o
novo vinho, colocando-o nos seus odres novos, e mantendo o velho nos seus odres
velhos.
Querer o
novo não é sinônimo de aniquilar o velho.
Então,
sentada onde o vento pode tocar minha face, percebi a Presença de alguém que
sempre esteve, e que embora nem sempre o veja, Ele sempre me fora colo, porto,
pastor e amigo.
E minha
aflita alma frente aos 40 anos... descansou.
Pude ver que como todas as fases, essa é só mais um momento para agradecer a vida que tive, as pessoas que conheci, os pais que me criaram, os relacionamentos que foi possível manter e os que se foram, meu filho que seguirá para sempre comigo, meus amigos forjados no comum da jornada, minha profissão tão amada, meus livros, meu corpo sadio apesar das marcas.
Pude ver que como todas as fases, essa é só mais um momento para agradecer a vida que tive, as pessoas que conheci, os pais que me criaram, os relacionamentos que foi possível manter e os que se foram, meu filho que seguirá para sempre comigo, meus amigos forjados no comum da jornada, minha profissão tão amada, meus livros, meu corpo sadio apesar das marcas.
E
agradecida me levantei desse momento, apenas e tão somente, para viver meus 40
anos.
E assim eu sigo meus 40 anos... |
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