quarta-feira, junho 13, 2018

Mais eu me mordo de ciúmes ou me deixo morder? II


É quarta. Hoje vamos tentar compreender como nasce o ciúme que adoece.


Viver é se relacionar. Dentre as muitas relações que experimentamos na vida, a relação amorosa pode ser uma das mais fascinante. Nenhuma outra pode produzir uma intimidade tão profunda como a do casal que decidiu partilhar a vida.
              Mas, viver a dois é uma arte que não se aprende do dia para a noite. É preciso gastar tempo, pois o tempo é adubo, o qual sem ele, nenhuma relação floresce. Tal tempo deve ser recheado de risos, beijos, toques, olhares, abraços, passeios na intimidade, cuidados especiais que são dados apenas aquela pessoa amada. E para que as relações amorosas se fortaleçam elas necessitam de serem regadas com amor que se revela no zelo, na atenção dedicada, no cuidado, que é o melhor dos ciúmes.
Entretanto, o amor humano traz em si mesmo outros sentidos e possibilidades. Ora quer o bem do outro, ora busca o seu próprio bem, ora quer proteger o outro, ora quer proteger-se da dor que o outro pode lhe causar. E por ser de natureza ambígua o amor humano, tem risco de se tornar uma guerra ao invés de arte pintada com as mais belas cores.
Quando amar deixa de ser arte e se transforma em guerra, passamos a viver o ciúme que adoece. Portanto, o tempo agora não é dedicado apenas para cuidar da pessoa amada, mas para controlar os seus passos, a roupa que deve vestir, com quem deve conversar, onde deve olhar, o que deve fazer e onde deve ir.
E este ciúme, que deixa de cuidar para controlar, pode nascer da possibilidade real ou imaginária que uma terceira pessoa – a rival – tem para destruir sua relação com a pessoa amada, fazendo do amor antes tão pleno, vazio do olhar que se dá valor. Agora a (o) rival lhe parece mais bela (o), inteligente e agradável. E por não se ver no seu espelho com admiração, por não compreender o valor que possui, não se sente amada (o), então se esconde atrás do escudo do controle. Muitas vezes sem perceber que o escudo se transforma em arma que pode matar o relacionamento que tanto deseja preservar. É que agora tudo o que quer é se proteger-se para não perder o objeto amado.
Digo objeto, porque a pessoa amada, agora não é vista e nem respeitada como o outro que tem vontade própria, que escolhe o que quer, e é responsável por suas escolhas.  Ela é tratada como uma marionete, e tem que encenar a vontade do ciumento adoecido para que ele sinta-se protegido.
Esta necessidade de proteção nasce em um passado distante onde a estima foi construída, mas este é assunto para a próxima quarta-feira.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
62 982385297