É quarta. Hoje vamos tentar compreender como nasce o ciúme que adoece.
Viver é se relacionar. Dentre as muitas
relações que experimentamos na vida, a relação amorosa pode ser uma das mais
fascinante. Nenhuma outra pode produzir uma intimidade tão profunda como a do
casal que decidiu partilhar a vida.
Mas, viver a dois é uma arte que
não se aprende do dia para a noite. É preciso gastar tempo, pois o tempo é
adubo, o qual sem ele, nenhuma relação floresce. Tal tempo deve ser recheado de risos, beijos,
toques, olhares, abraços, passeios na intimidade, cuidados especiais que são
dados apenas aquela pessoa amada. E para que as relações amorosas se fortaleçam
elas necessitam de serem regadas com amor que se revela no zelo, na atenção
dedicada, no cuidado, que é o melhor dos ciúmes.
Entretanto, o amor humano traz em si
mesmo outros sentidos e possibilidades. Ora quer o bem do outro, ora busca o
seu próprio bem, ora quer proteger o outro, ora quer proteger-se da dor que o
outro pode lhe causar. E por ser de natureza ambígua o amor humano, tem
risco de se tornar uma guerra ao invés de arte pintada com as mais belas cores.
Quando amar deixa de ser arte e se
transforma em guerra, passamos a viver o ciúme que adoece. Portanto, o tempo
agora não é dedicado apenas para cuidar da pessoa amada, mas para controlar os
seus passos, a roupa que deve vestir, com quem deve conversar, onde deve olhar,
o que deve fazer e onde deve ir.
E este ciúme, que deixa de cuidar para
controlar, pode nascer da possibilidade real ou imaginária que uma terceira
pessoa – a rival – tem para destruir sua relação com a pessoa amada, fazendo do
amor antes tão pleno, vazio do olhar que se dá valor. Agora a (o) rival lhe
parece mais bela (o), inteligente e agradável. E por não se ver no seu espelho
com admiração, por não compreender o valor que possui, não se sente amada (o),
então se esconde atrás do escudo do controle. Muitas vezes sem perceber que o
escudo se transforma em arma que pode matar o relacionamento que tanto deseja
preservar. É que agora tudo o que quer é se proteger-se para não perder o
objeto amado.
Digo objeto, porque a pessoa amada, agora
não é vista e nem respeitada como o outro que tem vontade própria, que escolhe
o que quer, e é responsável por suas escolhas.
Ela é tratada como uma marionete, e tem que encenar a vontade do
ciumento adoecido para que ele sinta-se protegido.
Esta necessidade de proteção nasce em um passado distante onde a estima foi construída, mas este é assunto para a próxima
quarta-feira.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
62 982385297