terça-feira, janeiro 26, 2016

...40 anos... ( Parte II )



Nessa fase, uma sede de vida brotou. Da vida que achei que não vivi, e mansamente me surpreendi que não estou mais contente com a vida que corre lá fora.
Vi-me sem escolha, ou eu me modifico ou vou ficar amarga, como aquelas pessoas que ninguém suporta.
Então me lancei no desafio de fazer minha vida valer a pena.
Mas eu me assombrei com o que vislumbrei...
Vi o abismo que a minha alma se propusera, senti medo de brincar de jogar tudo para cima. Certa vez, minha amiga Eliane Bomtempo me alertou: quem joga tudo para cima, depois tem que sair catando pelos cantos da sala, da varanda, da cozinha, do quintal, do trabalho, do casamento, da amizade e muito mais. Fiquei apavorada – isso pode dar muito trabalho – porque, além de ter que sair catando tudo que jogamos ao vento, ainda temos o risco de quebrar o que não queremos, e depois perder para sempre... confesso que achei tudo isso muito melindroso...
Depois que assim pensei, tive que caminhar ao vento, tomar ar, para assim olhar cuidadosamente os marcos da minha vida que foram estabelecidos, e percebi que estava hesitando removê-los,  mas me assustei com a tremenda responsabilidade de desconstruir tudo que também foi um dia importante.
...40 anos...
Uma coisa aprendi bem pausadamente, que na Vida uma lei da física impera: nada se perde, tudo se transforma.
Ah...  A Vida... não vem destruindo nada!
Meus olhos se arregalaram frente à realidade que se mostrava, de que eu posso querer o novo vinho, colocando-o nos seus odres novos, e mantendo o velho nos seus odres velhos.
Querer o novo não é sinônimo de aniquilar o velho.
Puxa, que alívio!
Então, sentada onde o vento pode tocar minha face, percebi a Presença de alguém que sempre esteve, e que embora nem sempre o veja, Ele sempre me fora colo, porto, pastor e amigo.

E minha aflita alma frente aos 40 anos... descansou. 
Pude ver que como todas as fases, essa é só mais um momento para agradecer a vida que tive, as pessoas que conheci, os pais que me criaram, os relacionamentos que foi possível manter e os que se foram, meu filho que seguirá para sempre comigo, meus amigos forjados no comum da jornada, minha profissão tão amada, meus livros, meu corpo sadio apesar das marcas.

E agradecida me levantei desse momento, apenas e tão somente, para viver meus 40 anos.
E assim eu sigo meus 40 anos...