Bem, a partir de agora, irei ser bem
prática quanto ao que penso sobre nossa postura diante do luto.
Como em toda cultura, temos os nossos
rituais de passagem, e o velório faz parte desse pacote. Vamos lá. Primeiro
deixa eu lhe contar um pedacinho da minha história.
Quando meu marido morreu eu estava em uma
viagem missionária em Moçambique, África. Ele faleceu em uma segunda feira pela
manhã, e conseguiram me encontrar às 23 horas do mesmo dia (fuso horário de 5
horas), não havia voo para o Brasil na terça feira e só consegui chegar a São
Paulo, onde morava na época, na quarta-feira às 21hs.
O irmão do meu marido, o Elias, me ligou
na terça feira para me avisar que eles não queriam estender o velório, e, eu de
verdade, nessa época, concordei, porque afinal de contas, os pais do meu marido
já estavam com mais de sessenta anos e poderia ser muito cruel estender por
tanto tempo o velório. Na época, eu também não queria vê-lo, pensava que fosse
melhor guardar a imagem última que eu tinha dele no aeroporto me abraçando,
dizendo que me amava, dando tchau com aquele jeito divertido que só ele
tinha.
Porém, depois da sua morte, passei a ir a
todos os velórios que havia na igreja. Até a data da sua morte, eu confesso que
evitava. Sempre que ia a um velório, antes da morte do meu marido, jamais
chegava próximo do corpo, tocar uma pessoa morta era algo inimaginável. A
verdade, é que a morte era um assunto distante das minhas pautas de conversa,
coisa dessa cultura burra, que nos torna despreparados para a única coisa certa
que vamos viver na vida.
Com a morte dele isso mudou, passei a ir
até onde o morto estava, a olhá-lo com curiosidade, a ficar ali, vendo sua
expressão facial, como que tentando entender se através do seu rosto imóvel, o
morto, transmitia como havia sido aquele momento em que partiu. Coisa de doido,
né? Deve ser por essas e outras que fui para a psicologia rsrsrs.
Bem, além de observar o morto, fui detendo
meu olhar também sobre as pessoas em volta do caixão, e das que iam chegando
para o velório.
Percebi que a família reage de muitas
formas, há aqueles que ficam ao redor do caixão, outros não querem ver, outros
choram baixinho, outros não derramam nenhuma lágrima, outros, poucos, gritam
sua dor, que logo também é abafada por alguém que tenta conter-lhe dizendo ‘não chore assim’. Na igreja
Presbiteriana do Brasil , a qual participo,
os irmãos são contidos em suas emoções. A tristeza impera, mas não há
desespero, pelo menos nos velórios que tive a oportunidade de ir, e se existe,
ele será vivido no interior do quarto, da casa, não em público.
As pessoas que não são da família
como: amigos, colegas de trabalho que
vão para dar apoio a família, esses tem comportamentos os mais variados, mas,
dentre esses comportamentos, eu confesso que venho me assustando com um...
Há um grupo de irmãos que me parecem ir
aos velórios para rever os irmãos que há muito tempo não veem, até aí tudo bem,
é bom rever as pessoas, no entanto ao se
encontrarem, conversam normalmente, falam das suas lembranças, perguntam sobre outras
pessoas que lhe são próximas, e fazem isso muitas vezes ao redor do caixão, não
conseguindo, na minha opinião, respeitar o momento da dor do outro, que não é a
do encontro, mas da despedida. Veja bem, não sou contra nenhum encontro,
nenhuma conversa com os irmãos em velório, mas não nos parece insensibilidade
demais, pessoas contando coisas engraçadas, as vezes em um tom normal de
conversa, evocando lembranças do que viveram sorrindo, bem ali, próximo do
caixão, próximo da família que sofre uma dor que nenhuma palavra a descreve? O
que será chorar com os que choram? Bem, isso é uma ordem bíblica, e sei que é
complicada de obedecer quando estamos felizes num momento de reencontro.
Do ponto de vista psicológico a dor do
luto é um dos maiores desafios que o ser humano vai sofrer, ela nos traz a
concretude da realidade que nós não controlamos nada, nos fragilizando por
isso. A morte nos faz ver o quanto a vida é breve, e pode até nos levar a
pensar, ‘para que construir coisas aqui se vamos morrer mesmo’. A morte, como
já disse, muda nosso lugar mundo. Não somos mais quem somos, e por muito tempo
ficamos com a sensação que não mais encontraremos o caminho para viver a vida
com graça e cor novamente. Por isso, diante de uma pessoa que está vivendo o
luto, só nos cabe o silêncio e as lágrimas. Um abraço afetuoso, que comunica,
eu não tenho nada para dizer, mas estou aqui.
Um abraço, ah... um abraço meus irmãos. Um
abraço carinhoso fala mais do que qualquer palavra. Não tente consolar, quem
faz isso é o Consolador, o Espírito Santo.
Não chegue com versículos prontos, empa...
isso é conversa para um outro texto, o de amanhã. Espero você.