quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Parte IV

Bem, a partir de agora, irei ser bem prática quanto ao que penso sobre nossa postura diante do luto. 
Como em toda cultura, temos os nossos rituais de passagem, e o velório faz parte desse pacote. Vamos lá. Primeiro deixa eu lhe contar um pedacinho da minha história.
Quando meu marido morreu eu estava em uma viagem missionária em Moçambique, África. Ele faleceu em uma segunda feira pela manhã, e conseguiram me encontrar às 23 horas do mesmo dia (fuso horário de 5 horas), não havia voo para o Brasil na terça feira e só consegui chegar a São Paulo, onde morava na época, na quarta-feira às 21hs.
O irmão do meu marido, o Elias, me ligou na terça feira para me avisar que eles não queriam estender o velório, e, eu de verdade, nessa época, concordei, porque afinal de contas, os pais do meu marido já estavam com mais de sessenta anos e poderia ser muito cruel estender por tanto tempo o velório. Na época, eu também não queria vê-lo, pensava que fosse melhor guardar a imagem última que eu tinha dele no aeroporto me abraçando, dizendo que me amava, dando tchau com aquele jeito divertido que só ele tinha. 
Porém, depois da sua morte, passei a ir a todos os velórios que havia na igreja. Até a data da sua morte, eu confesso que evitava. Sempre que ia a um velório, antes da morte do meu marido, jamais chegava próximo do corpo, tocar uma pessoa morta era algo inimaginável. A verdade, é que a morte era um assunto distante das minhas pautas de conversa, coisa dessa cultura burra, que nos torna despreparados para a única coisa certa que vamos viver na vida.
Com a morte dele isso mudou, passei a ir até onde o morto estava, a olhá-lo com curiosidade, a ficar ali, vendo sua expressão facial, como que tentando entender se através do seu rosto imóvel, o morto, transmitia como havia sido aquele momento em que partiu. Coisa de doido, né? Deve ser por essas e outras que fui para a psicologia rsrsrs.
Bem, além de observar o morto, fui detendo meu olhar também sobre as pessoas em volta do caixão, e das que iam chegando para o velório.
Percebi que a família reage de muitas formas, há aqueles que ficam ao redor do caixão, outros não querem ver, outros choram baixinho, outros não derramam nenhuma lágrima, outros, poucos, gritam sua dor, que logo também é abafada por alguém que tenta  conter-lhe  dizendo ‘não chore assim’. Na igreja Presbiteriana do Brasil , a qual participo,  os irmãos são contidos em suas emoções. A tristeza impera, mas não há desespero, pelo menos nos velórios que tive a oportunidade de ir, e se existe, ele será vivido no interior do quarto, da casa, não em público.
 As pessoas que não são da família como:  amigos, colegas de trabalho que vão para dar apoio a família, esses tem comportamentos os mais variados, mas, dentre esses comportamentos, eu confesso que venho me assustando com um...
Há um grupo de irmãos que me parecem ir aos velórios para rever os irmãos que há muito tempo não veem, até aí tudo bem, é bom rever as pessoas,  no entanto ao se encontrarem, conversam normalmente, falam das suas lembranças, perguntam sobre outras pessoas que lhe são próximas, e fazem isso muitas vezes ao redor do caixão, não conseguindo, na minha opinião, respeitar o momento da dor do outro, que não é a do encontro, mas da despedida. Veja bem, não sou contra nenhum encontro, nenhuma conversa com os irmãos em velório, mas não nos parece insensibilidade demais, pessoas contando coisas engraçadas, as vezes em um tom normal de conversa, evocando lembranças do que viveram sorrindo, bem ali, próximo do caixão, próximo da família que sofre uma dor que nenhuma palavra a descreve? O que será chorar com os que choram? Bem, isso é uma ordem bíblica, e sei que é complicada de obedecer quando estamos felizes num momento de reencontro.
Do ponto de vista psicológico a dor do luto é um dos maiores desafios que o ser humano vai sofrer, ela nos traz a concretude da realidade que nós não controlamos nada, nos fragilizando por isso. A morte nos faz ver o quanto a vida é breve, e pode até nos levar a pensar, ‘para que construir coisas aqui se vamos morrer mesmo’. A morte, como já disse, muda nosso lugar mundo. Não somos mais quem somos, e por muito tempo ficamos com a sensação que não mais encontraremos o caminho para viver a vida com graça e cor novamente. Por isso, diante de uma pessoa que está vivendo o luto, só nos cabe o silêncio e as lágrimas. Um abraço afetuoso, que comunica, eu não tenho nada para dizer, mas estou aqui.
Um abraço, ah... um abraço meus irmãos. Um abraço carinhoso fala mais do que qualquer palavra. Não tente consolar, quem faz isso é o Consolador, o Espírito Santo.
 Não chegue com versículos prontos, empa... isso é conversa para um outro texto, o de amanhã. Espero você.







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