quinta-feira, fevereiro 04, 2016

(Parte V)


O que falar quando visitamos um pessoa que passa pelo luto?

Você já percebeu que a coisa mais fácil é dar conselhos? Talvez por isso, as pessoas dizem que se fossem bom, seria vendido. Porém, pior que conselhos são os versículos citados sem nenhuma misericórdia.

Imagina... eu havia acabado de ficar viúva, meu marido fora assassinado ao sair de casa, eu estava perplexa, afinal um homem pacífico e crente como ele, porque deveria morrer assim?

 Não parecia fazer nenhum sentido a forma da sua morte. E nos primeiros meses lutei em minha alma com a violência que ele sofrera, com a falta de justiça desse país. Eu não podia nem assistir linha direta, um programa que era apresentado por Domingos Mereilles, que contava sobre crimes que aconteceram pelo Brasil e cujos assassinos eram foragidos da justiça. Esse programa despertava em mim um ódio contra quem matava, e eu me deliciava quando eles eram presos. 

É claro, justiça tem que ser feita, creio que a sociedade precisa dos seus limites, regras, punições. Porém, o ódio adoece. E fui adoecendo. Ainda bem que logo percebi que aquele caminho era o pior para seguir. Ódio nos escraviza na alma, cansa emocionalmente, torna a vida despedaçada, pesada. Eu já tinha dor demais. Então deixei isso para trás com ajuda de Deus.

Naquela época eu recebi muitas visitas. Era uma pessoa muito dinâmica e conhecida em meu meio. E foi muito bom receber esses irmãos que me visitavam em solidariedade a minha dor. Porém, ouve um grupo que quando saia de minha casa após a visita, me deixava em profunda crise.

Esse grupo, eram aqueles que abriam a Bíblia e citavam versículos como Romanos 8:28 que diz ‘Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’. Esse versículo quase me deixou maluca, como a morte de um amor tão querido poderia cooperar? Meu marido morreu com 35 anos de idade, eu o achava lindo, ele foi a pessoa mais bem humorada que eu conheci, nos nossos 4 anos e um mês de casados nunca acordou com cara feia ou com uma palavra desagradável, me achava me bonita, adorava meu cabelo pintado de loiro, tinha me dado um filho lindo, era um pai excelente, meu amigo, meu amante, a pessoa que eu mais gostava de estar no mundo. Os finais de semana eram maravilhosos porque ele estava em casa, íamos a igreja, e eu então pergunto, como a morte dele poderia cooperar para o meu bem?

Sei que é a verdade bíblica, mas essa verdade me impedia de falar do absurdo que eu estava vivendo. Nas madrugadas eu gritava a Deus: Como? Qual é a lógica? E muitas vezes sentia muita raiva de tudo que estava acontecido.

O problema de texto como esse, não é o texto em si, hoje, 17 anos e 6 meses depois, eu compreendi muita coisa, não tudo sobre a sua morte, mas o que a Bíblia diz que é, é mesmo. Então posso olhar para todo o processo, e dizer fiquei melhor como pessoa, isso Deus fez comigo, e creio que isso cooperou para meu bem.

Mas, naqueles primeiros dias, isso me soavam uma loucura... um convite a abafar minha dor. Talvez por isso passei 8 anos sem dormir.

Deixando minha história a parte, o que quero deixar como sugestão prática ao visitar uma pessoa enlutadas, são os seguintes passos:

Primeiro: Chegue para ouvir. Obedeça a orientação de Tiago 1:19 ‘Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.

Segundo: Jamais diga para uma pessoa não chorar. A ordem bíblica é chorar com os que choram e não silenciar o choro do outro que está sofrendo. Chorar é um recurso que Deus colocou em nós, para darmos conta da angústia. Quando choramos liberamos hormônios que aliviam a ansiedade, e o coração fica mais leve, por isso depois de uma crise forte de choro, além dos olhos quentinhos e inchados, a gente sente até sono, relaxa. Chorar é bom. Por isso que Deus nos mandou chorar com quem chora. Luto é dor que tem que ser chorada. Não tem problema chorar, não é sinal de fraqueza, apenas de sofrimento, e sofrimento é uma realidade humana, e eu sei que você sabe disso.

Terceiro: Confirme a dor da pessoa. Como assim? A pessoa diz ‘ tá doendo, não sei se vou aguentar, você responde, ‘deve doer mesmo’, mas eu estou com você, Deus vai nos ajudar’. Não fique discutindo questões teológicas, Deus sabe que a gente se desestrutura, fala bobagens, pensa que não irá sobreviver. Por essa razão, diante de qualquer absurdo que a pessoa falar, fique ao lado dela. Como já vimos, faz parte da fase do luto. Deus, trabalhando através do tempo se encarregará de ajudar a pessoa encontrar o caminho do equilíbrio. Não seja “espiritual” demais, não se assuste, Deus não tem problema de auto estima, nós que escandalizamos com sentimentos, pensamentos e atitudes humanas.

Quarto: Depois de ouvir, de deixar a pessoa chorar (e chora com ela), confirmar sua dor, só então, sinta-se no direito de compartilhar algo que surgiu em seu coração. Se nada veio à mente, não tem problema, ser ouvido é uma das maiores benção que podemos receber quando estamos em luto. Creia nisso! Palavras nestes momentos podem ser desnecessárias, mas sua presença jamais será esquecida, eu nunca me esqueci de ninguém que me visitou naqueles primeiros dias de luto, a presença de uma pessoa afetuosa é algo maravilhoso e por si só consolador. Creia!

Obs: Estava me esquecendo de colocar as bibliografias lidas, mas consertarei esse erro agora:
Livros:
-  Encontro uma abordagem humanista - Autora: Clara Feldman
-  A arte de ajudar VI – Robert R, Carhuff
- Luto, uma dor perdida no tempo- Rubem Olinto
- Anatomia de uma dor, um luto em observação - C. S. Lewis
Artigo: Luto e perdas repentinas: contribuições da terapia cognitiva-comportamental.
Http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S180856872011000

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