O que falar quando visitamos um pessoa que passa pelo
luto?
Você já percebeu que a coisa
mais fácil é dar conselhos? Talvez por isso, as pessoas dizem que se fossem bom,
seria vendido. Porém, pior que conselhos são os versículos citados sem nenhuma
misericórdia.
Imagina... eu havia acabado
de ficar viúva, meu marido fora assassinado ao sair de casa, eu estava
perplexa, afinal um homem pacífico e crente como ele, porque deveria morrer
assim?
Não parecia fazer nenhum sentido a forma da sua morte. E nos primeiros meses lutei em minha alma com a violência que ele
sofrera, com a falta de justiça desse país. Eu não podia nem assistir linha
direta, um programa que era apresentado por Domingos Mereilles, que contava sobre crimes que aconteceram
pelo Brasil e cujos assassinos eram foragidos da justiça. Esse programa despertava
em mim um ódio contra quem matava, e eu me deliciava quando eles eram presos.
É
claro, justiça tem que ser feita, creio que a sociedade precisa dos seus
limites, regras, punições. Porém, o ódio adoece. E fui adoecendo. Ainda bem que
logo percebi que aquele caminho era o pior para seguir. Ódio nos escraviza na
alma, cansa emocionalmente, torna a vida despedaçada, pesada. Eu já tinha dor
demais. Então deixei isso para trás com ajuda de Deus.
Naquela época eu recebi muitas visitas. Era uma pessoa muito dinâmica e conhecida em meu meio. E
foi muito bom receber esses irmãos que me visitavam em solidariedade a minha
dor. Porém, ouve um grupo que quando saia de minha casa após a visita, me deixava em profunda crise.
Esse grupo, eram aqueles que
abriam a Bíblia e citavam versículos como Romanos 8:28 que diz ‘Todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’. Esse versículo quase me deixou
maluca, como a morte de um amor tão querido poderia cooperar? Meu marido morreu
com 35 anos de idade, eu o achava lindo, ele foi a pessoa mais bem humorada que
eu conheci, nos nossos 4 anos e um mês de casados nunca acordou com cara feia
ou com uma palavra desagradável, me achava me bonita, adorava meu cabelo
pintado de loiro, tinha me dado um filho lindo, era um pai excelente, meu
amigo, meu amante, a pessoa que eu mais gostava de estar no mundo. Os finais de
semana eram maravilhosos porque ele estava em casa, íamos a igreja, e eu então
pergunto, como a morte dele poderia cooperar para o meu bem?
Sei que é a verdade bíblica,
mas essa verdade me impedia de falar do absurdo que eu estava vivendo. Nas
madrugadas eu gritava a Deus: Como? Qual é a lógica? E muitas vezes sentia
muita raiva de tudo que estava acontecido.
O problema de texto como
esse, não é o texto em si, hoje, 17 anos e 6 meses depois, eu
compreendi muita coisa, não tudo sobre a sua morte, mas o que a Bíblia diz
que é, é mesmo. Então posso olhar para todo o processo, e dizer fiquei melhor
como pessoa, isso Deus fez comigo, e creio que isso cooperou para meu bem.
Mas, naqueles primeiros
dias, isso me soavam uma loucura... um convite a abafar minha dor. Talvez por
isso passei 8 anos sem dormir.
Deixando minha história a
parte, o que quero deixar como sugestão prática ao visitar uma pessoa enlutadas, são os seguintes passos:
Primeiro: Chegue para ouvir.
Obedeça a orientação de Tiago 1:19 ‘Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para
ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
Segundo: Jamais diga para
uma pessoa não chorar. A ordem bíblica é chorar com os que choram e não
silenciar o choro do outro que está sofrendo. Chorar é um recurso que Deus
colocou em nós, para darmos conta da angústia. Quando choramos liberamos
hormônios que aliviam a ansiedade, e o coração fica mais leve, por isso depois
de uma crise forte de choro, além dos olhos quentinhos e inchados, a gente sente
até sono, relaxa. Chorar é bom. Por isso que Deus nos mandou chorar com quem
chora. Luto é dor que tem que ser chorada. Não tem problema chorar, não é sinal
de fraqueza, apenas de sofrimento, e sofrimento é uma realidade humana, e eu
sei que você sabe disso.
Terceiro: Confirme a dor da
pessoa. Como assim? A pessoa diz ‘ tá doendo, não sei se vou aguentar, você
responde, ‘deve doer mesmo’, mas eu estou com você, Deus vai nos ajudar’. Não
fique discutindo questões teológicas, Deus sabe que a gente se desestrutura,
fala bobagens, pensa que não irá sobreviver. Por essa razão, diante de qualquer
absurdo que a pessoa falar, fique ao lado dela. Como já vimos, faz parte da
fase do luto. Deus, trabalhando através do tempo se encarregará de ajudar a
pessoa encontrar o caminho do equilíbrio. Não seja “espiritual” demais, não se
assuste, Deus não tem problema de auto estima, nós que escandalizamos com
sentimentos, pensamentos e atitudes humanas.
Quarto: Depois de ouvir, de
deixar a pessoa chorar (e chora com ela), confirmar sua dor, só então, sinta-se
no direito de compartilhar algo que surgiu em seu coração. Se nada veio à
mente, não tem problema, ser ouvido é uma das maiores benção que podemos
receber quando estamos em luto. Creia nisso! Palavras nestes momentos podem ser
desnecessárias, mas sua presença jamais será esquecida, eu nunca me esqueci de
ninguém que me visitou naqueles primeiros dias de luto, a presença de uma
pessoa afetuosa é algo maravilhoso e por si só consolador. Creia!
Obs: Estava me esquecendo
de colocar as bibliografias lidas, mas consertarei esse erro agora:
Livros:
- Encontro uma abordagem humanista - Autora:
Clara Feldman
- A arte de ajudar VI
– Robert R, Carhuff
- Luto, uma dor
perdida no tempo- Rubem Olinto
- Anatomia de uma
dor, um luto em observação - C. S. Lewis
Artigo: Luto e perdas
repentinas: contribuições da terapia cognitiva-comportamental.
Http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S180856872011000
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