terça-feira, junho 19, 2018

Mais eu me mordo de ciúmes ou me deixo morder? III


É quarta. Sigo falando sobre o ciúmes.

Desde a primeira infância, para o humano sentir-se amado, carece da aprovação daqueles que receberam a missão de cuidar dele. Esta confirmação somente chega quando o amor é revelado nos cuidados do dia a dia, no olhar atento às suas necessidades físicas e emocionais.
Entretanto, por razões tão distintas quanto a própria diversidade da vida, se estas necessidades não são supridas, a criança pode crescer acreditando ser uma pessoa sem valor, má, difícil de ser querida, crendo ser um peso e não uma benção, o que pode ser devastador para a construção da autoestima, afinal, sentir-se amada é uma necessidade tão básica quanto se alimentar.
A sensação amarga do não gostar de si mesmo, de não se vê com bons olhos, de desconfiar que não é o que deveria ser, faz brotar a terrível ideia do não merecer o melhor da vida, de ter nascido para ser infeliz. Se conquista algo, pensa que é só uma questão de sorte, e certamente com o tempo vai perder.
Ao ter esta percepção de si, o humano desenvolve uma defesa emocional contra a angústia de não ser amado, a qual produz uma dor que muitas vezes é sufocada, reprimida, e que se manifesta nos mais diversos sintomas, e o ciúme adoecido, que nasce para controlar, sufocar, manipular, pode ser um deles.
Se o coração se esvaziou do amor por si mesmo por não sentir-se amado, então agora reina a famosa e cruel baixa estima, a qual tem o poder de fazer nascer o ciúme.  E sendo soberano sobre as emoções, dará ordem para que se mantenha sempre presente o medo de perder, a raiva de não ser amado como deveria, a ansiedade de tentar fazer com que o outro supra suas necessidades, a insegurança de não conseguir manter o que se quer e a sensação de ser muito menos do que é.
Neste cenário emocional, as relações amorosas correm o risco de se tornar palco para que as dores sejam revividas. O medo de perder o que se tem, a desconfiança de que é realmente amado pelo parceiro, o desejo de controlar o comportamento do outro para não perder, a ideia de que o passado está presente, fazendo com que a pessoa não suporte as lembranças dos ex-parceiros, estejam eles vivos ou mortos, sinalizam que a relação está fadada a cenas trágicas, onde perder se torna profecia a ser cumprida.
O problema é que nem sempre os sentimentos são assim tão claros.... Na maioria das vezes o ser humano nem se dá conta da bagagem que traz. Ainda que sinta-se o tempo todo frustrado com o que ver em seu relacionamento, não se dá conta que tudo existe apenas em sua imaginação e faz com que o parceiro se torne réu do que não aconteceu.
Brigas intermináveis passam a ocupar um tempo extenso e precioso da relação. Ao invés do abraço, o solavanco, a tomada do braço, as mãos a virar o rosto. No lugar do beijo, a fala sem piedade ao emitir julgamentos, gritos. O olhar de amor, fica sempre ofuscado pelo brilho da raiva de não ser amado como acredita que deveria ser.
É preciso se dar conta desta realidade, reconhecer que é urgente fazer as pazes com o passado, elaborar as dores vividas e seguir com a certeza do seu valor, para que o ciúme adoecido não mate a relação que tanto deseja preservar.
Se isto ocorre com você, tenha coragem para confrontar o que lhe rouba a vida que quer viver, aprenda sobre você e se dê o direito que todos os humanos têm, de ser felizes. Afinal, o Criador e Sustentador de todas as coisas lhe diz:
“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais”.
Creia.
Semana que vem seguimos falamos sobre as causas do ciúme adoecido. Espero por você.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
982385297