domingo, agosto 17, 2025

O dia é dele

 


Hoje, o Orlando completa mais um ano.

Quem convive com ele sabe que sua vida tem sido dedicada à palavra, à missão nasce e à igreja.

Em casa, sempre posso contar com ele. Ao seu lado, não sei o que é solidão e nem o que é não ter braços a me amparar. Ele vai ao supermercado, gosta de cozinhar. Que delícia é a sua comida.  Eu o perturbo com minha dificuldade com tecnologia, mas tem paciência de andar muitas milhas para me ensinar. Gosta de me levar e buscar nos lugares, e me sinto segura com sua presença.

Muito me impressiona com sua vida sempre em movimento. E na sua correria com muitas agendas, nunca lhe falta tempo para ser servo de alguém.

Como qualquer outra pessoa, traz suas lutas, mas pela graça de Deus tem vencido todas. E muito desejo aprender do que ele naturalmente já tem.

Sobre Orlando, eu poderia escrever tantas coisas que me sinto perdida em meio às muitas palavras construídas ao longo da nossa história. Mas, eu quero que saiba que desejo de todo meu coração que experimente a vontade de Deus em todos os seus caminhos e seja a pessoa mais feliz do mundo.

 E não esqueça: você vive no meu coração no lugar mais amarelo.

Com amor de mulher,

Feliz aniversário!

Roseli

 

 

 

 


segunda-feira, agosto 11, 2025

Meu marido e o cartão de vacina


 

O cartão de vacina estava perdido. Meu marido tinha certeza que havia colocado na pasta dos seus documentos, mas não encontrou. Intrigado, seguiu procurando em outras pastas, gavetas, envelopes e nada achou.

Precisando do cartão para uma viagem, vasculhou seu guarda-roupa até o fundo e notou que havia uma caixa de objetos velhos. Era um lugar improvável. Todavia, como quem acredita que é a última chance, antes de procurar uma solução mais difícil, abriu a caixa. Para sua surpresa, lá estava o cartão.

Meu marido havia colocado seu cartão de vacina onde não deveria, o que o levou a procurar onde não estava. E na vida, também, corremos este risco. Podemos colocar o cartão das nossas expectativas em pessoas e situações, e quando vamos procurar nelas, o que guardamos com tanta certeza, só encontramos o vazio do que pensávamos que estaria lá.

Quando isso ocorre, ficamos perdidos sem saber o que fazer. Por vezes, nós insistimos em ver o que não está lá, todavia a realidade do vazio se impõe como a força da gravidade. A verdade é que tudo colocado onde não deveria, não tem como ser achado.

Portanto, preste atenção onde coloca sua confiança, seu carinho, sua amizade, sua lealdade, seus recursos, seus dons, para não passar pela decepção de procurar e não encontrar o que depositou com tanta certeza. Pois, ao guardar no lugar certo o cartão das nossas expectativas, evitaremos a sensação de estarmos perdidos, tristezas e muitas dores.  

Uma vez que todos nós podemos colocar o cartão das nossas expectativas em pessoas e situações erradas, ao descobrir, não pire, respire. Nada de ficar parado a contemplar o vazio. Meu marido só encontrou o cartão de vacina, porque decidiu considerar que poderia ter colocado em um lugar que não se lembrava. Portanto, reconheça que pode ter errado e vá em busca de outros lugares.  

Acredite.

Sempre haverá boas pessoas e situações onde poderá colocar o cartão das suas expectativas.

E que Deus nos ajude.

Roseli de Araújo

Psicóloga clínica

 

 

 


 

 

 

 


quarta-feira, julho 23, 2025

Posso descansar

 


‘A eternidade é um dia longo’1.

Coloquei na terra um vaso e plantei uma semente com todo o cuidado que exige um plantio. Ao lançar a semente na terra, meu coração pulsou numa expectativa feliz na possibilidade da vida.

Um, dois, três, quatro e no quinto dia a semente brotou. Nossa?! Diante da vida, a vida pulsa em meu peito. E, como uma menina feliz por ganhar uma boneca, eu me alegrei.

Dentre todas as reflexões que me visitam ao plantar uma semente e vê-la germinar, o pensamento que não sou eu a controlar a vida me traz uma calma de quem está deitada junto às águas de descanso2.

Descubro que eu só posso pegar as sementes que a mim foram confiadas, preparar a terra, lançar a semente e regar.  Este é todo o meu trabalho. Mas, a vida que se fará ou não, que maravilha, eu não tenho nenhuma possibilidade de comandar.

Sim, eu tenho o que fazer. Não obstante, até o que tenho é semente que brotou de uma vida que não gerei. Então descubro que a vida que nasce é sempre um lembrete do Deus que está a tudo controlar.

E a ansiedade, esta visita insistente a trazer tensão, se dissipa como a neblina no raiar da manhã.

Sim, a eternidade é um dia longo... Eu nela vivo. Sei que tenho tempo para ver a vida sempre florescer.

E você?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

Referência:

1.       Richard Baxter. Livro Media estas coisas, página 55.

2.       Salmo 23: 2,3

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, julho 20, 2025

Da prisão ao Palácio

 


Tudo começou quando seu pai fez a ira nascer no coração dos seus irmãos por tratá-lo como preferido. E seus irmãos irados o venderam, tornando o José, filho do papai, em escravo na terra do Egito.

Agora, seus sonhos de grandeza não faziam nenhum sentido quando chorava a traição dos irmãos e a saudade do pai e do irmão querido. E o futuro que estava diante dele se tornou sombrio.

Mas ergueu os olhos com uma fé insistente e fez do lugar que foi levado, terra a plantar a liberdade.

E o tempo que o levou a dias tão duros, passou como passa para todos. 

E quando tudo começou a ir bem, foi preso por fazer o certo e passou a ver o sol pelas grades da injustiça. Mais uma vez a vida pareceu conspirar contra ele. 

Todavia, da prisão ao palácio, José seguiu fazendo o certo e pavimentou um futuro que não podia contemplar com os olhos. Não se perdeu tentando encontrar culpados. Não cultivou a amargura do porquê comigo. Não aceitou que o seu fim podia ser determinado por inimigos. 

Antes, José conquistou amizades. Fez de onde passou um lugar melhor. Usou o dom recebido, decifrando sonhos que não eram os seus. Mantendo firme a certeza que não estava sozinho. 

José, com certeza, não podia supor toda a trama do propósito que estava sendo tecida. Contudo, guardou seus sonhos dados por Deus como uma semente que nenhuma terra seca poderia contê-la.

Da prisão ao palácio os dias não são nada fáceis. Mas, quem decidi viver como José, verá o Senhor no silêncio do dia mais tenebroso. E vendo-o, saberá que sua vida cumpre propósitos até alcançar o porto.

sexta-feira, julho 18, 2025

Temos Pai?

 


Abrimos o aplicativo do banco. E uma angústia visita. A vida está cara. As compras do básico têm o preço de objetos de luxo, e saímos do supermercado assustados com as poucas sacolas. As contas não param de chegar. E quando conseguimos, com muito custo, pagar as contas de um mês, outro se inicia.

A noite chega, e como é difícil dormir quando se carrega o peso da falta de dinheiro. Sem sono, pelas pré-ocupações do que fazer para encontrar saída deste túnel escuro, ficamos a pensar no que inventar... E a paz parece fumaça que se perdeu no tempo.

Contudo, tem um mal ainda mais cruel que nos assola. A necessidade de ter o que não é necessário. E corremos atrás de tantas coisas que já perdemos de vista a verdade que a vida não consiste na quantidade de bens que conquistamos ao longo do caminho1.

Dizemos: A nossa casa é o céu. Todavia, vivemos em prol de construir patrimônios nesta pátria que não é a nossa. Nem mesmo o dia do luto é capaz de nos advertir que desta vida nada vamos levar e saímos de um velório preocupados com o que temos que conquistar.

Buscar o reino de Deus e a sua justiça para todas as coisas serem acrescentadas2 parece mais história de ficção do que promessa do Deus todo poderoso. E seguimos cansados como qualquer outro que não crer, porque deixamos de buscar o reino de Deus em primeiro lugar, pois temos que construir o nosso. 

O pior que nos ocorre é que esta escolha nos deixa à deriva, neste mar turbulento da ansiedade, como se não estivéssemos no navio da graça.

Seguimos afirmando a nossa fé no pão da vida, com fome de mais, mais, mais... Temos água da vida e vivemos com sede.

Somos a luz do mundo, mas estamos trancados no quarto escuro da incredulidade, vivendo como luz de vela no final do pavio. 

Somos o sal da terra, todavia, contentamos em ser pisados pelos homens todo dia, ao nos submetermos ao sofisma que para ser temos que ter.

Pregamos sobre o Deus da provisão, do Soberano no controle, mas nem nós mesmos estamos convencidos destas verdades, porque elas não nos acalmam mais. A verdade é que a nossa alma o tempo todo grita por águas de descanso.

Que estranho... Parece que estamos perdidos no reino de Cristo, como se fôssemos do mundo que jaz no maligno3. E nos tornamos os mais infelizes de todos os homens porque não vivemos da graça que já recebemos.

Que hoje, Deus nos ajude a fechar o aplicativo do banco como quem não é órfão do Pai.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

 Referência:

1.       Lucas 12:5

2.       Mateus 6:3

3.       IJoão 5:19




domingo, julho 13, 2025

Cuidado e o tempo

 


Cuidar de nós mesmos para que o coração não fique sobrecarregado com as preocupações deste mundo’1 é uma ordem de Jesus, mas, quem tem tempo para pensar sobre isso?

Os dias parecem curtos demais e o tempo parece correr a 200 km por hora, impondo sobre nós uma ansiedade por um fazer sem pausa.

E a pressa é como um poderoso espírito que paira, gerando uma ânsia que corrói por dentro e por fora, mimando nosso corpo como um câncer silencioso a roubar a vida sem assustar, cada dia e mais um pouco.

Sem tempo, seguimos a conquistar o que é imposto que preciso. Logo, já não ando devagar. Não me permito ver a beleza e nem a feiura do caminho. E o respirar com calma parece uma tarefa de outro mundo.

O corpo não se cala diante da imposição do não ter tempo. Uma angústia emerge por dentro. Ficamos inquietos. Uma irritação que nada ajuda comparece. A expectativa de um futuro que não vale a pena domina. O coração bate com desespero. O sono é roubado. A concentração viaja sem permissão. Às vezes as mãos ficam trêmulas, outras vezes o suor escorre. Uma fraqueza nos faz sentar sem querer. Ombros e costas parecem carregar o mundo. Contudo, não paramos a despeito de todo sinal dado pelo corpo.

Todavia, o corpo segue clamando.

E a ordem de Jesus para cuidarmos de nós mesmos, para que o coração não fique sobrecarregado com as preocupações deste mundo’, nos livraria de toda morte que nos espreita. Ela nos traria a vida que acreditamos comprar nas farmácias. Ela faria o coração carregar o que é eterno, tornando-o leve como uma pena. Sua ordem obedecida nos faria viver e não apenas existir.

Mas, quem tem tempo para pensar sobre isso?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

Referência:

1.     Evangelho de Lucas 21:32

quinta-feira, julho 10, 2025

Todos?


Deus está perto de todos os que o invocam... Diz o salmista1.

Todos? Sim, todos:

De todos os que cantam de alegria e de todos que choram de tristeza.

De todos que celebram a chegada de um bebê e de todos que choram a morte de um filho.

De todos os que estão vivendo na luz e de todos os que estão vivendo na escuridão da noite.

De todos que sobem aos céus e de todos que fazem sua cama no mais profundo abismo2

De todos os que contemplam o fruto do seu trabalho e de todos que creem que seu trabalho só trouxe cansaços.

De todos que estão cercados por amigos e de todos que se assentam na mesa com seus colegas falsos3.

De todos que a fé está fortalecida e de todos que a incredulidade visita.

De todos os que estão de pé e de todos os que caem.

De todos que estão cercados de recursos e bens e de todos que experimentam a falta do básico.

De todos que estão saudáveis e de todos que estão doentes.

De todos que realizam seus sonhos e de todos que vivem a frustração de não conseguir o que tanto deseja.

De todos que vivem a hora do abraço e de todos que vivem o afastar-se de abraçar4.

De todos que preparam a terra para a semente e de todos que separam as ferramentas para colher.

De todos que buscam o que desejam e de todos que perdem o que tanto quis guardar.

De todos que decidem manter e de todos que optam por dividir,

De todos que falam e de todos que se calam.

Este, todos, me consolaria se o salmista Davi não me informasse que ‘Deus está perto de todos os que o invocam em verdade1. Logo, há um grupo de pessoas que não está no todos.

E o meu coração se agita. Eu sei que a verdade não é algo fácil para quem sabe que não sabe tudo de si. Logo, o que provou a verdade traz no peito a humildade de reconhecer que não sabe tudo, que não vê tudo, e que precisa buscar Aquele que tudo sabe e tudo vê. E a verdade de saber que não sabe já é verdade para se admitir.

          Deus também se compraz, na verdade, no íntimo’5, me informa Davi. Jesus me diz que o Pai procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade6. O autor de Hebreus me exorta a aproximar-me de Deus com sincero coração… ’Percebo que a verdade é caminho onde não se pode desviar quem a Deus deseja. 
          E nesta estrada, onde a verdade habita, sinto que meus pés são feridos. Já não consigo mais andar por onde quero, contudo, sei que é o único caminho para ter Deus por perto.  

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

Referência

1.        Salmo 145:18

2.       Salmo 139:8

3.       Salmo 23:5

4.       Eclesiastes 3:5

5.       Salmo 51:7

6.       Evangelho de João 4:23

7.       Hebreus 10:22

 

 

quinta-feira, junho 05, 2025

O pior de está perdido

 



Tenho aprendido que pior do que estar perdido é não se reconhecer perdido.

O perdido é tantas vezes como o filho pródigo na casa do pai. Deseja um mundo lá fora que não tem nada a oferecer, sem ser capaz de avaliar o quanto recebeu durante toda sua vida. Não consegue ver o quanto está guardado pela autoridade justa e carinhosa do pai, e sai a buscar na liberdade o que ela não pode oferecer.

O perdido despreza o colo da mãe, as brincadeiras com os irmãos, a presença de todos os que lhe servem na casa em que lhe foi permitido nascer. Ignora as festas vividas, o riso na mesa, o teto confortante que o abriga.

O perdido ambiciona encontrar outros que lhe permitam viver tudo que tiver vontade, sem avaliar que os fins de alguns desejos podem esmagar uma alegria sonhada.

O perdido, dos seus lábios, gratidão não jorra e nem é capaz de reconhecer que só vive o que se quer, porque está bancado por aquele que sustenta a vida. 

O perdido rompe com aquele que ama, na ilusão que encontrará outros amores. E ao exigir o que não tem direito, semeia como se a colheita não fosse chegar.

Olhando para o filho pródigo, fico com a certeza que quem está perdido vive como se fosse uma estrada de lama em dia de chuva, onde o perigo se concreta. Pois, o perdido não vê onde está e fica sem perceber que não se encontrou. Não reconhece o não saber a direção e segue na estrada errada, gritando a pleno pulmões que sua escolha é a certa. Sem admitir que o seu saber nada faz na vida que se faz, se torna incapaz de avaliar que a força e os recursos que julga ter são apenas ilusões de uma proteção que o tempo destruirá.

O triste do perdido que não sabe que está perdido é que, por si, nada poderá fazer. Sem se vê, não pode recalcular a rota, nem reconhecer o coração endurecido pela vaidade de se achar onde não está, e de não buscar o Senhor enquanto se pode achar(1).

Olhando para o Filho pródigo, fico a pensar: onde estou perdida? Existe em mim algum olhar que não vê? Qual é o direito que eu julgo ter? Em que tenho deixado o pai para viver o que suponho ser bom? Diante das perguntas que faço, minha alma suspira por uma clareza que me livre de mim.

Confesso: Não quero ter o triste fim de quem não se viu perdido, embora eu saiba que é possível, como foi ao filho pródigo, encontrar o caminho de volta. E, graças a Deus, pela graça que nos permite recomeçar. Mas, o que prefiro é nunca sair da casa do pai que para mim foi conquistada, vivendo como gente que sabe que por Cristo foi encontrada.

(Texto Baseado em Lucas 15)

Escritora e psicóloga

Roseli de Araújo

Referência

1.Isaias 55:6

domingo, maio 25, 2025

O Pai de Lucas 15

 




Ele tinha em suas mãos o poder de entregar seu filho ao apedrejamento, mas ao invés disso, deu a ele a parte da herança, que, naquele momento, não era dele. Deixando-o ir, tendo todo poder de segurá-lo, ainda financiou sua louca desobediência, certo de que o filho desperdiçaria tudo que levaria. Afinal, quem não aprendeu a agradecer o que recebeu, dificilmente saberá administrar para o seu próprio bem.

Certamente, o coração do pai ficou estraçalhado.

Enquanto deixava ir, lutou com os pensamentos de que aquele filho era jovem demais, e gostaria tanto de livrá-lo do futuro trágico que estava à frente. Seriam tantos perigos... Contudo, contemplou para além do que o filho lhe impunha. Sabendo que a única chance que tinha de recuperá-lo era deixá-lo partir. Ele já estava perdido em si e o seu sonho de liberdade já o esmagava nas cercas de sua família, provocando nele o desejo de outros ares, asfixiando nele, o lar que o acolhia. O pai sabia que, se ficasse a amargura, o destruiria.

Sem a mínima vontade de consentir sua partida, o pai disse sim.

O filho acreditava que precisava provar das suas escolhas. E partindo sem nenhuma certeza do que o caminho lhe reservaria, saiu pulando de alegria. O pai ficou encostado no batente da porta em busca de apoio, enquanto a escolha do filho lhe atravessava a alma.

Por vezes, sinto que saio saltitando em busca do que eu quero, enquanto Deus me sinaliza para não ir. E são muitos os momentos em que prefiro aprender com meus erros do que ouvir aquele que me ama, indo muitas vezes em busca da vida que já tenho em sua casa.

Mas, graças a Deus, o meu pai é o pai de Lucas 15. Ele me deixa ir e escolher, provar do que não é manjar, fazer o que me trará uma dor que eu não precisava ter. Vendo-me como nem eu mesmo me suponho. Financiando com paciência o que não quer para mim, sabe da dureza do meu coração de pedra, do quanto acredito que os meus olhares sobre a vida são os melhores. E é com frequência diária que mesmo discordando de mim, mantém-me por sua maravilhosa graça.

E ao me permitir voltar do que me levou para longe, o pai de Lucas 15 faz meu coração de pedra se esfarinhar. Mesmo quando fico por alguns momentos desgostosa comigo mesma, por perceber a loucura do que faço ao desobedecer, descubro que a rua da sua imensa graça já estava construída para que eu pudesse voltar para casa. Que maravilha! Em sua graça, ele nunca me deixa perdida.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

domingo, maio 18, 2025

O problema da falta

 

                                   

Eles discorriam sobre o não ter pão. Pareciam esquecidos dos milagres que foram feitos, ontem. E não entenderam nada quando Jesus falou do fermento dos fariseus. Que triste, eles estavam ocupados com a falta.

Será que eu sou assim?

Ele me salvou da morte eterna, do diabo, de mim mesma, e não compreendo ainda?

Ele é a minha rocha, em quem existo e me movo, e não compreendo ainda?

Ele é o caminho que me livra dos atalhos, e não compreendo ainda?

Ele é a verdade que me liberta de todo saber que não me leva a nada, e não compreendo ainda?

Ele é a vida que me livra da aridez da morte, e não compreendo ainda?

Ele é o pão que eu sei que se partiu pelos seus discípulos de todas as gerações, e não compreendo ainda?

Ele é água que me tira toda sede de outras buscas, e não compreendo ainda?

Ele é o descanso nos dias em que o cansaço me rouba as forças, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo que se manifesta na mesa quando a incredulidade me causa angústia e não compreendo ainda?

Ele é aquele que atravessa as paredes dos meus medos, dando-me certeza da sua presença, e não compreendo ainda?

Ele é o bom pastor que não me deixa na solidão dos profundos vales, onde ninguém pode passar comigo, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo sentado ao lado, quando Judas está na mesa, e não compreendo ainda?

Ele é aquele que vem ao meu encontro mesmo sabendo dos meus pecados, e não compreendo ainda?

Ele é quem se fez pecado por me amar, e não compreendo ainda?

Ele é àquele que sempre advoga as minhas causas impossíveis, e não compreendo ainda?

Ele vai voltar como prometeu em sua palavra, e colocará tudo em ordem, e não compreendo ainda?

Por vezes me pego pensando: por que me ocupo da falta do pão? Qual falta sentida que não foi preenchida por aquele que a tudo preenche?

A resposta que ecoa é que estou sem memória de todos os seus milagres feitos, ontem, por mim.  E, sem lembrança, fico a lamentar, mesmo tendo. 

Quão perversa é a incredulidade que carrego no peito.  Percebo que é fácil seguir chorando pelo leite que já tomei, sem considerar a provisão já recebida. Também, é fácil viver sem ver o que Jesus está me mostrando e sem ouvir o que está me dizendo.

Diante desta minha verdade, eu sei que preciso me apropriar de tudo que nele já recebi. E hoje, ao abrir sua palavra, escutei a sua voz mais uma vez a me perguntar: não compreendeu ainda?

Quem sabe nessa sua obstinação, meus olhos se abram e meus ouvidos ouçam. E, eu que estava ocupada pela falta, fique livre da incredulidade, que tem me roubado a aprender dele tudo que deseja ensinar a mim.

E você, qual é a sua falta? E o que tem escutado de Jesus?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga Clínica

(Texto baseado em Marcos 8:14-21)

 

quinta-feira, março 20, 2025

Na praia

 




Todos estão confusos. Sentem-se vazios... A vida sem a presença do mestre Jesus os deixava com a sensação de não saber ao certo o que fazer.

Dentre eles, Pedro tinha o coração ainda mais dolorido. É difícil enfrentar a realidade de ser menos, quando se pensou, ser mais. Pelo mestre, acreditou que conseguiria dar a própria vida. Mas, como todos os outros, o negou.

Naquela noite, sentindo um peso no peito frente ao futuro que nada o acenava. Ele disse, ‘vou pescar’. Os outros discípulos que estavam na praia juntaram-se a ele. Afinal, eram homens do mar, antes de andar com o mestre. E como também não sabiam como recomeçar, fazer o que se sabe podia ajudar a encontrar de volta o caminho.

Eles pescaram a noite toda. Nenhum peixe apanharam. Exaustos e com fome, retornam à praia ao amanhecer, ainda mais confusos... vazios...

Mas, o mestre Jesus estava na praia. Contudo, os sentimentos confusos, ansiedade quanto ao futuro, a fome presente, o cansaço de lutar e nada ter, roubaram deles ver o que tanto precisavam. Eles não o reconheceram.

Mas, Jesus estava na praia naquela manhã, em que a esperança, parecia uma fumaça a se perder no tempo.

Não se esqueça.

Naquela manhã, Jesus estava na praia.

Psiu... vou repetir:

Naquela manhã, Jesus estava na praia.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga


(texto baseado em João 21 e publicado a primeira vez no dia 11/04/23)

quinta-feira, março 13, 2025

Carta a um pai (texto cedido por uma paciente)


                  Foto do site:  https://funerariasantacasa24h.com.br/como-superar-a-perda-de-um-pai/

Sinto saudade de você pai, ainda que esteja aqui. Saudade do riso de graça, dos passeios nos rios, das viagens esperadas com paradas para lanche, dos doces quando chegava do trabalho, da cantiga do serrador, das rodas com violão e sanfona.                

Por vezes, me vejo procurando-o. Para onde foi mesmo? Não o encontro mais. Então percebo que todas as minhas lembranças ficaram perdidas no meu mundo da infância.  E pergunto a mim mesma, o pai da infância onde esta?

Agora, confesso não gosto muito, hoje, do que faz. Não quer mais uma conversa de mão dupla, e tem como único assunto a si mesmo. Não traz mais os doces, antes cobra até o que já tem. Não mais reúne rodas de pessoas, agora vive isolado na sua caverna. Não senta a mesa nem mesmo em dias de festas, preferindo, na maioria das vezes, seus programas na televisão... E fico com a impressão que se perdeu do mundo dos afetos.

Hoje, também, já com cabelo brancos a tingir minha cabeça, muitas vezes, escuto minha criança a reclamar a saudade do pai.  E uma dor emerge ao sentir que o afeto se dissipou com o tempo.

Todavia, sei que nem tudo que sinto é uma verdade. Somos o que conseguimos ser. E reconheço que me deu muito além do que recebeu dos seus pais. E, tenho orgulho de ser sua única filha.

Então, calo minha criança, ao reconhecer que ainda é meu pai do jeito que sabe ser. E do seu jeito, ainda foi, é e sempre será, o pai que preciso.

(Texto de uma paciente)


quinta-feira, fevereiro 20, 2025

O passarinho e o meu guarda roupa

 



Era uma manhã bem tranquila. Eu estava lendo, quando de repente um barulho me assustou. Olhei e vi um passarinho no chão. Ele havia entrado voando e bateu na porta do guarda-roupa.

Aproximei com a intenção de ajudá-lo, e ao me ver tentou voar, mas estava desnorteado, e sem conseguir, desistiu de lutar.

Ao ver que nada tinha quebrado, o aconcheguei em minhas mãos, ele se aquietou. Eu fiquei ali encantada com aquele pequenino tão frágil em minhas mãos.

Sua visita tão desajeitada me fez pensar que, na vida, muitas vezes, em decisões que tomamos, batemos em muitas portas de guarda-roupas.

Pensando estar na direção e na velocidade certa, ficamos desnorteados quando nos defrontamos com barreiras que são intransponíveis.

É impressionante como decisões erradas têm o poder de nos paralisar, nos levando, muitas vezes, a nos impor uma jornada solitária e recheada de medos. Decepcionados em não perceber as barreiras antes, nossa tendência é pensar: Como não vi o guarda-roupa? Como não medi a distância certa? Por que fui tão rápido? E são tantos os porquês que nos atormentam...

Decisões erradas nos levam a ficar desconfiados da nossa capacidade. E como aquela criança que passou a ter medo da janela porque um dia pulou, por pensar ser um super-herói e quebrou a perna, assim somos nós, passamos a ter medo de errar e cremos que só vive bem quem nunca erra. Todavia, esta crença pode nos quebrar a alma.

Não sei onde aprendemos que devemos acertar em tudo. A verdade é que a vida nem sempre sinaliza as curvas, os abismos, as fronteiras, e é preciso caminhar para aprender o caminho.

Temos que aceitar que viver é decidir. E que depois de certas decisões podemos experimentar a sensação de que, de agora em diante, ‘o daqui para frente é só para trás’. Porém, este sentimento deveria servir para ficarmos quietos até entendermos onde foi que erramos, para então corrigirmos a rota à nossa frente. Todavia, muitas vezes ficamos como aquele passarinho, amuados e desconfiados de qualquer um que se aproxima com suas mãos estendidas.

Aquele passarinho, eu o levei ao pé de pitanga, que fica de frente à janela do meu quarto, e o coloquei em um galho. Ele ficou quietinho por alguns minutos, depois se sentiu seguro e, quando voltei lá, já tinha voado.

Confesso. Fiquei feliz em tê-lo ajudado a voltar ao seu propósito.

Eu creio que assim o Senhor faz conosco.

Quando ficamos desnorteados e sem conseguir lutar, Ele nos leva para pitangueira da nossa vida e nos coloca num galho seguro. Ele não fica levantado os porquês dos nossos erros. Ele deseja que a gente fique apenas um pouco de tempo quieto, para percebermos o que Ele fez e tem feito por nós. Tempo só para refletir e pedir perdão por um dia termos confiado que não iríamos errar. Tempo apenas para perceber que Ele estende as mãos para gente como eu e você. Tempo para ver que em Cristo somos perdoados. Tempo para podermos encontrar nEle a segurança perdida e voltarmos a voar na direção do seu propósito.

Creia, Ele se alegra quando você volta a voar.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica