Teve um tempo, graças a Deus, curto, em que eu me olhava no espelho, e meu coração se angustiava com as marcas de expressão que nasciam, sem serem convidadas, é claro.
Isto me aconteceu aos 34 anos. Eu, que gosto muito de fotos, e sempre estou visitando meus álbuns, nesta época, já não me reconhecia.
Aquela menina de rosto liso, de pele sem nenhuma marca, sem mancha, com muito cabelo, estava se transformando em uma mulher que eu não estava gostando de ver.
Hoje, eu faço 46 anos.
As marcas no rosto aumentaram. Ganhei alguns quilos. Os cabelos estão cada vez mais brancos, e só não estão mais ralos por causa da receita do dermatologista. E, cada vez mais gosto das tintas que deixam o meu cabelo loiro.
Contudo, aquela crise com a imagem, anda desaparecida. Por que? Afinal, ao ver as minhas fotos do passado, estou mais distante ainda da menina, que hoje, eu acho bonita. Que pena! Quando eu era mais jovem, não acreditava ter beleza alguma.
Desconfio que o sumiço da angústia, tem haver com o olhar pra vida, que se fez, a cada marca que minha alma, até aqui, experimentou.
E, dentre tantas coisas vividas, lembrei-me do dia em que fui a funerária, para proceder com o enterro da perna de minha mãe que fora amputada na altura do joelho. Foi atordoante. No caminho, chorei compulsivamente, não tinha imaginado que passaria por tal situação. Mas, ao chegar lá, e ver pessoas abatidas pela perda de entes queridos, meu choro estancou. Celebrei a vida. Minha mãe continuava conosco. Parte de sua perna não era maior do que Ela. Que alegria. Ela continuava presente.
Eu sou lenta para entender coisas importantes. Ainda acho que estou longe de compreender isto com toda minha alma, mas, as pessoas são as coisas mais importantes que temos. Não gosto desta terminologia de coisas para referi a pessoas. Contudo, não sei porque, não consigo pensar em um termo melhor.
Talvez, ou melhor, com certeza, estou contaminada pelo modo de viver do nosso tempo. Embora, sempre achei que nunca consegui corresponder a todas as exigências. Cheguei a pensar um dia que isto era uma grande desvantagem, contudo, hoje, luto para não me conformar com esta vida de só fazer e ter.
É sufocante este planeta de afazeres. Tantas cobranças externas, já internalizadas em nosso peito. Soa-me sempre cansativo chegar a um lugar, nem termos tempo de respirar, e já ser esperado de nós, novas conquistas. Nada parece suficiente. E vamos, aprendemos com o ritmo imposto, não respeitar, nem o limite do nosso corpo.
E a vida, que tem data para ser ceifada, nos é roubada.
É aniversário, meu coração reclama que a morte não combina com esta data. Minha mente, concorda.
Nestes 46 anos, eu quero é pensar na vida.
Nestes 46 anos, eu quero é pensar na vida.
No café da tarde com minha mãe que ri de tudo. Na presença do meu pai, que nestes últimos tempos, conversa mais. No meu filho que segue transmitindo sua juventude, sonhos, risadas altas. Nos meus irmãos Sandro e Rogério, que a vida me deu de presente tão cedo. No meu marido que é com certeza a melhor companhia que tenho. Nas minhas amigas e amigos, que reveste de beleza qualquer dia. Na minha família de Brasília, primas queridas, tias, tios, minha avó Mariana, ainda que hoje, sinto falta da sua alegria.
Quero seguir tendo tempo para sentar a mesa. Conversar. Rir de quase tudo. Escrever, escrever e escrever.
Quero seguir tendo tempo para sentar a mesa. Conversar. Rir de quase tudo. Escrever, escrever e escrever.
Aos 46 anos, estou feliz em acreditar que a vida é mesmo o melhor presente que recebi. E que as pessoas que tenho tão perto, são as melhores pessoas que posso conhecer.
A Deus, obrigada por me dá um coração feliz.
Aos meus - família, amigos -, obrigada pela certeza do apoio sempre.
Aos meus amigos do blog, quando vocês me dão um feedback, sei que leram, então, escrever, fica muito mais gostoso.
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