Certa vez, uma pessoa me disse: Vocês psicólogos querem explicar tudo. Mas, não é verdade. Nem tudo pode ser explicado. Veja. As crianças morreram, a professora morreu. O que nos resta é o silêncio em respeito a dor do outro e o choro diante da realidade imposta.
Todos perguntam: O vigia era louco? Seus familiares dizem que havia comportamento estranho. Contudo, eles não conseguiram cercar os "sinais de loucura" que se apresentava desde 2014. Algo estava errado, mas o que fazer? O mal não estava claro, sua intenção não estava sobre a mesa.
Falar de loucura não é coisa assim permitida, é perigoso sussurrar sobre os loucos com suas loucuras, e ainda mais quando a loucura se vestiu da sua mais sutil roupa. E como falar da loucura em quem trabalha, paga suas contas, mora sozinho? Ele parecia cuidar bem da sua ilha.
Mas, o não visto cresce. Morre crianças em Janauba. Morre professora que tenta salvá-los. E profissionais ou não, a sensação que amarga a alma é que somos todos impotentes.
Olhamos para o mundo com a expectativa de que não há outro caminho, a não ser o isolamento do outro que não sabemos quem é. O medo cresce.
O delegado disse que tem plena convicção que Damião planejou morrer no dia 05 de outubro, data em que seu pai faleceu. O velório dele não teve a presença de nenhum parente, nem amigos. Mas, sua vida agora se transformou em marco que nos afirma que temos que manter as nossas próprias vidas. É preciso cercar as ilhas. Mas, como?
Não gosto deste vigia que se declarava sozinho. Ele pede a diretora da creche que não se preocupe com ele. Ele não vai ao trabalho por oito dias. Mas, quer morrer sendo notícia. Ele pega o seu barco, ele estoca gasolina e álcool. Ele entra por onde não é esperado. Ele é o funcionário contratado para vigiar nossas crianças. Ah, não... não são nossas crianças. Perdoe-me, são as crianças da ilha de Janauba.
Mesmo assim, nos impôs vê-lo. Queria mostrar ao mundo a ilha em que vivia? Quem é que queria vê-lo?
Mesmo assim, nos impôs vê-lo. Queria mostrar ao mundo a ilha em que vivia? Quem é que queria vê-lo?
Não gosto deste vigia. Ele me conta que é possível entrar em nossas ilhas pelo mar inseguro das nossas vidas.
Ele relembra que o mar cerca a todos. Com sua morte anuncia que há piratas que podem invadir a rota que nos leva as nossas ilhas.
Seria o isolamento um pirata, o não visto, que cresce todo dia?
Seria o isolamento um pirata, o não visto, que cresce todo dia?
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