O
castelo do eu posso
Ela
era boa menina, seu sorriso era fácil, sua energia invejada, e a todos que lhe
faziam pedidos, a sua resposta era ‘eu posso’. Era com certeza um tipo de
pessoa que qualquer um gostaria.
E
o tempo, que desconfio ser corredor de maratona de 100 metros rasos, correu
como Usaim Bolt em Berlim, e assim aquela menina se transformou.
Seus
cabelos brancos começaram a surgir na meia idade, o sorriso ainda fácil marcava
sua face. Ela estava com um pouco menos de energia, porém, seguia respondendo a
todos que lhe pediam algo com a mesma frase “eu posso”.
E
o tempo, como sempre corre sua olimpíada, e agora já na terceira idade, o
sorriso fácil foi se apagando em cansaço, seus passos ficaram
lentos como os daqueles que carregam grandes fardos.
Contudo,
as pessoas a quem sempre disseram “eu posso” não se atentaram para as
necessidades que tinham, e continuaram a pedir tudo como se ela ainda fosse a
mesma menina que um dia produziu inveja pela disposição que tinha.
De
tanto repetir “eu posso” para os outros, estava sempre cansada para o que tanto
queria, e acostumou a abandonar-se. Não estudou o que queria, não se casou com
quem desejou, não usou o enxoval que colecionou, não teve a casa que sonhou
decorar, não fez aquele curso no exterior, não fez a viagem planejada, não
atendeu ao chamado que tinha certeza que era do seu Senhor.
Portanto, a menina que nasceu com tantos
talentos para ganhar o mundo, trancafiada no castelo do “eu posso”, só para os
outros, ficou.
Agora, que seu corpo cansado, seu sorriso apagado, seus passos lentos, a convença de dizer
para si mesma ‘eu posso’ descansar, e quem sabe, depois de refeita, encontre
força, e ainda tenha tempo para viver o que a vida lhe oferece hoje.
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