sábado, janeiro 16, 2016

Na sala de espera




A consulta médica de rotina estava marcada para as dez. Entrei na sala de espera e as filas de cadeiras estavam quase todas ocupadas. Achando desconfortável passar entre as pessoas que estavam espremidas, decidi ficar em pé e me encostei na parede ao fundo. Quase que num gesto automático, abri a bolsa e retirei meu celular na tentativa de fazer algo enquanto esperava. Na pressa, o aparelho caiu das minhas pequenas mãos e o peguei o mais rápido que pude. Fiquei desconcertada quando vi que a bateria havia descarregado por completo.




Vendo-me sem nada para fazer, olhei para as pessoas à minha volta, compenetradas, viajando no infinito mundo virtual. Na sala, o silêncio só não reinava inteiramente porque uns poucos, que pareciam ter mais de 50 anos, conversavam entre si. Sorri na alma ao pensar que naquela sala eu poderia fazer careta que certamente não seria vista. E na minha solidão rodeada, uma inquietação me visitou, seria a viagem do mundo virtual tão melhor do que o real de viver no aqui e agora? Então afastei essa inquietação do pensar que sempre me visita. Certamente isso é coisa boba de psicólogo... 

sexta-feira, janeiro 15, 2016

O trem que saiu da estação...
O trem parou naquela estação...
Ele trouxe em sua mala o peso de não saber a estrada a seguir.
Vi em seus olhos o brilho de um menino que, embora perdido, teimava em acreditar nos super-heróis. Então estendi as mãos.
Num gesto de confiança, sorriu, mesmo em meio à dor que o embalava.
E o trem deixou a estação...
E seguimos sem saber para quais estações estaríamos sendo levados.
Meu coração tranquilo sorria por conhecer o Maquinista.
E o trem seguiu em frente, porque pra frente é que nos levam os trilhos.
Chegamos a uma nova estação. Descemos. E vi que minhas mãos balançaram um adeus, ainda que meus braços, frouxos, não tenham se erguido – Ah... como eu queria que seguisse comigo nessa nova estação!
Mas a Viagem, quem a pode dominar?
E meu coração chorou frente ao novo trem que avistei ao longe...
Mas, amigo, levarei você sempre comigo e sei que me carregará para suas outras estações, como sei que na mala, agora, leva a esperança de quem sabe o Caminho.
Então, hesitante, olhei você, seus olhos se anuviaram de tristeza, segurei suas mãos com força... dói deixar quem aprendemos a amar.
...
E o meu trem apitou... meu coração silenciou... já era hora da partida.
Ainda segurei suas mãos firmemente entre as minhas.
Mas segui no conforto da amizade que nos deu o maior de todos os laços, e fez, em nós, nós, sem nenhum espaço.



quinta-feira, janeiro 14, 2016

Gostar ou gastar




Gostar da vida ou gastar a vida... quem?

Reconheço, eu reclamo, e me esqueço de 
            que não sou o centro, 
                nem do meu universo pequeno.
                                                                 
Ainda bem que a Vida é generosa, mas,

Terei tempo para aprender a não me tornar 
              como aqueles que vão gastando
                   tijolos de murmurações na construção
                       de uma casa que ninguém visita?
                                                                                                      
Onde, quem puder me aponte,                 
               quem a Vida agradece?

                                  Psiu... ei... você está aí?









quarta-feira, janeiro 13, 2016

Essa Mariana, exemplo de brasileira!


Minha avó Mariana aprendeu a ler após os 50 anos, tirou sua carteira de motorista aos 68 e aos 70 aprendeu a nadar, sendo ela mesma digna desta frase: ‘Sou brasileiro e não desisto nunca’.
Pequena em estatura, mas enorme em sua coragem, nunca a ouvi dizer que algo era difícil quando desejava fazer alguma coisa. Conhecida como teimosa pelos seus, nunca se deixou vencer pelo preconceito com a terceira idade. É que pessoas como minha avó Mariana jamais se preocupam com a soma do tempo, elas descobriram que têm contas mais importantes para fazer, e vão transformando tudo que receberam em oportunidades.
Eu fico impressionada porque nem essa cultura burra que endeusa a juventude roubou dela o brilho de quem desafia.
E assim ela segue, teimosa... E eu confesso que a admiro com toda minha alma, e sou grata por nascer na família dela, tendo o privilégio de ser sua primeira neta!
 Da mesma maneira que ela, desejo terminar meus dias fazendo tudo que eu acredito, a despeito das vozes que se erguem – fora e dentro de mim – pra dizer que eu não posso.
E essa teimosia dela... ah... essa teimosia...  como eu quero!





terça-feira, janeiro 12, 2016

Clara Dawn, parabéns pra você!



Clara, eu não te conheço muito de perto,    embora   tenha   te visto pessoalmente em três lançamentos: dos livros relacionados  ao  seu filho Arthur, do seu livro O Cortador de Hóstias (que vale  muito a pena ler) e da revista Raízes Jornalismo Cultural. Mas, mesmo sem maior intimidade, aprendi a admirar pessoas que  conseguem  fazer das suas dores caminhos   para   abençoar   outros.   Porque,   como psicóloga que sou, sei que   há   dores que são capazes de paralisar, então eu me encanto sempre com   aqueles   que conseguem ir para além daquilo que estão vivendo. Pessoalmente,   acredito   que essa força é uma parte de Deus em nós, uma vez que   creio   que  fomos criados à Sua imagem e semelhança.



Principalmente por essa razão, eu gostaria de aproveitar esta data para expressar a minha admiração e te dizer que o projeto Raízes, enquanto existiu, foi de grande valor e cumpriu seu propósito. Seu legado é valioso. Eu desejo que você siga com a mesma coragem que te trouxe até aqui, que se refaça para os novos projetos que certamente o Autor da Vida tem para você. 

E que continue sendo essa mulher que, além de bonita, tem uma beleza interior que nos faz refletir e pensar que precisamos seguir em frente. 

E que sua alma seja tão leve quanto leve é a sua voz.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

O batom


De tudo que vivi ao lado da minha mãe quando ela amputou a perna esquerda, o que mais me impressionou foi sua postura após a cirurgia. Apreensiva entrei no quarto do hospital no dia em que recebeu alta com o coração tão pesado... como seria sua nova vida sem uma perna que carregou por tantos anos?
Porém, quando me viu, a primeira coisa que me perguntou foi:
Você tem um batom na bolsa? Não quero parecer doente.
Eu me assustei com seu pedido, esperava que estivesse tão apreensiva quanto eu com os olhares que receberia. Infelizmente muito preconceito se tem em relação ao deficiente físico, e meu temor era que as pessoas fossem inconveniente em seus comentários ou olhares. Eu não queria que ninguém a visse como se fosse uma coitadinha por saber da guerreira que está ali.
Eu estava armada, e custei a me desarmar frente aos olhares que ela recebeu, entretanto, ela saiu do quarto se despedindo das enfermeiras com os lábios rosados, um sorriso estampado e segurando um vaso de flores que ganhara de uma amiga que a visitou.
Eu não fotografei aquele momento, eu estava encenando no palco daquela cena, e naquele instante do espetáculo que eu temia, admirei a performance desta mulher surpreendente, que até então eu pensava conhecer sua força, e encantada com a leveza da sua bravura, minha armadura caiu... eu pensava conhecer a força desta mulher, mas descobrir que eu não a conhecia.

sábado, janeiro 09, 2016

Desejos secretos


Por vezes não sussurramos nem para nós mesmos o que tanto ansiamos... Temos medo de pensar ou de ouvir: Você é um louco.

Sim, tememos os riscos, mas que aventura vamos experimentar se não nos arriscarmos? Porque, como dizem minha cunhada Bruna e minha amiga Cida, “o ‘não’, nós já temos”.

Talvez viver seja pra quem tem coragem de buscar o ‘sim’ – quando se pensou que o ‘não’ era o fim do caminho – e não deixar que os fantasmas do ‘se’ roubem as pernas que nos levarão na busca pelos nossos desejos...

Penso que na vida é melhor carregar as feridas dos tombos levados do que jamais ter brincado. É olhar nos olhos de quem se procura para ver o que está escrito em seu brilho, tendo a coragem de viver o momento do encontro que pode definir um caminho. É construir pontes para que amigos e amores cheguem.

Medo, sim, ele fica presente, mas... e daí?

Melhor é acolhê-lo. E ainda que suas mãos estejam vacilantes, aconchegue-o junto ao peito. Quem sabe, ao ouvir o coração batendo, o medo se acalme, como a criança se acalma ao reconhecer as batidas tão conhecidas do coração da mãe?
E assim, quando ele se acalmar, a gente mostra pra ele quem é que manda.

Por isso, vá! Corra na direção dos seus sonhos e, se não for possível, ande; e, se não for possível, ore. E se for possível, faça tudo isso.

Certamente verá que, na estrada desta viagem tão fascinante que é a vida, correr, ou caminhar, ou orar, tudo vai fortalecer suas pernas para ir muito mais adiante. E ainda que a rota mude, o que importa?

Terá descoberto que viver é maior do que qualquer coisa que se possa perder ou ganhar.


sexta-feira, janeiro 08, 2016

Doeu, mas valeu


Tem feridas que são necessárias para que a gente não volte a se esfolar. Elas nos tornam mais cautelosos frente às escolhas, nos fazendo, se necessário, confiar menos no outro, em nós mesmos e em nossas percepções. Elas nos levam a olhar os fatos!
E contra fatos, quem pode argumentar?
As feridas, transformadas em sinalizações, podem nos ajudar a errar menos o caminho, nos fazendo andar mais devagarzinho, porque quem tem pressa nas avenidas da vida pode ser que não chegue aos lugares aonde deseja chegar.
Melhor ainda é quando essas feridas deixam cicatrizes. Agora sem dor, temos em nós mesmos a lembrança de que somos maiores do que as chagas com que a vida pode nos presentear. Ficamos então com coragem. E, sem medo, seguimos em frente com um sorriso pousado nos lábios, com palavras mais leves emergindo do coração.

Então celebremos as nossas feridas, não com quem é masoquista, mas como aqueles que se tornou no melhor que pode ser.

quinta-feira, janeiro 07, 2016

O cansaço do que precisamos



Estou tentando escrever hoje, busco um tema... mas a inspiração parece brincar de pique-esconde... e eu confesso que não estou gostando dessa brincadeira nem um pouco.
E para atraí-la - a inspiração -, corro atrás dos meus pensamentos...
E me peguei pensando o quanto é ruim quando queremos muito algo e não conseguimos.
Como a chave do carro que perdemos bem na hora de irmos para o trabalho, e ainda por cima estamos atrasados;
Como aquele transporte perdido, frente ao desejo de ir tanto aquele lugar;
Como aquele dinheiro de que tanto precisamos para pagar as contas, mas que guardamos e não sabemos onde;
Como aquela conversa que ficou suspensa, mesmo sendo tão necessária;
Como aquele silêncio que era preciso manter, mas não conseguimos conter a língua;
Como aquele olhar que buscamos, mas que se perde do encontro;
Como aquela vontade de lutar, mas o cansaço não permite;
Como o desejo de abraçar, mas cruzamos os braços frente ao vazio de quem confiar;
Como aquele desejo de um colo pra nos aconchegarmos na dor, mas ele parece existir apenas nas canções de ninar;
Como aquela noite que gostaríamos que fosse abreviada para vermos o sol raiar, mas ela já se instalou em nossa história sem data de despedida;
Como aquele curso tão esperado que agora chegou, mas nos encontramos tão desanimados...
Como aquela pergunta que fizemos ao Sagrado, e cuja resposta parece ter ido para um outro endereço;
Ah... são tantas coisas... que até corremos o risco de desesperar...
Mas nesses momentos que chegam sem nenhuma educação de avisar,
O melhor é sentar sozinho,
Respirar...
 calmamente...
Repetir a respiração... 
calmamente... ...
...abrir a janela da casa para quem sabe assim abrir a da alma... ou ir a algum lugar aberto onde se possa sentir o vento...  e deixar o tempo correr sobre o que se espera.
Percebendo que em toda frustração que se apresenta, seja ela grande ou pequena, o tempo gasto é sempre tempo ganho.
E ao descobrir que sim, temos tempo, quem sabe a calma que tanto ansiamos nos envolva no mais terno abraço, dando o tão sonhado colo, à nossa alma cansada de escutar que ela não tem mais tempo.
Uai, parece que a inspiração chegou! J

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Significado de óbvio




1 Aquilo que é manifestamente evidente.
2 Que salta à vista.
3 Que não pode ser questionado ou discutido.
4 Que pode ser captado intuitivamente.
5 Não raro.
6 Que se conhece ou espera previamente.



Para mim, que lido com o humano, óbvio é aquilo que é visto só pelo outro e a gente jura que viu também;
é aquilo que todo mundo disse “Cuidado!”, mas afirmamos que sabemos o que fazer, e quando vimos... Epa, caímos!
É aquela certeza de que é esse o príncipe encantado, ainda que ele tenha caráter de “sapo” (coitado do animal, ainda bem que é só uma metáfora);
é aquela convicção que temos de que entendemos o que foi dito, e discutimos, mesmo sem compreender nadinha;
é aquela atitude que tomamos de forma precipitada, e depois nos assustamos com as consequências; 
é aquela amizade que você cultiva e dá tudo de você, mas depois descobre que a pessoa era apenas uma boa colega;
é aquele filho que você criou com todo amor achando que fazia por ele o melhor, e quando ele cresce diz: “Mãe, por que você não viu o que eu precisava?”... 
É aquela experiência desconcertante de ouvir o outro dizer “Mas eu te disse!”... 
É aquele que foi traído e foi o último a saber. 
É aquele que um beijo apaixonado recebeu, mas depois ouviu um “Adeus!”...
Talvez a definição do dicionário só sirva para os escritores brincarem de escrever, porque na vida... Óbvio, o que é mesmo? Acho que já me perdi...

É... eu tenho que concordar.











terça-feira, janeiro 05, 2016

A CASA

A casa onde não quero morar está cheia daquelas eternas murmurações que são capazes de corroer a alma e o corpo. Nela tem falta de café, pão com manteiga e papo leve.
A casa onde não quero morar nunca recebe a visita de amigos para uma conversa rasa ou profunda. Em suas paredes reside a ausência dos quadros coloridos.
A casa onde não quero morar tem no seu interior o vazio das boas palavras que incentivam e consolam a alma. E no seu telhado a goteira da ingratidão.
A casa onde não quero morar não tem árvores para que suas folhas não sujem o quintal. O verde dela se despiu, e nua se encontra com sua cor de concreto.
A casa onde não quero morar tem como turista a paciência. Não tem livros na estante, não tem flores, e nem cachorro pulando no varal para pegar as roupas.

A casa onde não quero morar não reside aqui em mim; como a lua, está distante, deixando meu coração feliz.


 

segunda-feira, janeiro 04, 2016

Disciplina, eita caminho duro!
Não tem jeito, início de ano não consigo fugir a avaliações. Olho para 2015 e vejo que o planejamento feito para esse ano foi cumprido parcialmente. Eu queria escrever e consegui, terminei o ano com meu primeiro livro pronto.
Porém, a parte chata de toda avaliação é o que eu não consegui fazer.
Em 2015 mais uma vez perdi para a balança, comecei a estudar inglês e não dei continuidade, visitei poucas pessoas. Se olho para minhas metas como pessoa, acho que avancei pouco no amor, na paciência, na misericórdia, comparado ao modelo que tenho: Jesus de Nazaré.
No balanço, o que mais me faltou foi a tal da disciplina, eita coisa difícil de conquistar...
Onde consegui praticá-la fui vitoriosa, terminei o ano realizando um sonho que trago desde a infância.
Onde não consegui ter a disciplina, perdi a oportunidade de ouvir histórias novas, rever gente amada, e acumulei roupas que não me vestem mais.
Aprendi que sem ela seria impossível realizar o sonho do livro, e sem ela é impossível vencer a balança e entender qualquer língua.
Então, que venha 2016, mas que eu vença o gigante da indisciplina.
E você? Qual é o gigante que terá que vencer?


TPM



Leandro Karnal diz que a inveja é um pecado envergonhado, todos o temos, mas confessá-lo? Jamais. O que eu concordo plenamente. Mas hoje vou confessar ao mundo virtual do que eu mais tenho inveja.
Eu morro de inveja das mulheres que não têm TPM!
Que não passam por aquela sensação de que o monstro do mau humor está solto dentro de si, que não ficam com o corpo numa sensibilidade que torna difícil até tomar banho, que não sentem aquele cansaço que parece ter sugado toda sua energia, roubando sua possibilidade de fazer o que querem e precisam, que não ficam com espinhas, que não têm crise de rinite, que não têm vontade de matar ninguém nesses dias... que não ficam inchadas, que não ganham peso.


Ainda bem que TPM passa e, até que o ciclo vire, eu me recuso a me lembrar dela!
http://www.espacomulherdf.com.br/2014/02/turbilhao-feminino.html

Como sugestão de vídeo, hoje quero deixar para vocês esse que me deixou pensativa acerca de um tema que sempre pensamos ser o pecado do outro. Clique sobre o título do link e reflita:


7 Pecados Capitais - A inveja e a tristeza sobre a felicidade alheia - Leandro Karnal