quarta-feira, maio 16, 2018

Perdoar é preciso VIII?


É quarta. Eu sigo nesta estrada do perdão, e espero que até junho em consiga concluir.

Perdoar é preciso VIII

Perdoar está para as relações humanas como o respirar está para o corpo.  Sem perdão, o cenário das relações não se sustenta.
Porém, como um órgão do corpo que adoece, comprometendo todo seu funcionamento, pessoas que sofreram traição na relação conjugal, e que decidiram permanecer casadas, contudo, com uma mágoa camuflada, passam a viver um verdadeiro câncer emocional.
 Ainda que haja a confissão antes de ser descoberta a traição, ainda que a rival tenha sido abandonada, por mais que agora, o outro, oferte todo tempo disponível para refazer a relação, e daí? O estrago feito no coração não encontra consolo no arrependimento do que traiu. E sua mágoa não confessada é vista ao fiscalizar quase que diariamente o celular, o facebook e e-mail do cônjuge. Num gesto de quem não consegue se conter, ao final do dia, revista as roupas em busca de algum cheiro, de alguma cor de batom, de algum cupom fiscal... Sempre que supõe algo diferente, revira as coisas pessoais do cônjuge para ver se encontra alguma coisa incomum. Em sua cabeça, faz a conta do tempo, repassa a rota que o outro diz ter feito, e verifica o estepe do carro ao ser informada (o) que o atraso ocorreu porque o pneu furou.
Ao negar para si e para o outro que esteja magoada, mantém a cama como se nada tivesse acontecido, contudo, ao menor toque, seu coração grita, seria assim com a (o) outra (o)?
Na tentativa de controlar o insopitável, fica presa na guarita de proteção à vigiar o outro. Seu coração, outrora em paz, agora vive a guerra “invisível” da desconfiança.
E a angústia não se despede, ela vai comparecendo na lábil emoção que insiste em cristalizar outra forma na relação. ‘Será que estava com a (o) outra (o)?' No perdão, a afronta é relembrada sem roubar a calma alegre da alma, mas, na mágoa camuflada, o lembrar é obsessão que não dá folga, a dizer que está viva a raiva.
Jesus Cristo disse que a existência do divórcio foi permitida por causa da dureza do coração. Ao fazer tal afirmação, fica claro que ele conhecia bem a natureza humana, e dela não esperava nem mais e nem menos do que tinha para oferecer.
Jesus sabia que assim como o menor movimento do magma altera o cenário da terra, o coração humano ao sofrer o movimento do magma da traição, ainda que uma única vez, este deslocaria as placas tectônicas da confiança, mudando para sempre a relação. Ele disse, o coração do homem é duro. Sim! É pedra, é rocha que se modifica na amargura ao perder sua capacidade de seguir em paz.
Quem dera o coração humano fosse da dureza de um diamante, e, mesmo sendo arranhado pelas lapidações da vida, não se quebrasse as pressões vividas. Mas, ele pode ser rocha a se desfazer na dor gerada por uma traição, fazendo com que a possibilidade do deserto se instale.
E ainda que a pessoa tente se manter como se tudo estivesse como antes, a mudança que se fez no íntimo murmura, ‘não dou conta’. É que ao sentir o calor extremo da raiva provocada e o frio extremo da confiança desfeita, prova do destempero do deserto que se fez. Perde-se o equilíbrio.
Agora, o chão é areia a tornar pesada os passos da relação, e a pessoa não é capaz de oferecer ao traidor arrependido o perdão ao provar da sua mágoa velada.
Se há filhos, eles são os primeiros a perceber que a casa antes construída em rocha firme, parece agora, castelo de areia construído na praia enquanto a maré está baixa. É que as crianças sentem, ainda que nada saibam, que algo mudou a estrutura da casa.
É preciso coragem para não negar a mágoa. É na confissão feita a si mesmo que o primeiro passo é dado para encontrar o caminho para tratar o coração que se fez com a traição. Sem este passo, nada mais se fará.
Contudo, este é só o primeiro passo. A viagem poderá ser longa... Mas não desista! Vale a pena caminhar para ver o cenário novo que poderá nascer de um coração que se deixou tratar.
Quem sabe haja lugar para regeneração?
Quem sabe o coração tratado encontre no novo cenário que se formou, belezas antes não vistas?
Seja como for, para a paz, nós fomos chamados.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
Contato 62 982385297






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo seu comentário