quarta-feira, maio 30, 2018

Perdoar é preciso?(x)


Hoje é quarta. Fim de viagem. Últimas considerações sobre o tema perdão.


Perdoar é uma viagem cujo item principal da bagagem é a sabedoria, talvez por isto, as pesquisas apontam que os idosos perdoam mais que os adultos, e estes mais que os adolescentes1, mostrando que a sabedoria adquirida ao longo do tempo vivido pode ajudar na arte de perdoar2. E seja homem ou mulher, não há diferença, todos enfrentam as mesmas dificuldades na estrada da vida quando é preciso viajar com o destino ao perdão3.
Esta viagem é uma escolha que na maioria das vezes não brotará de forma natural no coração. Entretanto, os viajantes que decidiram fazê-la nos garantem que da mesma maneira como aprendemos um caminho para chegar a um destino, o perdoar também se aprende. Eles também nos apontam certos itens que não podem faltar na bagagem daqueles que decidem empreender tal viagem. Eis aí quais são eles:
Primeiro, a calma. Vá para um lugar aberto, um parque, um jardim, o quintal da casa, a área social do condomínio e sente-se sob uma árvore. Deixe a sombra refrescar você, até que a raiva se abrande no coração. Se for preciso e houver grama, ande descalço por pelo menos 20 minutos. Mais calmo, tente pensar se a pessoa lhe machucou intencionalmente, se estava submetida a uma pressão interna ou externa que a tirou do controle, se tentou reparar a atitude que produziu mágoa. Pense sobre a história que viveram juntos, quantas vezes já teve que perdoar e também ser perdoado. No calor da ira, jamais converse com quem te machucou.
Segundo, aceitar a raiva. É importante a compreensão de que negar a raiva provocada por uma afronta só faz com que ela cresça. Experimentar sentimentos ruins é algo do universo humano, o qual tem que ser reconhecido por aquele que sente. Tão ruim quanto negar, é engolir. O estomago emocional não aguenta por muito tempo o mal-estar, e vomitará no corpo muitos sintomas, dentre eles, a ansiedade e a depressão.
Terceiro, a humildade. Se perceber que não consegue sozinho, dê a si mesmo a permissão para falar sobre o assunto com alguém imparcial e que confie, seja um amigo, um parente, o seu líder na igreja ou um psicoterapeuta. Ninguém é forte demais ou espiritualmente raquítico porque em um determinado momento da vida precisou de ajuda. Por vezes, árvores frondosas caem no meio da estrada, e só com ajuda podemos removê-las. Da mesma forma, todos os seres humanos passam por trechos complicados ao longo da vida, na qual buscar ajuda será o único jeito de seguir a viagem. É triste ver gente parada por não ter tal item na bagagem, a humildade.
Quarto, instrumentos de liberação da tensão. Certas atitudes podem trazer  alívio ao corpo e a alma, como por exemplo: ouvir uma história de perdão; ouvir uma música que gosta; ter uma caneta, um papel ou uma tela a punho para escrever ou pintar o que sente; os passos de uma dança a movimentar o corpo; bordar, fazer móveis, cantar, fazer exercícios físicos e tantas outras coisas...
Na verdade, qualquer hobby vai ajudar. E para quem não tem é urgente encontrar um passatempo que lhe produza relaxamento, pois é necessário diminuir o peso da tensão sentida para prosseguir nesta viagem rumo ao perdão.
Os viajantes que chegaram ao destino do perdão ensinam que a vingança é um item que não deve ser levado na bagagem. Dizem que “vingança é um prato que se come frio”, entretanto, ela é muito mais que isto, porque comida fria pode ser apetitosa ao paladar de alguém. Porém, a vingança é o fermento do ódio, a fazer crescer o aumento da pressão arterial, da ansiedade, da depressão, a todos, indistintamente que decidirem mantê-la. Gastar tempo em vingar uma pessoa que lhe produziu uma mágoa, é o pior investimento que pode ser dado ao tempo, uma vez que tempo é recurso que não se sabe o quanto se têm.  Cuidado, descarte este item enquanto é tempo, pois a vingança é sempre câncer a roubar da vida a alegria que se quer viver.
É possível perceber que a mágoa compromete a vida ao roubar sua alegria. A lógica é simples, uma pessoa magoada busca se isolar, e isolada pode deprimir-se, deprimida não desfruta das cores trazidas pelo arco íris, e o cinza, apenas o cinza, fica a viver. Enquanto, quem perdoa é livre dos pensamentos negativos, tem a ansiedade e a angústia atenuada evitando de partir o coração, tem auto estima na medida que dá a si mesmo o olhar com bondade e treina a tolerância - capacidade de suportar o que não gosta no outro, se tornando capaz de manter as relações. Afinal, quem é que não precisa ser tolerado?
Quem chegar ao destino do perdão saberá que as dores vividas ‘produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações...5
E o amor, tão forte quanto a morte6 é a força necessária para suprir aqueles que decidem  viajar rumo ao destino do perdão, nesta fascinante saga que é a vida.

 Roseli de Araújo
Psicóloga clínica

Bibliografia
 1Girard e Mullet, 1998a; Mullet et al. 1998a
 2 Baltes e Smith, 1990
3 Mullet et al. 1998a,
4. e.g. Hebl e Enright, 1993
5. Romanos 5.3-5

         

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Tema de difícil aceitação devido a dor causada pela decepção trazida por alguém em que se depositava confiança. Todavia, de extrema necessidade para se ter uma vida sentimental, espiritual e até física de modo saudável e alinhada com a vontade de Deus. Isto porquê, o que Ele faz por nós todo dia, é nos perdoar.

    Parabéns pelo excelente conteúdo!

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    1. Obrigado Alex pela visita ao blog. De fato, o amor de Deus é a força que nos mantém perdoando, e perdoar é provar do descanso na alma e no corpo.

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Obrigada pelo seu comentário