Hoje é quarta. Fim de viagem. Últimas considerações sobre o tema perdão.
Perdoar é uma viagem cujo item principal
da bagagem é a sabedoria, talvez por isto, as pesquisas apontam que os idosos
perdoam mais que os adultos, e estes mais que os adolescentes1,
mostrando que a sabedoria adquirida ao longo do tempo vivido pode ajudar na
arte de perdoar2. E seja homem ou mulher, não há diferença, todos
enfrentam as mesmas dificuldades na estrada da vida quando é preciso viajar com
o destino ao perdão3.
Esta viagem é uma escolha que na maioria
das vezes não brotará de forma natural no coração. Entretanto, os viajantes que
decidiram fazê-la nos garantem que da mesma maneira como aprendemos um caminho
para chegar a um destino, o perdoar também se aprende. Eles
também nos apontam certos itens que não podem faltar na bagagem daqueles que
decidem empreender tal viagem. Eis aí quais são eles:
Primeiro, a calma. Vá para um lugar
aberto, um parque, um jardim, o quintal da casa, a área social do condomínio e
sente-se sob uma árvore. Deixe a sombra refrescar você, até que a raiva se
abrande no coração. Se for preciso e houver grama, ande descalço por pelo menos
20 minutos. Mais calmo, tente pensar se a pessoa lhe machucou intencionalmente,
se estava submetida a uma pressão interna ou externa que a tirou do controle,
se tentou reparar a atitude que produziu mágoa. Pense sobre a história que
viveram juntos, quantas vezes já teve que perdoar e também ser perdoado. No
calor da ira, jamais converse com quem te machucou.
Segundo, aceitar a raiva. É importante a
compreensão de que negar a raiva provocada por uma afronta só faz com que ela
cresça. Experimentar sentimentos ruins é algo do universo humano, o qual tem
que ser reconhecido por aquele que sente. Tão ruim quanto negar, é engolir. O
estomago emocional não aguenta por muito tempo o mal-estar, e vomitará no corpo
muitos sintomas, dentre eles, a ansiedade e a depressão.
Terceiro, a humildade. Se perceber que não
consegue sozinho, dê a si mesmo a permissão para falar sobre o assunto com
alguém imparcial e que confie, seja um amigo, um parente, o seu líder na igreja
ou um psicoterapeuta. Ninguém é forte demais ou espiritualmente raquítico
porque em um determinado momento da vida precisou de ajuda. Por vezes, árvores
frondosas caem no meio da estrada, e só com ajuda podemos removê-las. Da mesma
forma, todos os seres humanos passam por trechos complicados ao longo da vida, na
qual buscar ajuda será o único jeito de seguir a viagem. É triste ver gente
parada por não ter tal item na bagagem, a humildade.
Quarto, instrumentos de liberação da
tensão. Certas atitudes podem trazer alívio ao corpo e a alma, como por exemplo: ouvir
uma história de perdão; ouvir uma música que gosta; ter uma caneta, um papel ou
uma tela a punho para escrever ou pintar o que sente; os passos de uma dança a
movimentar o corpo; bordar, fazer móveis, cantar, fazer exercícios físicos e
tantas outras coisas...
Na verdade, qualquer hobby vai ajudar. E
para quem não tem é urgente encontrar um passatempo que lhe produza relaxamento,
pois é necessário diminuir o peso da tensão sentida para prosseguir nesta
viagem rumo ao perdão.
Os viajantes que chegaram ao destino do
perdão ensinam que a vingança é um item que não deve ser levado na bagagem.
Dizem que “vingança é um prato que se come frio”, entretanto, ela é muito mais
que isto, porque comida fria pode ser apetitosa ao paladar de alguém. Porém, a
vingança é o fermento do ódio, a fazer crescer o aumento da pressão arterial,
da ansiedade, da depressão, a todos, indistintamente que decidirem mantê-la.
Gastar tempo em vingar uma pessoa que lhe produziu uma mágoa, é o pior
investimento que pode ser dado ao tempo, uma vez que tempo é recurso que não se
sabe o quanto se têm. Cuidado, descarte
este item enquanto é tempo, pois a vingança é sempre câncer a roubar da vida a
alegria que se quer viver.
É possível perceber que a mágoa compromete
a vida ao roubar sua alegria. A lógica é simples, uma pessoa magoada busca se
isolar, e isolada pode deprimir-se, deprimida não desfruta das cores trazidas
pelo arco íris, e o cinza, apenas o cinza, fica a viver. Enquanto, quem perdoa
é livre dos pensamentos negativos, tem a ansiedade e a angústia atenuada
evitando de partir o coração, tem auto estima na medida que dá a
si mesmo o olhar com bondade e treina a tolerância - capacidade de suportar o
que não gosta no outro, se tornando capaz de manter as relações. Afinal, quem é
que não precisa ser tolerado?
Quem chegar ao destino do perdão saberá
que as dores vividas ‘produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado;
e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus
derramou seu amor em nossos corações...5’
E o amor, tão forte quanto a morte6
é a força necessária para suprir aqueles que decidem viajar rumo ao destino do perdão, nesta
fascinante saga que é a vida.
Bibliografia
1Girard e Mullet, 1998a; Mullet et al. 1998a
2
Baltes e Smith, 1990
3 Mullet et al. 1998a,
4. e.g. Hebl e Enright, 1993
5. Romanos
5.3-5
•
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTema de difícil aceitação devido a dor causada pela decepção trazida por alguém em que se depositava confiança. Todavia, de extrema necessidade para se ter uma vida sentimental, espiritual e até física de modo saudável e alinhada com a vontade de Deus. Isto porquê, o que Ele faz por nós todo dia, é nos perdoar.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente conteúdo!
Obrigado Alex pela visita ao blog. De fato, o amor de Deus é a força que nos mantém perdoando, e perdoar é provar do descanso na alma e no corpo.
Excluir