sexta-feira, agosto 21, 2020

Série - Lendo Marcos para ver Jesus – Jesus aceita o bolo


Jesus, em um momento transcendental maravilhoso, onde ouve Deus, o Pai, lhe falar do seu prazer em se relacionar com Ele, é levado para um lugar de difícil habitação, o deserto. Lá, fica por 40 dias em jejum, cercado de animais selvagens, e no término destes dias, ainda recebe a inoportuna visita do inimigo, que lhe apronta ciladas para o ver cair1.

E Jesus transita entre a experiência do sagrado e a do deserto sem se perturbar. Do momento maravilhoso para o desagradável, os evangelhos não têm registros de nenhuma palavra, tais como: “eu sou cara” ou “ nossa o que eu fiz para merecer isto”. Considerando que eram situações peculiares e capazes de provocar muita euforia ou desespero, a impressão que fica é que Jesus passou por elas com um equilíbrio emocional, não comum aos seres humanos.

Se eu estivesse em seu lugar seguramente ficaria confusa em passar pela experiência maravilhosa de receber o Espírito Santo, ouvir Deus Pai e logo após ser levada para uma experiência de sofrimento, em um lugar difícil e com o inimigo aprontando situações para que eu viesse a cair.

Por isto, vendo Jesus, perguntas brotam, o que o fez não se ensoberbecer? Quem falava com Ele era o Deus Pai, e suas palavras foram sobre a alegria que sentia por Ele. Nós, se vivermos uma experiência bem menos relevante do que esta, com certeza vamos pensar, ‘eu sou o cara’! Se percebermos que agradamos, passamos a crer que o mundo ganha em nos ter. Sabemos que a humildade não é decoração natural nos seres humanos. Para adquiri-la é sempre muito anos de jornada e muitas quebras da alma.

Por outro lado, o que o fez não reclamar do deserto, dos animais, do inimigo? O que o fez não se apavorar com o sofrimento? Sendo este sempre o lugar das perguntas complexas sobre a existência, para o ser humano.

 Diante do não compreendido, esbravejamos; Somos dominados pela ansiedade diante da falta de controle do futuro; Não aceitamos colheitas de frutos ruins quando temos certeza de não termos semeado.

Não sei você, mas eu não quero ser levada para o deserto e nem para a presença de inimigos. Amo a vida e espero que ela seja um bolo pronto onde eu possa desfrutar apenas o chantilly, o açúcar de confeiteiro, o recheio de chocolate. Nada de bater a massa. Ser batido dói.

Porém,Jesus aceita o bolo da vida, completo. Vive o momento do êxtase tanto quanto o momento do deserto. Aceita com alegria, sem pretensão, ser reconhecido, e, também aceita ser batido e passado pelo calor do fogo, sem murmuração.

Estas experiências acorrem com Ele antes de escolher seu time de trabalho, os doze discípulos. Elas nos falam que Jesus está pronto para começar sua jornada pública. Ele vai viver momentos de glória, onde vai curar, libertar e ser aclamado pelo povo. Contudo, vai enfrentar a dureza dos corações, a incredulidade. Não lhe faltará inimigos, será perseguido e traído.

Olhando-o de perto, desejo muito aprender com Jesus aceitar o bolo da vida completo, pois ele é massa feita de risos e lágrimas.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

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