sexta-feira, março 31, 2023

 Da cozinha da minha casa, avisto o canteiro ainda sem semente a germinar, e ele, me parece cova, a lembrar o fim da jornada.

A terra que o compõe, por um instante me parece impassível e orgulhosa, a me contar que é chão para os que caminham e fundamento para casas que se levantam, que é vaso para todas as plantas, abrigo para os animais, fronteiras para as águas dos rios e mares, sustento para o trabalho que alimenta a vida.

Fico maravilhada e desnorteada ao mesmo tempo, diante da potente terra.

Sei que ela, suga o suor do meu rosto e me anuncia seu triunfo, quando se desfizer do meu corpo.

Confesso que por alguns instantes, o silêncio da esperança assombra, até que a Vida a mim sussurra, ‘o meu corpo se tornará sustento, fundamento, beleza e limite, servindo a gerações futuras’.

E naquele dia quando meu redentor me fizer ressuscitar, verei que a esmagadora morte, apenas e tão somente, foi instrumento, a servir a todos os seus propósitos, nesta vida que, hoje, me pareceu tão frágil. 

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo seu comentário